Resumo: Diplomacia, de Kissinger – Capítulo 20 – Negociando com os comunistas

Diplomacia, de Henry Kissinger. Detalhe da capa do livro.

Em 1994, Henry Kissinger publicou o livro Diplomacia. Ele foi um acadêmico e diplomata renomado, tendo servido como Conselheiro de Segurança Nacional e Secretário de Estado dos Estados Unidos. Seu livro oferece um extenso panorama da história das questões internacionais e da arte da diplomacia, com foco particular no século XX e no mundo ocidental. Kissinger, conhecido por seu alinhamento com a escola realista das Relações Internacionais, trata dos conceitos de equilíbrio de poder, razão de Estado e Realpolitik em diferentes épocas.

Sua obra foi amplamente elogiada pelo seu alcance e pelo seu detalhismo. Todavia, ela também enfrentou críticas por seu foco em indivíduos em detrimento de forças estruturais, e por apresentar uma visão reducionista da história. Além disso, alguns críticos também alegaram que o livro se concentra excessivamente no papel individual de Kissinger nos eventos, potencialmente superestimando sua influência sobre eles. De qualquer forma, as ideias do livro merecem ser consideradas.

Este artigo apresenta um resumo das ideias de Kissinger no vigésimo capítulo de seu livro, cujo título é “Negociando com os comunistas: Adenauer, Churchill e Eisenhower”.

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Em março de 1952, com a Guerra da Coreia em andamento, Stálin fez uma jogada diplomática para potencialmente acabar com a Guerra Fria. Ao contrário das previsões ocidentais de que o sistema soviético se transformaria sob pressão, Stálin visava a proteger o comunismo de uma corrida armamentista que ele acreditava que os soviéticos não poderiam sustentar. Sua proposta, ao invés de vislumbrar uma ordem mundial pacífica, sugeriu reconhecer duas esferas de influência — a dos Estados Unidos na Europa Ocidental e a dos soviéticos na Europa Oriental — com uma Alemanha neutra e armada entre elas.

Historiadores e figuras políticas debateram desde então se a proposta de Stálin era uma oportunidade genuína de acabar com a Guerra Fria ou apenas uma manobra estratégica para impedir o rearmamento alemão e perturbar a coesão ocidental. As verdadeiras intenções de Stálin permanecem obscuras, já que suas ações nos anos que antecederam a oferta já haviam minado qualquer confiança em sua sinceridade. Mesmo testar sua proposta arriscava enfraquecer a Aliança Atlântica, o que poderia ter sido seu objetivo final.

A discussão sobre as intenções de Stálin tornou-se irrelevante quando ele morreu um ano após a proposta, em 1953. Seus sucessores careciam tanto da determinação para insistir em negociações abrangentes quanto da autoridade para fazer concessões significativas. A iniciativa de paz de Stálin, assim, permaneceu um episódio histórico intrigante, destacando os profundos desalinhamentos de motivação entre a União Soviética e o Ocidente durante a Guerra Fria.

A narrativa da estratégia de Stálin revela uma interação complexa de considerações ideológicas e práticas. A América, aderindo estritamente aos compromissos legais dos acordos de Yalta e Potsdam, contrastava acentuadamente com Stálin, que valorizava acordos apenas na medida em que refletiam um equilíbrio de poder. Essa diferença fundamental de abordagem sublinhou suas interações, com cada lado acumulando fichas de barganha e esperando que o outro fizesse um movimento decisivo.

O início da década de 1950 marcou um período em que os EUA consolidaram sua influência por meio do Plano Marshall, da OTAN e do apoio ao estabelecimento da Alemanha Ocidental, enquanto Stálin respondia com movimentos agressivos como o Bloqueio de Berlim e apoiando a invasão da Coreia do Norte. No entanto, essas ações acabaram por realçar a unidade ocidental e destacar as vulnerabilidades estratégicas da posição soviética, à medida que a aliança da OTAN e o Japão começaram a representar um contrapeso industrial e militar formidável para a esfera soviética.

