Resumo: Diplomacia, de Kissinger — Capítulo 15 — Os Estados Unidos de volta à cena

Diplomacia, de Henry Kissinger. Detalhe da capa do livro.

Em 1994, Henry Kissinger publicou o livro Diplomacia. Ele foi um acadêmico e diplomata renomado, tendo servido como Conselheiro de Segurança Nacional e Secretário de Estado dos Estados Unidos. Seu livro oferece um extenso panorama da história das questões internacionais e da arte da diplomacia, com foco particular no século XX e no mundo ocidental. Kissinger, conhecido por seu alinhamento com a escola realista das Relações Internacionais, trata dos conceitos de equilíbrio de poder, razão de Estado e Realpolitik em diferentes épocas.

Sua obra foi amplamente elogiada pelo seu alcance e pelo seu detalhismo. Todavia, ela também enfrentou críticas por seu foco em indivíduos em detrimento de forças estruturais, e por apresentar uma visão reducionista da história. Além disso, alguns críticos também alegaram que o livro se concentra excessivamente no papel individual de Kissinger nos eventos, potencialmente superestimando sua influência sobre eles. De qualquer forma, as ideias do livro merecem ser consideradas.

Este artigo apresenta um resumo das ideias de Kissinger no décimo quinto capítulo de seu livro, cujo título é “Os Estados Unidos de volta à cena: Franklin Delano Roosevelt”.

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Franklin Delano Roosevelt demonstrou uma liderança excepcional ao mudar os Estados Unidos do isolacionismo para um papel ativo na Segunda Guerra Mundial, demonstrando o impacto significativo que um líder pode ter em uma democracia. Sua capacidade de olhar além do presente e mobilizar uma nação resistente a envolvimentos estrangeiros para uma força pivotal na guerra ilustra a intuição única e a coragem requeridas de grandes líderes. Os esforços persuasivos de Roosevelt gradualmente mudaram a opinião pública e do congresso, culminando na entrada decisiva dos EUA na guerra após o ataque do Japão a Pearl Harbor. Sua visão se estendeu além da guerra, estabelecendo as bases para o engajamento internacional de longo prazo dos Estados Unidos e influenciando a criação de instituições que apoiam a cooperação global até hoje.

A presidência de Roosevelt foi marcada por sua habilidosa gestão de crises domésticas e internacionais, notavelmente a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial, mostrando seu profundo impacto na história estadunidense. Seu estilo de liderança combinou astúcia política com previsão visionária, frequentemente governando por instinto e evocando reações fortes tanto de apoiadores quanto de críticos. Apesar de seus desafios pessoais, incluindo superar a poliomielite, Roosevelt manteve uma imagem pública digna, ocultando a severidade de sua deficiência com notável resiliência e determinação. Sua capacidade de se conectar com o povo estadunidense e seus contrapartes internacionais foi instrumental para navegar as complexidades de sua era.

O contexto histórico da postura isolacionista dos Estados Unidos durante os anos 1920 e 1930 demonstrou a enormidade da conquista de Roosevelt em reorientar a política externa dos EUA em direção ao engajamento. O período foi caracterizado por uma profunda relutância em se envolver em assuntos globais, um sentimento enraizado na desilusão com os resultados da Primeira Guerra Mundial e uma crença firme nos princípios do excepcionalismo estadunidense e do isolacionismo. Apesar disso, Roosevelt navegou o delicado equilíbrio entre sentimentos isolacionistas e internacionalistas, direcionando a nação para um papel global mais ativo sem abraçar completamente a Liga das Nações. Sua liderança durante essa era transformadora não apenas remodelou a política externa dos EUA, mas também criou as condições para a influência duradoura dos Estados Unidos no cenário internacional.

A Conferência Naval de Washington de 1921-22 marcou um momento crucial na diplomacia estadunidense, estabelecendo limites de armamento naval para as grandes potências e promovendo a resolução pacífica de disputas no Pacífico através do Tratado de Quatro Potências. Esse tratado visava a fomentar a cooperação entre o Japão, os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a França, mas evitava explicitamente qualquer compromisso de impor seus termos com ação militar. Essa abordagem, enfatizada pelo Presidente Harding e pelo Secretário de Estado Hughes, refletiu uma relutância estadunidense mais ampla em se vincular a ações de execução internacionais, sugerindo uma preferência por princípios sobre o engajamento prático em questões de segurança global.

