Economia Brasileira no Império: Destaques Regionais

Fazenda Santa Bárbara, em São Paulo, em 1880.
Fazenda Santa Bárbara, em São Paulo, em 1880. Imagem de domínio público.

De 1822 até 1889, o Brasil vivenciou o Período Imperial, no qual o país foi governado pelos imperadores Dom Pedro I e Dom Pedro II, ou por regentes que assumiram o poder na transição entre esses monarcas. Nessa época, a economia brasileira baseava-se na agropecuária e assim permaneceu. Entretanto, viu-se uma mudança no rol de principais produtos produzidos e exportados pelo Brasil:

  • O açúcar, o algodão e o fumo eram produtos importantes, mas perderiam relevância junto com a economia da Região Nordeste.
  • O café da Região Sudeste passou a ter importância cada vez maior, tendo sido introduzido na província do Rio de Janeiro, e depois passando a ser cultivado nas províncias de São Paulo e de Minas Gerais.
  • A borracha teve um ciclo de grande importância a partir dos anos 1840-1850, vinda das províncias do Pará e da Amazônia. De fato, quase toda a demanda mundial por borracha era atendida por essa produção.

À medida que o Período Imperial chegava ao seu fim, o grande destaque econômico do Brasil era a produção do café. Contudo, a economia brasileira era relativamente diversificada, porque havia atividades típicas em cada região:

  • Na Região Nordeste, o plantio de cana-de-açúcar, cacau, fumo e algodão, além da pecuária.
  • Na Região Sudeste, o café, a mineração e a produção industrial de gêneros alimentícios e de têxteis.
  • Na Região Norte, a exploração de especiarias e da borracha na Amazônia.
  • Na Região Centro-Oeste, a pecuária e a mineração.
  • Na Região Sul, a agropecuária para consumo no próprio Brasil.

A economia nordestina

No Nordeste, o açúcar tinha destaque desde o período colonial, e ele continuou a ser o produto mais importante. Isso ocorria porque a região contava com condições geográficas bastante favoráveis ao plantio de cana-de-açúcar: o solo massapê no litoral e um clima ensolarado e úmido o suficiente. A economia canavieira dependia de significativos investimentos estrangeiros, visto que a construção de engenhos de açúcar era bastante custosa. Com isso, muitas vezes, o Nordeste viu-se afetado por momentos em que havia pouco crédito disponível no mercado financeiro. Outro problema era a concorrência com o açúcar produzido pelos holandeses nas Antilhas (no Caribe) e com o açúcar de beterraba produzido na Europa, em especial durante a Era Napoleônica.

Em geral, o trabalho na produção de açúcar era feito por escravos, em latifúndios monocultores. Além de trabalharem nos canaviais e engenhos, eles cuidavam da própria alimentação, por meio da agricultura de subsistência. Isso beneficiava os escravizadores, pois reduzia os custos de manutenção da mão de obra. Por outro lado, as atividades complementares à economia açucareira eram feitas, em parte, por trabalhadores livres ou libertos. Um exemplo desse tipo de atividade era a confecção dos sacos para armazenar a produção. Para Gilberto Freyre, esses ofícios são a justificativa para considerar que havia uma “civilização do açúcar” no Nordeste, a qual excedia o plantio e a preparação da cana propriamente dita.

A economia nordestina, todavia, não se resumia à produção de açúcar. Na verdade, como argumentado por Celso Furtado, o “complexo econômico nordestino” caracterizava-se por uma multiplicidade de atividades econômicas, com diferenciações regionais. No entorno de Ilhéus, produzia-se cacau. No Recôncavo Baiano, produzia-se fumo em pequenas propriedades, com pouca utilização de escravos. No Maranhão, produzia-se algodão em pequenas propriedades, geralmente com trabalho familiar ou livre — um plantio que se expandia e se contraía de acordo com as oscilações da demanda internacional. Por fim, em todo o interior nordestino, havia a pecuária como uma “projeção da economia açucareira”, nas palavras de Celso Furtado, pois provia alimentos e transporte para a região. Em via de regra, os vaqueiros pertenciam à mesma família ou eram homens livres, que recebiam parte dos lucros da empreitada. Graças à atuação deles, o Rio São Francisco foi apelidado de “rio dos currais”.

O café no Sudeste

O café já era plantado no Pará desde 1727, a partir de mudas que haviam sido obtidas na Guiana Francesa. No entanto, só no século XIX emergiria uma economia cafeeira, voltada para a exportação. De acordo com Boris Fausto, como o plantio do café exige cerca de 4 anos para dar retornos, essa economia foi inicialmente financiada pelo capital advindo da expansão comercial no período joanino.