A relutância de Stálin em se envolver diretamente com o exército dos EUA foi evidente em várias instâncias, incluindo sua retirada do Azerbaijão iraniano sob pressão americana e sua decisão de encerrar o Bloqueio de Berlim. Suas estratégias eram frequentemente cautelosas, visando a evitar um conflito militar direto enquanto mantinha uma postura de força. Essa abordagem cautelosa foi sublinhada por sua resposta a uma teoria econômica que sugeria que a estabilidade capitalista estava aumentando, o que poderia unir as potências capitalistas contra a URSS. Stálin contrapôs isso com uma reafirmação de sua visão de longa data de que conflitos capitalistas inerentes impediriam tal unidade e adiariam qualquer confronto direto com a União Soviética.

Em essência, as manobras diplomáticas e ideológicas de Stálin tinham o intuito de gerenciar o poder soviético sem desencadear uma guerra que pudesse ameaçar o sistema comunista. Ele procurava navegar pela complexa paisagem internacional reforçando a ideologia soviética e se preparando para engajamentos estratégicos com o bloco capitalista, evitando ao mesmo tempo ações que pudessem levar a um conflito militar direto.

Em 10 de março de 1952, Stálin estendeu um gesto diplomático ao Ocidente com sua “Nota de Paz sobre a Alemanha”, sinalizando uma possível mudança na política externa soviética. A nota propunha discussões para um tratado de paz com a Alemanha, sugerindo uma Alemanha unificada e neutra que poderia manter suas próprias forças armadas, mas com todas as tropas estrangeiras se retirando dentro de um ano. No entanto, a nota incluía cláusulas vagas que poderiam bloquear qualquer progresso, como a proibição de organizações prejudiciais à paz e à democracia — um termo que poderia abranger amplamente partidos políticos ocidentais como vistos na Europa Oriental.

O momento e o conteúdo da nota sugeriam que Stálin estava sério sobre a negociação, pois até demonstrava uma abertura incomum para propostas alternativas do Ocidente. Se essa oferta tivesse sido feita antes das tensões significativas da Guerra Fria, como o Bloqueio de Berlim ou a Guerra da Coreia, ela poderia ter prevenido efetivamente a adesão da Alemanha à OTAN e reformulado o alinhamento pós-guerra europeu conforme sugestões anteriores de Churchill.

No entanto, em 1952, com a OTAN estabelecida e o rearmamento alemão em andamento, os líderes ocidentais estavam céticos. Engajar-se na proposta de Stálin arriscava paralisar as iniciativas militares e políticas ocidentais, potencialmente irreversíveis devido a fortes influências comunistas em países como França e Itália. Além disso, negociações prolongadas, como as em andamento para a Áustria e a Coreia, sugeriam que a oferta de Stálin poderia ter como objetivo perturbar a coesão ocidental em vez de forjar uma paz genuína.

Stálin parecia aberto a um acordo abrangente, como indicado por suas respostas prontas e conciliatórias ao feedback ocidental, que progressivamente se alinhavam mais às demandas ocidentais. No entanto, seu engajamento na proposta pareceu diminuir à medida que ele se concentrava no próximo Décimo Nono Congresso do Partido e nas eleições presidenciais dos EUA, sinalizando uma possível mudança na política soviética dependendo desses eventos.

A oferta de Stálin de se encontrar com o presidente eleito Eisenhower marcou uma significativa partida de suas interações anteriores com líderes ocidentais, propondo um diálogo direto que ele nunca havia estendido a Roosevelt, Truman ou Churchill. Essa iniciativa coincidiu com a retomada das purgas dentro da União Soviética, sugerindo o desconforto de Stálin com a burocracia soviética existente ao pivotar para novas estratégias diplomáticas. Esse período de mudança também implicava uma disposição por parte de Stálin de possivelmente sacrificar o regime da Alemanha Oriental em favor de ganhos geopolíticos mais amplos, usando-o como alavanca nas negociações sobre a unificação alemã.