As reservas do Senado sobre o Tratado de Quatro Potências, enfatizando o não comprometimento com intervenção armada, demonstravam uma lacuna significativa entre acordos diplomáticos estadunidenses e sua execução, lançando dúvidas sobre a confiabilidade dos compromissos dos EUA. Esse ceticismo em relação a acordos executáveis persistiu, como visto no Pacto Kellogg-Briand, que, embora renunciasse à guerra entre as nações signatárias, carecia de qualquer mecanismo de execução. O pacto, celebrado por sua visão idealista de paz, enfrentou críticas por sua ineficácia prática em deter a agressão, pois não previa sanções nem definia agressão, confiando em vez disso na força moral da opinião pública global.

A reação do Senado tanto ao Tratado de Quatro Potências quanto ao Pacto Kellogg-Briand ilustra uma postura estadunidense consistente durante essa era: endossando princípios elevados sem se comprometer com sua execução. Essa abordagem levantou questões sobre a eficácia de tais tratados em proteger interesses como as Filipinas ou prevenir agressões de potências como a Itália de Mussolini. Apesar das visões otimistas de líderes como o Secretário de Estado Kellogg e seu sucessor Henry Stimson sobre o poder da opinião pública para manter a paz internacional, sua dependência de sanções morais em vez de ações de execução tangível demonstrou as limitações da diplomacia estadunidense em garantir a estabilidade global durante o período entre guerras.

A distância geográfica dos Estados Unidos da Europa e da Ásia fomentou uma percepção de disputas europeias como complexas e muitas vezes irrelevantes, levando a uma postura de isolacionismo semelhante ao “esplêndido isolamento” anterior da Grã-Bretanha. No entanto, ao contrário da Grã-Bretanha, que estava disposta a se envolver na diplomacia europeia tradicional para manter o equilíbrio de poder, os Estados Unidos permaneceram distantes, favorecendo uma diplomacia mais pública, jurídica e ideológica. Essa divergência nos estilos diplomáticos entre os EUA e as nações europeias durante o período entre guerras resultou em uma mistura de abordagens que carecia de eficácia, particularmente à medida que a dependência europeia do apoio estadunidense crescia diante de potenciais conflitos com a Alemanha.

A relutância dos EUA em se comprometer com a execução do sistema de Versalhes nos anos 1920 estabeleceu um precedente de não-engajamento, evidente na resposta dos Estados Unidos à invasão da Manchúria pelo Japão em 1931. Ao condenar as ações do Japão, os EUA recusaram-se a se juntar aos esforços de execução coletiva, adotando em vez disso uma política de não-reconhecimento de mudanças territoriais alcançadas pela força. Essa postura foi indicativa de uma política mais ampla de evitar envolvimento direto em conflitos, uma posição que persistiu até os eventos significativos que antecederam a Segunda Guerra Mundial, incluindo a ascensão de Hitler ao poder e a agressão militar do Japão na China.

Durante o primeiro mandato de Roosevelt, sua administração continuou a defender temas isolacionistas, incluindo propostas para estender acordos de desarmamento e confiar na opinião pública para censurar nações que violavam acordos de paz. Esse período também viu um aumento no pensamento revisionista que culpava a entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial aos fabricantes de armamentos, levando à aprovação dos Atos de Neutralidade que visavam a manter os EUA fora de conflitos estrangeiros impondo limitações estritas nas interações com beligerantes.

Contudo, a reeleição de Roosevelt em 1936 marcou uma mudança para uma postura mais proativa contra as ameaças impostas pelas ditaduras. Iniciando com o Discurso de Quarentena em 1937, Roosevelt começou a sinalizar a possibilidade de envolvimento estadunidense em esforços globais para manter a paz e a segurança. Apesar da controvérsia e da reação isolacionista que esse discurso gerou, Roosevelt manteve uma postura ambígua sobre ações específicas que os EUA poderiam tomar, indicando uma nova abordagem à política externa que permaneceu indefinida publicamente. Esse período refletiu uma crescente conscientização sobre as limitações do isolacionismo e a possível necessidade dos EUA de assumir um papel mais assertivo nos assuntos internacionais.

