Revoluções Industriais: Resumo, Causas, Consequências & Invenções

Uma pintura a óleo do século XIX de uma máquina de fiar algodão, destacando seu design intrincado e partes mecânicas. A cena se passa em um ambiente industrial rústico e bem iluminado, possivelmente uma fábrica da era da Revolução Industrial, com vigas de madeira e paredes de tijolo. A pintura captura trabalhadores operando a máquina. A obra de arte enfatiza as texturas dos materiais, da suavidade do algodão à dureza das partes metálicas, e a iluminação é quente para realçar a atmosfera histórica geral.
Uma máquina de fiar algodão do século XIX, que permitiu enormes aumentos de produtividade na indústria têxtil. © CS Media.

As Revoluções Industriais foram uma série de processos que começaram no século XIX e que transformaram a produção manufaturada (feita à mão) em produção maquinofaturada (feita por máquinas). De acordo com o historiador Eric Hobsbawm, elas retiraram as algemas do “poder produtivo das sociedades humanas” porque, a partir de então, a economia global seria capaz de alcançar crescimento rápido e constante. Historicamente, elas são geralmente divididas em duas fases, ou dois eventos separados: a Primeira Revolução Industrial e a Segunda Revolução Industrial. Mais recentemente, alguns autores adotaram os conceitos de Terceira e Quarta Revoluções Industriais, referindo-se a avanços digitais e a atividades econômicas sem intervenção humana, respectivamente. A industrialização do mundo começou na Grã-Bretanha e logo se espalhou para a Europa, América do Norte e outros países. Tem sido uma característica definidora da humanidade desde então.

Resumo

  • A Revolução Industrial foi causada pelo crescimento populacional (que aumentou tanto a força de trabalho quanto o mercado consumidor), a expansão do capitalismo e a acumulação de capital possibilitada pelo colonialismo.
  • A Grã-Bretanha foi a pioneira da Revolução Industrial, porque tinha várias vantagens comparativas — como colônias, capital, trabalhadores qualificados e um mercado de massa em expansão.
  • A Primeira Revolução Industrial começou no setor têxtil, com avanços que aumentaram a produtividade da produção de roupas de algodão. Depois, espalhou-se para a metalurgia (ferro), transporte (ferrovias e barcos a vapor) e comunicações (telégrafo). Alguns trabalhadores insatisfeitos se revoltaram contra a mecanização do trabalho, sem muito sucesso.
  • A Segunda Revolução Industrial foi caracterizada pelo uso de aço, eletricidade, petróleo, automóveis, aviões e o telégrafo sem fio. Pela primeira vez, máquinas foram construídas para controlar outras máquinas. Além disso, surgiram novas formas de organização capitalista, e novos países começaram seu caminho em direção à industrialização avançada.
  • As Revoluções Industriais contribuíram para diminuir a população rural e aumentar a população urbana, que foram submetidas a condições de vida igualmente ruins. Embora a desigualdade tenha piorado, os trabalhadores foram capazes de se beneficiar de sua concentração em centros urbanos para se sindicalizar e tentar melhorar sua situação. Finalmente, a disseminação da industrialização para outros países aumentou a concorrência internacional, diminuindo preços e salários dos trabalhadores.

Causas da Revolução Industrial e o Papel Pioneiro da Grã-Bretanha

No contexto do século XIX, houve uma confluência de fatores que ajudou a inaugurar uma era de industrialização crescente. Os principais fatores envolvidos foram:

  • Crescimento populacional: Graças a avanços médicos, como a disseminação de vacinas e antissépticos, e a melhorias agrícolas, como o uso do semeador mecânico e melhores métodos de arado, a população da Europa cresceu. Isso significou uma força de trabalho maior e uma demanda aumentada por bens.
  • A expansão do capitalismo: O crescimento das economias capitalistas, nas quais indivíduos possuíam os meios de produção e competiam por lucro, impulsionou a criação de novos negócios. Além disso, políticas de livre comércio encorajaram o desenvolvimento de novas atividades produtivas em vários países.
  • Colonialismo: Lucrando com empreendimentos coloniais, os europeus tinham dinheiro de sobra e havia uma classe de capitalistas em busca de oportunidades para investir seu dinheiro. Eles foram os principais instigadores do crescimento industrial.

Já no século XVIII, houve uma breve expansão industrial em certos cantos do globo. No entanto, segundo Eric Hobsbawm, para que uma Revolução Industrial acontecesse, duas coisas eram necessárias: “primeiro, uma indústria que já oferecia recompensas excepcionais para o fabricante que pudesse expandir sua produção rapidamente, se necessário, por inovações razoavelmente baratas e simples, e segundo, um mercado mundial em grande parte monopolizado por uma única nação produtora”.