Apesar das manobras estratégicas de Stálin, suas suposições sobre o realpolitik ocidental provaram ser incorretas. A resposta dos EUA às investidas soviéticas não era meramente estratégica, mas também principiada, vendo compromissos legais e morais como guias tangíveis para a política externa, ao contrário da abordagem mais cínica e tática de Stálin. Esse equívoco fundamental de Stálin sobre a perspectiva ocidental, especialmente a postura americana sobre princípios e legalidade, levou a um erro significativo de cálculo do potencial para compromisso, tornando seus esforços diplomáticos em 1952 finalmente fúteis.

A “Nota de Paz” de Stálin em março de 1952 foi mal cronometrada, surgindo apenas meses antes de uma eleição presidencial nos EUA na qual o titular, o presidente Truman, não estava participando. Mesmo que Truman e o Secretário de Estado Acheson estivessem inclinados a negociar, o período de tempo limitado seria insuficiente para finalizar qualquer acordo. Além do momento, o conteúdo da proposta levantava preocupações significativas sobre sua viabilidade e o tipo de paisagem geopolítica que ela previa. A proposta sugeriu uma Alemanha neutra, porém armada, com todas as tropas estrangeiras retiradas dentro de um ano. No entanto, os termos levantaram questões não resolvidas, como a definição de “neutralidade”, a supervisão desse status e o potencial para influência ou poder de veto soviético nos assuntos alemães. Além disso, a proposta sugeriu uma retirada de tropas estrangeiras para locais não especificados, provavelmente deixando as forças soviéticas a apenas uma curta distância na fronteira polonesa, enquanto as forças americanas retornariam através do Atlântico, potencialmente desestabilizando a recém-formada OTAN.

As implicações mais profundas da Nota de Paz envolviam o futuro da Alemanha e sua posição na Europa. Truman e Acheson estavam particularmente preocupados com um cenário em que uma Alemanha neutra pudesse reverter para políticas nacionais agressivas que historicamente perturbavam a paz europeia. O medo era que uma Alemanha forte e unificada pudesse perseguir objetivos revisionistas, especialmente dado o influxo de refugiados da Europa Oriental que viam os territórios perdidos como legitimamente alemães. Esse potencial de desestabilização era um risco significativo, vindo tão logo após a Segunda Guerra Mundial.

Konrad Adenauer, o chanceler da Alemanha Ocidental, desempenhou um papel fundamental durante esse período. Nascido no Reno e tendo servido como prefeito de Colônia antes e depois da era nazista, Adenauer era uma figura de resiliência e serenidade, atributos que o ajudaram a guiar a Alemanha Ocidental através de sua recuperação pós-guerra e reintegração à comunidade internacional. Seu estilo de liderança e filosofia estavam enraizados em sua fé católica e um profundo entendimento da história e sociedade alemãs. Ao contrário de seus contemporâneos Churchill ou de Gaulle, Adenauer não era principalmente influenciado pelo estudo histórico ou literário, mas por suas experiências reflexivas durante a recente história turbulenta da Alemanha.

A orientação política de Adenauer era decididamente pró-Ocidente, influenciada por seu desprezo pelo Realpolitik e as ambições imperiais de lideranças alemãs passadas, como o Kaiser e Bismarck. Sua abordagem era fundamentalmente contra a ideia de uma Alemanha neutra, que ele acreditava deixaria o país vulnerável a influências externas e ressurgimento nacionalista interno. Em vez disso, Adenauer favorecia a integração com as potências ocidentais, buscando segurança, igualdade e um lugar respeitável para a Alemanha no cenário internacional. Seus rivais políticos domésticos, os social-democratas, priorizavam a unificação alemã e poderiam considerar a neutralidade como um caminho viável para esse objetivo, refletindo uma divisão política fundamental dentro da Alemanha.

A morte de Stálin em março de 1953 interrompeu abruptamente qualquer potencial para essas negociações diplomáticas avançarem. Sua morte ocorreu sob circunstâncias misteriosas, com seu colapso em sua dacha seguido por várias horas de atraso antes da descoberta devido ao medo e protocolo que governavam as ações de sua equipe de segurança. A vigília mantida por seus sucessores e o envolvimento hesitante dos médicos, que eram eles mesmos alvos potenciais de uma purga iminente, marcaram o fim de uma era. A natureza especulativa do que poderia ter sido alcançado se Stálin tivesse vivido, ou se ele pudesse ter persuadido os líderes ocidentais a aceitar suas propostas, permanece um intrigante histórico.