Durante todo o período do Império, a produção do café foi rudimentar. Tratava-se de uma produção extensiva em terras, porque ocorria em latifúndios mantidos à base da força por seus proprietários. Usavam-se instrumentos básicos. Plantava-se de forma desalinhada, intercalando as mudas de café com mudas de outros gêneros. Ademais, não havia cuidado na alocação de mão de obra, porque cada escravo cuidava de muitas mudas de café. Por fim, dada a inexistência de estrutura bancária adequada no Brasil, a economia cafeeira era intermediada pelos “comissários do café” — responsáveis por financiar a produção, abastecer os produtores, e fazer o vínculo entre o Brasil e o mercado internacional.

Todavia, havia diferenças cruciais entre as duas principais zonas produtoras de café: o Vale do Paraíba (RJ) e o Oeste Paulista (SP). O Vale do Paraíba foi uma região de ocupação inicial, controlada pelos “barões do café” — senhores que não tinham poder político, mas logo o ganharam. Nessa área, empregava-se a mão de obra escrava, a terra não era fértil, as técnicas de plantio espelhavam o que já se fazia com a cana-de-açúcar, e o transporte do café produzido era feito por mulas. O Oeste Paulista, por sua vez, era uma região de ocupação posterior, sobretudo a partir de 1840, e era controlado pelos “empresários do café” — que tinham uma mentalidade mais ‘industrial’. Nessa segunda área, empregavam-se tanto escravos quanto imigrantes, o solo era mais fértil (terra roxa), as técnicas de plantio eram mais modernas e o transporte do café seria feito por ferrovias.

Em razão dessas distinções estruturais, a produção paulista podia ser até duas vezes mais produtiva do que a fluminense. Isso fez com que a economia brasileira fosse deslocada para o Centro-Sul — em especial, para o ‘Novo’ Oeste Paulista, localizado ao redor da cidade de Ribeirão Preto, que ganhava opulência e poder.

Durante o Período Imperial, o café tinha profundo impacto sobre todas as variáveis do PIB brasileiro. Ao analisar o PIB pela ótica da demanda, podem-se avaliar os seguintes efeitos do café na economia brasileira:

  • O café passou a ser o carro-chefe das exportações, porque o mercado doméstico brasileiro não conseguiria absorver a produção doméstica. Em geral, o café brasileiro era destinado aos Estados Unidos e aos países europeus — exceto a Inglaterra, que preferia o consumo de chá.
  • A moeda estrangeira adquirida pela exportação do café era crucial para sustentar o nível de importações doméstico.
  •  Os gastos do governo dependiam de impostos — particularmente os da alfândega, que vinham, direta ou indiretamente, do café.
  • Para investir e consumir, precisava-se de dinheiro. Em uma economia rural e não bancária, ele também vinha do café.

O mercado cafeeiro corresponde a um mercado em concorrência perfeita, no qual o produto tem baixa elasticidade-preço da demanda (as pessoas não aumentam tanto o consumo de café caso o preço dele diminua) e baixa elasticidade-renda da demanda baixa (as pessoas não aumentam tanto o consumo de café caso a renda delas aumente). Essa situação gerava dois problemas para o Brasil. Por um lado, havia uma tendência de o lucro cafeeiro no longo prazo ser igual a zero. Por outro lado, em um momento de crescimento econômico mundial, as exportações brasileiras não aumentariam tanto assim.

A transição produtiva em Minas Gerais

Historicamente, a província de Minas Gerais estava associada com a mineração de ouro e diamantes. Ela tornou-se a província mais populosa na sequência da corrida pelo ouro de aluvião — um ouro de fácil extração, uma vez que se encontra depositado nas margens e nos leitos dos rios. Contudo, durante o Império, essas reservas auríferas já se haviam esgotado, e, consequentemente, a mineração passou a ser feita em reservas subterrâneas. Para acessá-las, era necessária maior tecnologia, e isso fez com que empresas estrangeiras tomassem a dianteira no processo de exploração dos metais e minerais brasileiros.

A produção aurífera chegou a corresponder a 10% das exportações do Brasil, e a produção diamantina também era significativa. Por exemplo, durante o Primeiro Reinado, graças ao aperfeiçoamento da extração de diamantes, o Arraial do Tijuco (atual Diamantina) foi elevado à condição de cidade, em março de 1831.