A Grã-Bretanha foi a pioneira da Revolução Industrial, pois encontrou uma indústria com grandes lucros (o setor têxtil) e monopolizou o mercado mundial. Esses foram os fatores que ajudaram os britânicos a alcançar a dominação industrial antes de qualquer outra sociedade:

  • Desde as Revoluções Inglesas no século XVII, particularmente a Revolução Gloriosa (1688-1689), o estabelecimento político britânico adotou a ideia de que o Estado tinha que defender os direitos individuais e a propriedade privada.
  • O Império Britânico tinha mais colônias e era uma potência hegemônica, após derrotar os franceses na Guerra dos Sete Anos (1756-1763). Este Império era forte o suficiente para controlar os mercados globais.
  • Os britânicos acumularam capital ao longo dos séculos anteriores, por meio dos Atos de Navegação (restringindo o transporte de produtos britânicos a navios britânicos, principalmente) e de tratados desiguais. Segundo o Tratado de Methuen, por exemplo, os portugueses trocariam vinhos por têxteis britânicos — o que gerou significativos superávits comerciais para os britânicos.
  • A nobreza britânica estava gradualmente se transformando em uma aristocracia baseada na riqueza, em vez de uma mera aristocracia hereditária. Os lucros dos nobres eram geralmente reinvestidos em empreendimentos produtivos, como projetos de infraestrutura.
  • A economia agrária que caracterizava a Grã-Bretanha até meados do século XVIII havia sido progressivamente eliminada. Os Atos de Cercamento (Enclosure Acts) (1760-1830) transformaram terras de posse comum em grandes extensões cercadas que eram de propriedade privada e exploradas comercialmente. A partir de então, os trabalhadores rurais perderam acesso à terra e foram incentivados a procurar trabalho em fábricas urbanas.
  • Os huguenotes franceses fizeram contribuições importantes para a indústria britânica, por exemplo, no setor de luxo. Eram cidadãos franceses que gozavam de liberdade religiosa até a revogação do Édito de Nantes pelo Rei Luís XIV, em 1685. Diante da perseguição religiosa subsequente às minorias protestantes, esses homens e mulheres emigraram para a Grã-Bretanha.
  • A sociedade britânica era pouco desigual, o que permitiu a formação de um mercado de massa para bens industriais (em vez de um pequeno mercado de luxo voltado para servir as elites do país).
  • A Grã-Bretanha tinha um clima úmido e recursos naturais abundantes, o que facilitou o cultivo ou a extração de insumos de produção.

Primeira Revolução Industrial: Invenções & Impactos

A primeira indústria a ser revolucionada no século XIX foi a indústria têxtil, baseada em grande parte em produtos de algodão. Historicamente, este setor teve suas raízes no comércio triangular ultramarino britânico, que funcionava da seguinte maneira:

  • A Grã-Bretanha importava algodão bruto das Índias, através da Companhia das Índias Orientais — uma firma estatal que ganhou controle de vários territórios e até tinha suas próprias forças armadas para defender seus interesses.
  • Então, a Grã-Bretanha transformava esse algodão bruto em têxteis e os exportava para suas colônias na Ásia e América do Norte.
  • Finalmente, a Grã-Bretanha investia os lucros desse comércio na compra de escravos para as próprias colônias, onde trabalhariam no cultivo do algodão.

Como o negócio do algodão era baseado no comércio exterior, seu potencial era ilimitado — afinal, o mercado de roupas era universal e as taxas de lucro do trabalho escravo eram fantásticas. Esse status quo fomentou a mecanização da produção têxtil e seu comércio, setores que eventualmente dominariam a economia britânica. Até o cultivo de algodão na Grã-Bretanha foi incentivado, para contornar quaisquer interrupções no fluxo do comércio internacional.

Uma série de inovações técnicas revolucionou a produção de roupas: a máquina de fiar, o quadro hidráulico, o tear mecânico e o descaroçador de algodão, por exemplo, foram inventados nessa época. Estas máquinas aumentaram significativamente o rendimento do algodão, enquanto simultaneamente abordavam um desafio crítico no setor têxtil — a escassez de tecelões. A demanda por produtos de algodão estava em alta, mas o número de tecelões qualificados não conseguia acompanhar. Além disso, como essas máquinas eram enormes, não podiam ser instaladas na casa de um trabalhador. Como resultado, criou-se um sistema de ‘fábrica mecanizada’, no qual os trabalhadores se reuniam em um único lugar onde seus equipamentos estavam localizados e podiam ser controlados por gerentes.