Após a morte de Stálin, seus sucessores sentiram uma urgência ainda maior em aliviar as tensões com o Ocidente, mas eles careciam da autoridade, sutileza e unidade que Stálin possuía, cruciais para gerenciar tais manobras diplomáticas complexas. As lutas de poder dentro da liderança soviética impediram qualquer um deles de fazer concessões ao Ocidente, como visto na purga de Beria, acusado de tramar para entregar a Alemanha Oriental, alinhando-se ironicamente com a direção diplomática anterior de Stálin.

As memórias de Khrushchev revelam uma paranoia entre os sucessores de Stálin de que o Ocidente poderia aproveitar a oportunidade da morte de Stálin para iniciar um confronto. Stálin havia incutido um medo profundo em seus colegas de retribuição ocidental assim que ele se fosse. Em meio às suas lutas internas de poder, eles desejavam uma redução nas tensões da Guerra Fria, mas estavam relutantes em fazer as concessões necessárias, temendo que isso pudesse prejudicar suas buscas individuais pelo poder.

Nesse período de incertezas, o Primeiro-Ministro soviético Malenkov sugeriu negociações com o Ocidente, mas falhou em fornecer propostas específicas, refletindo a falta de autoridade e direção clara de política da nova liderança. Tanto a nova administração Eisenhower quanto os líderes soviéticos estavam cautelosos, cada lado receoso das consequências potenciais de alterar o status quo, particularmente no que diz respeito ao destino da Alemanha Oriental e à estabilidade da OTAN.

As questões que dominaram a análise ocidental na época incluíam se negociações significativas com os soviéticos poderiam ocorrer sem fragmentar a Aliança Atlântica, se os soviéticos ofereceriam concessões substanciais e se eles usariam as negociações meramente como uma tática para interromper iniciativas militares ocidentais sem realmente afrouxar seu controle sobre a Europa Oriental. Os riscos potenciais de negociar uma Alemanha neutra eram considerados grandes demais, pois isso poderia convidar instabilidade geopolítica ou coerção por parte soviética.

Churchill, reeleito como Primeiro-Ministro em 1951, foi talvez o defensor mais vocal de reengajamento com a União Soviética, propondo uma cúpula que poderia levar a uma conferência significativa, semelhante à Conferência de Potsdam. Sua abordagem previa uma série de acordos de longo alcance que incluíam uma Alemanha unificada e neutra, um recuo das forças soviéticas e o estabelecimento de democracias neutras no Leste Europeu semelhantes ao status da Finlândia. No entanto, a viabilidade de tais negociações ambiciosas havia diminuído drasticamente desde os anos imediatos pós-guerra. Os aliados ocidentais, particularmente os Estados Unidos, viam a pressão de Churchill por negociações como fora de sintonia, atribuindo-a à sua idade avançada em vez de a uma previsão estratégica.

Em retrospecto, as ideias de Churchill, que foram revolucionárias durante a guerra e o período imediato pós-guerra, pareciam cada vez mais insustentáveis no início dos anos 1950. A paisagem geopolítica havia se transformado significativamente, com a integração da Alemanha Ocidental na aliança ocidental marcando uma partida da neutralidade e do status independente que Churchill poderia ter imaginado. A noção de reintroduzir um status pré-1949 na Alemanha e estabelecer governos neutros no Leste Europeu semelhantes à Finlândia teria exigido uma mudança dramática na política soviética ou uma escalada significativa nas tensões da Guerra Fria, riscos que nenhuma nação europeia ocidental estava preparada para assumir tão logo após a devastação da Segunda Guerra Mundial.