Roosevelt, habilidoso em navegar pelas correntes complexas da opinião estadunidense, visava a manter a flexibilidade enquanto direcionava a política externa do país. Apesar dos diferentes graus de apoio para ajudar nações “amantes da paz”, Roosevelt habilmente equilibrou essas visões, particularmente após seu Discurso de Quarentena. Suas referências a experiências passadas e compromissos com a paz foram projetados para apelar a um público amplo, insinuando uma abordagem pragmática aos assuntos internacionais enraizada no realismo, em vez do isolacionismo.

A abordagem cautelosa de Roosevelt tornou-se evidente enquanto ele enfrentava o crescente sentimento isolacionista e desafios legislativos que ameaçavam restringir sua capacidade de responder a crises internacionais. Esforços para manter a neutralidade, mesmo enquanto as tensões globais escalavam com eventos como o Anschluss e a Conferência de Munique, demonstravam o delicado equilíbrio de Roosevelt. Suas negações de qualquer sugestão de que os EUA se juntariam a uma frente coletiva contra agressores foram estratégicas, visando a gerenciar tanto a opinião doméstica quanto as expectativas internacionais.

Entretanto, o Acordo de Munique marcou uma mudança crucial na postura de Roosevelt, movendo gradualmente os EUA para um apoio mais explícito às democracias europeias tanto politicamente quanto materialmente. Essa evolução refletiu a crença de Roosevelt na necessidade de guiar a sociedade estadunidense para entender e confrontar as ameaças impostas pelos ditadores. Seu estilo de liderança, caracterizado por uma mistura de educação e ambiguidade estratégica, buscou alinhar a realidade estadunidense com os imperativos da segurança global e da responsabilidade moral.

Na sequência de Munique, Roosevelt intensificou seus alertas sobre os perigos da agressão, defendendo a preparação enquanto ainda sustentava o ideal do desarmamento. Por trás dos bastidores, ele explorou maneiras inovadoras de apoiar a Grã-Bretanha e a França, incluindo uma proposta para contornar os Atos de Neutralidade através de assistência indireta. Embora esse plano se tenha mostrado inviável, ele demonstrava o compromisso de Roosevelt em ajudar as democracias contra as potências do Eixo, limitado apenas pelos limites do apoio público e congressista.

A navegação de Roosevelt por esse período demonstrou sua habilidade excepcional em mesclar realismo com idealismo, guiando os EUA para uma postura mais engajada no cenário mundial. Seus esforços para preparar a nação para os desafios à frente, respeitando as restrições da opinião doméstica e da legislação, demonstravam a natureza matizada e visionária de sua liderança diante das crescentes ameaças globais.

Em 1939, Roosevelt começou a desafiar mais abertamente as ações agressivas da Itália, Alemanha e Japão, marcando uma mudança na postura dos EUA em relação a essas nações. Ele enfatizou a importância de tomar ações além das palavras para contrariar a agressão, um tema que havia introduzido em seu Discurso de Quarentena anterior. Em abril do mesmo ano, a ocupação de Praga pelos nazistas levou Roosevelt a vincular explicitamente a agressão contra nações menores a uma ameaça direta à segurança estadunidense. Ele argumentou que a independência de pequenas nações era crucial para a segurança e prosperidade dos EUA, sinalizando uma partida do foco hemisférico da Doutrina Monroe para uma preocupação mais ampla pela estabilidade global. Isso foi comprovado por sua previsão de que os avanços na viagem aérea logo apagariam a barreira protetora dos oceanos, vinculando ainda mais a segurança estadunidense à estabilidade econômica e política global.

O apelo direto de Roosevelt a Hitler e Mussolini por garantias de não atacar diversas nações, embora ridicularizado pelos líderes do Eixo, foi uma jogada estratégica para delineá-los como agressores aos olhos do público estadunidense. Apesar do escárnio que recebeu, essa manobra ajudou Roosevelt a enquadrar o conflito como uma luta moral entre os valores democráticos e a agressão fascista, assim conquistando apoio doméstico para as democracias.

A cooperação militar estratégica entre os EUA e a Grã-Bretanha em 1939, que viu a frota estadunidense se mover para o Pacífico para permitir que a Marinha Real se concentrasse no Atlântico, indicou uma mudança sutil, mas significativa, em direção ao apoio aos Aliados. Essa cooperação foi recebida com preocupação pelos isolacionistas dentro dos EUA, que temiam quaisquer passos que pudessem aproximar o país da guerra.