Nas décadas de 1830 e 1840, contudo, surgiram alguns problemas no setor algodoeiro: tanto suas taxas de crescimento quanto suas taxas de lucro estavam diminuindo. Isso se devia, em parte, à tendência do capitalismo de trabalhar em ondas de expansão e contração, e à competição internacional mais intensa no negócio de roupas. Assim, alguns proletários e parte da pequena burguesia ficaram insatisfeitos com sua condição econômica na época e reagiram contra sua situação de várias formas:

  • A formação de movimentos de massa em favor de ideais democráticos ou republicanos, como a Democracia Jacksoniana nos Estados Unidos.
  • Cartismo: O ato de assinar petições aos parlamentos nacionais exigindo reformas políticas em benefício dos trabalhadores urbanos, como a instituição do sufrágio universal, votação secreta e representação proporcional.
  • Ludismo: O ato de destruir certos tipos de maquinário economizador que substituía o trabalho qualificado, aumentando assim as taxas de desemprego.

Tanto na Europa quanto na América do Norte, governos e empresas não estavam dispostos a ceder aos desejos de trabalhadores e pequenos produtores e comerciantes. Medidas repressivas se seguiram, como o Frame Breaking Act de 1812, na Grã-Bretanha, que estabeleceu penas mais duras para a quebra de maquinário.

Entretanto, a Primeira Revolução Industrial continuou e mudou não apenas a indústria têxtil, mas também vários outros setores:

  • Com a invenção da máquina a vapor, a tração animal foi superada como meio de geração de energia. A princípio, esse dispositivo foi usado para bombear água das minas de carvão britânicas. Depois, James Watt aperfeiçoou-a, de modo que pudesse ter múltiplos usos. Por exemplo, na indústria algodoeira, a máquina a vapor permitiu a produção contínua ao fornecer uma fonte de energia confiável, não afetada por condições climáticas adversas. Isso significava que as fábricas podiam operar consistentemente, garantindo níveis de produção estáveis.
  • A construção de máquinas a vapor catalisou avanços na metalurgia, pois o maquinário pesado necessitava de materiais mais fortes. Por exemplo, a produção de ferro tornou-se mais eficiente, levando a melhorias em sua resistência e durabilidade.
  • Os avanços na metalurgia facilitaram melhorias na logística e no transporte. Ferrovias e barcos a vapor foram os meios de transporte quintessenciais durante a Primeira Revolução Industrial. Eles utilizaram ao máximo os destaques do período ao mesmo tempo: máquinas a vapor, ferro e carvão. Segundo Eric Hobsbawm, o maciço investimento em ferrovias foi uma consequência da acumulação de capital da Grã-Bretanha e da escassez de melhores oportunidades de investimento — afinal, em suas palavras, a maioria das ferrovias “produzia lucros bastante modestos e muitas nenhum lucro”.
  • Em termos de tecnologias de comunicação, o telégrafo foi inventado a partir de três sistemas diferentes — dos alemães, dos americanos e dos britânicos.
  • Em termos de agricultura, os países europeus começaram a cultivar beterraba açucareira e a implantar produtos químicos em suas plantações.

Segunda Revolução Industrial: Invenções & Impactos

A partir de 1860, começou uma nova fase da Revolução Industrial, ou, segundo certos autores, uma revolução completamente diferente. A Segunda Revolução Industrial diferiu da Primeira por alguns desenvolvimentos:

  • O ferro foi substituído pelo aço: Graças a inovações na metalurgia, o aço surgiu como uma liga de ferro e carbono com melhor resistência e dureza. Seu uso como material metálico básico logo proliferou.
  • A energia mecânica foi substituída pela energia elétrica e pelo petróleo: Com a invenção do dínamo, tornou-se possível converter tração mecânica em eletricidade. Enquanto isso, a invenção do motor de combustão interna transformou o petróleo e o gás natural em principais fontes de energia.
  • Ferrovias foram substituídas por carros, ônibus, caminhões (e aviões): Com a adoção generalizada do petróleo, o público em geral pôde andar em veículos movidos a óleo, como o Ford Modelo T, idealizado por Henry Ford em 1908. Além disso, a aviação militar e comercial emergiu como uma indústria nascente.
  • O telégrafo foi substituído pelo telégrafo sem fio: A transmissão de mensagens de texto por ondas de rádio abriu caminho para a invenção do rádio, do telefone sem fio e da televisão.
Esta é uma ilustração em preto e branco de um Ford Modelo T de 1908. O veículo é retratado de lado, exibindo seu design distintivo do início do século XX com uma postura alta e ereta e grandes rodas raiadas. Ele tem uma capota conversível que está abaixada, um assento simples, tipo banco, para passageiros e não possui portas. O volante é proeminente no lado direito do carro, e há um sortimento de alavancas e pedais visíveis para o motorista. O motor está posicionado sob um capô elevado na frente do carro. Abaixo da ilustração, há um slogan que diz, ‘Ford - qualidade de alto preço em um carro de baixo preço.’
O Ford Modelo T, um dos carros mais icônicos da história, em um anúncio na revista “Life”, em 1908. Imagem de domínio público.