À medida que a extração dos metais e minerais se tornava mais difícil, a província de Minas Gerais diversificava as suas atividades econômicas. Com o tempo, surgiram algumas manufaturas de transformação agrícola e de confecção de têxteis, as quais trouxeram bastante progresso econômico. Essa crescente riqueza faria com que os mineiros defendessem, cada vez mais, a sua autonomia provincial — o que desembocaria na posterior criação do Partido Republicano Mineiro (PRM), em defesa de uma autonomia em bases federalistas.

As drogas do sertão e a borracha na Amazônia

Na Amazônia, prevalecia o extrativismo das chamadas ‘drogas do sertão’. Tratava-se de especiarias nativas da floresta, como a castanha-do-pará, o guaraná, e a salsa. Desde o período colonial, elas eram vistas como uma alternativa aos produtos asiáticos, e sempre foram valorizadas pelo mercado internacional.

Especificamente durante o Segundo Reinado brasileiro, a ‘droga’ mais procurada na Amazônia passou a ser o látex. Naquele contexto de Segunda Revolução Industrial, o químico estadunidense Charles Goodyear havia inventado a vulcanização — um processo químico que modifica as características naturais do látex, permitindo que ele se torne uma borracha com altíssima resistência. Isso estimulou a demanda por borracha, por exemplo, na construção de pneus.

No Brasil, logo proliferou um modo de exploração da borracha a partir do trabalho teoricamente livre: o sistema de aviamento. Esse sistema era composto por dois grupos de pessoas: seringueiros e seringalistas. Em via de regra, os seringueiros eram nordestinos (sobretudo cearenses) que migraram para a Amazônia devido às secas de 1877-1880. Eles extraíam a borracha e a vendiam para os seringalistas, em troca de mantimentos. Como os seringalistas eram os únicos que compravam a borracha e vendiam os mantimentos, eles exerciam uma relação de dominação com relação aos seringueiros.

Segundo Boris Fausto, a economia da borracha deu origem a um “sonho transitório de riqueza”. Houve o desenvolvimento de cidades e de serviços urbanos no Norte do Brasil, em especial nas cidades de Manaus e Belém, cujas populações cresceram bastante. Além disso, o governo do Amazonas viu multiplicar a sua arrecadação fiscal, visto que o imposto que recaía sobre a exportação da borracha era de natureza provincial. Entretanto, o caráter “transitório” do “ciclo da borracha” deve-se ao surgimento posterior de plantações de seringueiras na Ásia, as quais adotavam uma produção bem mais produtiva. A partir da década de 1910, a economia da borracha brasileira entraria em declínio.

A pecuária e a mineração no Centro-Oeste

Desde o Período Colonial, havia dois fortes incentivos econômicos para que a população se interiorizasse rumo ao Centro-Oeste: a pecuária e a mineração. A pecuária era proibida na faixa do litoral, como medida para preservar os férteis solos massapê (no Nordeste) e de terra roxa (no Sudeste e no Sul). A mineração, por sua vez, tornava-se cada vez mais atrativa no Planalto Central, à medida que o ouro fácil em Minas Gerais acabava. Ambas essas atividades persistiram no Centro-Oeste durante o Período Imperial, embora elas fossem dificultadas pelas crises de abastecimento e pelos ataques perpetrados por indígenas.

Para o governo brasileiro, era interessante estimular a urbanização do Centro-Oeste como forma de garantir as fronteiras nacionais tal qual estavam.

A agropecuária no Sul

A Região Sul tinha uma particularidade que a diferenciava das demais: o fato de ter recebido antigas ondas de migrantes europeus não-ibéricos — ou seja, que não advinham nem de Portugal nem da Espanha. Segundo Boris Fausto, esses estrangeiros dividiram-se, ao longo do tempo, em dois grupos:

  • Os pequenos proprietários fundaram colônias em cidades como Blumenau (RS), Joinville (SC) e São Leopoldo (RS), por exemplo.
  • Os grandes proprietários ocupavam grandes propriedades na Campanha gaúcha, perto da fronteira do Brasil com o Uruguai. Eles exportavam o charque bovino para as demais províncias brasileiras.

O que unia ambas as categorias de agricultores era o fato de eles produzirem gêneros alimentícios para o mercado interno.

Conclusão

A análise das diferentes regiões do Brasil durante o Império revela que cada região contribuía de maneira única para o mosaico econômico nacional. Nesse período, a economia brasileira foi fortemente condicionada por fatores geográficos, sociais e políticos, os quais deram origem a uma diversidade de atividades produtivas. Essa diversidade não apenas refletia as diferentes realidades que coexistiam no país, mas também as oscilações do mercado internacional, as transformações do mercado interno, e a evolução tecnológica.


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