O estopim da guerra na Europa em setembro de 1939 forçou Roosevelt a navegar pelas restrições dos Atos de Neutralidade, mesmo enquanto buscava maneiras de apoiar a Grã-Bretanha e a França. A revisão eventual desses atos para permitir compras de armas em “dinheiro e transporte” por beligerantes marcou um passo crítico em fornecer suporte material aos Aliados sem envolver diretamente os EUA no conflito.

Em 1940, com a queda da França e a ameaça iminente à Grã-Bretanha, Roosevelt se posicionou inequivocamente ao lado dos Aliados, comprometendo-se com uma ajuda material extensa e um aumento nas capacidades de defesa dos EUA. Esse compromisso foi articulado em um discurso que combinou a condenação da agressão do Eixo com uma promessa de apoio estadunidense às nações que resistiam à expansão alemã. A liderança de Roosevelt durante esse período demonstrou um equilíbrio cuidadoso entre aderir ao princípio da neutralidade e preparar o público estadunidense para um papel mais ativo no combate à ameaça do Eixo, eventualmente levando a um apoio significativo à Grã-Bretanha e preparando o cenário para um envolvimento mais próximo dos EUA na Segunda Guerra Mundial.

Roosevelt navegou pelas complexidades de um mundo caminhando para uma guerra em grande escala com uma estratégia que era ao mesmo tempo matizada e, por vezes, controversa. Ele reconheceu desde cedo que o surgimento das Potências do Eixo representava uma ameaça direta à segurança e aos valores estadunidenses. Suas táticas, embora às vezes beirassem as margens da constitucionalidade, eram impulsionadas pela convicção de que a intervenção estadunidense era crucial para prevenir uma vitória do Eixo. A queda da França em 1940 demonstrou a urgência dessa ameaça, levando Roosevelt a articular mais claramente os perigos iminentes à segurança estadunidense e a tomar medidas para garantir a sobrevivência da Marinha Real, que ele via como vital para prevenir uma ameaça direta aos Estados Unidos.

As ações de Roosevelt, incluindo o acordo de destróieres por bases com a Grã-Bretanha e a introdução do recrutamento em tempos de paz, demonstraram sua disposição em fortalecer os aliados e preparar os EUA para um possível envolvimento na guerra. O Ato de Empréstimo e Arrendamento de 1941 solidificou ainda mais essa posição, permitindo que os EUA fornecessem ajuda militar a qualquer país considerado vital para sua defesa. Essa medida, juntamente com o aumento dos gastos com defesa e a cooperação militar com a Grã-Bretanha, sinalizou uma clara mudança de neutralidade para um apoio ativo aos Aliados.

A oposição dos isolacionistas, que viam essas ações como uma traição aos princípios não intervencionistas estadunidenses, foi forte. Todavia, a liderança habilidosa de Roosevelt e a comunicação persuasiva gradualmente deslocaram a opinião pública em direção ao reconhecimento da necessidade de confrontar a agressão do Eixo. Sua visão para um mundo pós-guerra, conforme delineado nas Quatro Liberdades e na Carta do Atlântico, buscava não apenas garantir segurança, mas promover uma ordem global baseada em valores democráticos e cooperação econômica.

Os eventos de 1941, das missões de patrulha e escolta no Atlântico à imposição de sanções econômicas contra o Japão, desfocaram ainda mais as linhas entre neutralidade e engajamento. Os ataques de submarinos alemães a navios navais dos EUA e o eventual ataque a Pearl Harbor pelo Japão, seguidos pela declaração de guerra da Alemanha contra os EUA, efetivamente tornaram a entrada estadunidense na guerra uma realidade.

A jornada de Roosevelt, de advogar pela preparação para liderar a nação à guerra, foi marcada por previsão estratégica, convicção moral e um complexo interjogo de pressões domésticas e internacionais. Sua capacidade de navegar esses desafios e preparar o público estadunidense para as realidades do conflito global refletiu seu profundo compromisso em defender os valores democráticos e garantir um futuro pacífico e próspero. Ao fazer isso, Roosevelt transformou a política externa estadunidense e estabeleceu as bases para o papel dos Estados Unidos como líder na ordem internacional que emergiu após a Segunda Guerra Mundial.


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