Uma das marcas da Segunda Revolução Industrial foi a construção de máquinas para controlar outras máquinas. Isso não só automatizou fábricas, mas também possibilitou a consolidação de um sistema de produção em massa — por exemplo, plantas de montagem de automóveis extremamente eficientes nos Estados Unidos.

Enquanto isso, novas formas de organização capitalista apareceram. As indústrias passaram a estar vinculadas ao setor bancário, com bancos e companhias de seguros desempenhando um papel importante no crescimento industrial. Além disso, as indústrias começaram a ser propriedade não necessariamente de seus gerentes, mas de acionistas. Estes últimos criaram trusts, cartéis, fusões de empresas e holdings para reduzir custos de produção, maximizar participação de mercado e lucros, e evitar a regulamentação.

Devido à Segunda Revolução Industrial, vários países começaram a experimentar mais intensamente os benefícios da industrialização. Por exemplo, a produção fabril estava em ascensão na Alemanha e Itália recém-unificadas, bem como nos países da Europa Oriental e no Japão. Um caso em ponto foi a Rússia sob a liderança do Ministro Sergei Witte, que pessoalmente liderou esforços para melhorar a infraestrutura do país — e teve considerável sucesso ao fazê-lo.

Consequências Sociais das Revoluções Industriais

O desenvolvimento da indústria trouxe grandes mudanças para as sociedades e economias ao redor do mundo, particularmente na Europa Ocidental.

À medida que a população da Europa crescia, o mesmo acontecia com seu consumo de alimentos. Todavia, isso ocorreu em paralelo com uma diminuição da população rural, devido a razões sociais e tecnológicas. Os Atos de Cercamento na Grã-Bretanha liquidaram práticas de cultivo medievais, a agricultura de subsistência e “atitudes comerciais antiquadas em relação à terra” (como disse Eric Hobsbawm). Houve tentativas de frustrar a introdução de uma mentalidade capitalista na agricultura, como o sistema Speenhamland (medidas para prover alívio aos pobres rurais) e as Leis do Milho (protecionismo agrícola), mas todas falharam.

Enfrentando um ambiente hostil no campo, massas rurais migraram em massa para áreas urbanas, onde se juntaram à força de trabalho industrial. Eles se acostumaram ao ritmo do trabalho fabril por meio de regulamentos rigorosos e condições de vida severas. Por exemplo, mulheres e crianças eram frequentemente empregadas em trabalhos extenuantes, pois eram mal pagas em comparação aos homens.

Além disso, as Revoluções Industriais levaram a uma piora na desigualdade social. Embora seja verdade que o bem-estar do proletariado aumentou substancialmente, a vida dos trabalhadores urbanos estava longe dos confortos desfrutados pela burguesia. Rendimentos desiguais prevaleceram e muitos trabalhavam tanto quanto antes da industrialização, caso contrário não conseguiriam ganhar a vida. No entanto, um desenvolvimento positivo foi o fato de que os trabalhadores puderam se beneficiar de sua concentração em áreas urbanas para se sindicalizar e lutar por melhorias em seu destino.

Finalmente, deve-se notar que a disseminação das indústrias por muitos países aumentou a competição internacional. Preços mais baixos para bens de consumo foram benéficos para as massas, mas, às vezes, estavam no caminho de fornecer apoio financeiro adequado para eles. Além disso, certos Estados, como a Grã-Bretanha, se beneficiaram mais da comercialização de produtos industrializados, em detrimento de países que foram relegados a ter setores industriais menos desenvolvidos.

Conclusão

As Revoluções Industriais transformaram profundamente o mundo desde o século XIX. Inicialmente, a indústria têxtil epitomizou essa onda de inovação, já que invenções como a máquina de fiar aumentaram drasticamente a produtividade. Contudo, esses avanços tecnológicos rapidamente permearam outros setores, desestabilizando trabalhadores qualificados que se viram cada vez mais marginalizados na força de trabalho. A Primeira Revolução Industrial foi caracterizada por inovações significativas como a máquina a vapor, ferrovias, navios a vapor e o telégrafo, que revolucionaram a comunicação e o transporte. Posteriormente, a Segunda Revolução Industrial introduziu o uso generalizado de aço, eletricidade, petróleo, automóveis e comunicação sem fio, marcando outro salto no progresso tecnológico. Esses períodos de avanço rápido levaram a mudanças socioeconômicas notáveis, incluindo urbanização acelerada, agravamento das desigualdades sociais, formação dos primeiros sindicatos de trabalhadores e intensificação da competição internacional. Mais recentemente, discussões nos séculos XX e XXI destacaram uma Terceira e Quarta Revolução Industrial, continuando o legado de mudança profunda e inovação que caracteriza esse fenômeno histórico em andamento.


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