Em 1952, a Aliança Atlântica não estava coesa o suficiente para buscar um acordo diplomático grandioso ao longo das linhas propostas por Churchill. Os Estados Unidos, sob ambos os principais partidos políticos, sentiram-se compelidos a manter uma postura forte até que a União Soviética mostrasse sinais de mudança interna. Essa abordagem contrastava com a tradição britânica de negociar com adversários ideológicos por necessidade e pragmatismo, originada da falta histórica de segurança geopolítica da Grã-Bretanha em comparação com os EUA.

Churchill, aderindo a essa tradição, defendeu negociações contínuas com a União Soviética, visando a uma coexistência mais suportável. Essa posição levou a uma divergência com os líderes americanos que preferiam esperar por uma mudança fundamental no regime soviético em vez de se engajar em diálogos. Churchill, durante sua campanha de 1950 e após sua reeleição como Primeiro-Ministro em 1951, pressionou por uma cúpula de Quatro Potências para aliviar as tensões da Guerra Fria. No entanto, o Secretário de Estado dos EUA, Dean Acheson, estava cético, acreditando que a força precisava ser estabelecida antes que qualquer diálogo produtivo pudesse ocorrer.

Após a morte de Stálin em 1953, Churchill viu uma oportunidade de reengajar com os soviéticos sob nova liderança. Ele encorajou o recém-empossado Presidente Eisenhower a explorar negociações com Malenkov, o novo líder soviético. No entanto, Eisenhower estava hesitante, preferindo ver ações em vez de palavras dos soviéticos, especialmente em questões prementes como o armistício coreano e a estabilidade na Indochina e Malásia.

Churchill, não desanimado pela relutância de Eisenhower, sugeriu uma reunião dos poderes de Potsdam e até mesmo uma sessão preliminar com o Ministro das Relações Exteriores soviético, Molotov, para facilitar discussões substantivas. No entanto, Eisenhower permaneceu cauteloso, enfatizando pré-condições que os soviéticos precisavam atender antes de quaisquer conversas de alto nível poderem prosseguir.

Churchill, reconhecendo sua influência limitada devido à dependência da Grã-Bretanha dos EUA, optou por expressar suas opiniões publicamente na Câmara dos Comuns em vez de em negociações diretas com Malenkov. Ele expressou preocupação de que a política externa ocidental pudesse ofuscar desenvolvimentos positivos dentro da União Soviética que poderiam levar a um clima internacional mais favorável.

Churchill continuou a advogar por uma conferência de alto nível, esperando que não fosse sobrecarregada por uma agenda rígida ou discussões excessivamente técnicas. Em vez disso, ele imaginava um encontro que, embora talvez não alcançasse acordos firmes, poderia fomentar um desejo coletivo de evitar a destruição global. A única proposta específica de Churchill era semelhante ao Pacto de Locarno de 1925, que estabeleceu o reconhecimento mútuo das fronteiras entre a Alemanha e a França, com a Grã-Bretanha atuando como garantidora. No entanto, a eficácia e relevância de tal acordo no contexto da Guerra Fria eram questionáveis, dadas as divisões ideológicas e as preocupações específicas de segurança das superpotências envolvidas.

Churchill, em julho de 1953, desafiou a noção de que as políticas soviéticas eram imutáveis e defendeu uma “reconhecimento em força” para testar a nova realidade soviética, sugerindo uma estratégia que mais tarde veio a ser conhecida como détente. Ele acreditava que um período de relaxamento das tensões, combinado com o progresso científico, poderia alterar significativamente a paisagem global. Essa abordagem visava a encontrar um meio-termo entre a resistência implacável exigida pela contenção e os riscos associados a um acordo abrangente que poderia potencialmente enfraquecer a Aliança Atlântica e a integração da Alemanha no Ocidente.

George F. Kennan, refletindo sobre a rigidez de sua estratégia original de contenção, propôs um esquema de desengajamento que incluía a retirada de tropas soviéticas da Europa Central em troca de uma retirada similar das forças americanas da Alemanha. Ele também apoiou a criação de uma zona livre de armas nucleares na Europa Central. No entanto, essas propostas suscitaram preocupações sobre comprometer a integração da Alemanha no Ocidente e a estabilidade dos regimes comunistas da Europa Oriental sem garantias contra a intervenção soviética.

A percepção de Churchill reconheceu a necessidade das sociedades democráticas de uma estratégia de engajamento significativa além da mera resistência. Ele argumentou que, sem explorar todas as alternativas ao conflito, os públicos e governos democráticos poderiam ser influenciados por iniciativas de paz soviéticas superficiais que prometiam mudanças sem evidências substanciais. Essa diplomacia delicada exigia equilibrar a necessidade de manter uma postura de defesa forte com esforços para aliviar as tensões ao longo da divisão europeia.

John Foster Dulles, reconhecendo a necessidade estratégica da coesão ocidental, era cauteloso sobre se envolver em negociações fluidas que poderiam desestabilizar a unidade arduamente conquistada entre os aliados ocidentais. Ele preferia manter posições estabelecidas nas conversas diplomáticas para consolidar a Aliança Atlântica e o rearmamento da Alemanha, evitando a complexidade de uma diplomacia mais aventureira que poderia forçar os aliados ou os soviéticos a compromissos desconfortáveis.

À medida que a liderança soviética sob Malenkov buscava demonstrar boa vontade através de engajamentos em questões como Coreia, Indochina e o Tratado Estadual Austríaco, essas ações serviam mais como substitutos para negociações europeias mais amplas do que como passos em direção a elas. Um encontro de 1954 sobre a Alemanha entre ministros das relações exteriores rapidamente chegou a um impasse, com nenhum lado disposto a se aventurar no terreno incerto de negociações substanciais.

Esse impasse diplomático, embora taticamente útil para a União Soviética no curto prazo, acabou jogando a favor das vantagens estratégicas dos Estados Unidos e seus aliados, cujo potencial econômico e militar superava o da esfera soviética. A relutância de Molotov em fazer concessões dolorosas e a resistência de Dulles à flexibilidade moldaram uma postura da Guerra Fria que, embora repleta de controvérsias domésticas e suscetível a ofensivas de paz soviéticas, acabou contribuindo para a vantagem estratégica do bloco ocidental.

A integração da Alemanha na OTAN, uma questão complexa e controversa, foi resolvida através de negociações que exigiram concessões significativas da França, com a Grã-Bretanha concordando em estacionar tropas permanentemente na Alemanha. Esse arranjo solidificou a aliança militar dentro da Europa Ocidental, reforçando a divisão do continente em esferas de influência distintas — um contraste marcante com as visões de pós-guerra iniciais de uma Europa mais integrada ou neutra. Ironicamente, Churchill, que historicamente defendeu um equilíbrio de poder através de esferas de influência, procurou mitigar sua rigidez, enquanto Dulles, de uma nação contrária a tais esferas, acabou cimentando-as.

Em 1955, quando a Cúpula de Genebra foi convocada, os Estados Unidos sentiam-se seguros o suficiente na consolidação de sua esfera de influência para se envolverem em discussões com a União Soviética. No entanto, a verdadeira substância dessas conversas foi mínima, já que ambos os blocos americanos e soviéticos haviam solidificado suas posições na Europa, deixando pouco espaço para negociações genuínas. A cúpula foi caracterizada não pela resolução de tensões da Guerra Fria, mas pela evitação de questões críticas, concentrando-se em interações diplomáticas mais suaves e propostas superficiais, como a iniciativa “céus abertos” de Eisenhower, que nenhuma das partes esperava ser aceita.

O principal resultado da cúpula foi ilustrar um alívio psicológico por parte das democracias, sinalizando um cansaço com a postura confrontacional prolongada que havia sido a norma. Essa foi uma mudança da abordagem anterior de Eisenhower e Dulles, que haviam insistido em soluções concretas para problemas específicos. Agora, eles pareciam reconhecer que esperar por mudanças internas dentro da União Soviética era uma estratégia muito exigente e que propor estratégias alternativas de negociação poderia ser divisivo. A mera ocorrência de uma cúpula não hostil foi percebida como um sinal esperançoso de uma possível reforma soviética, refletindo uma mudança dramática no sentimento público e político no Ocidente, alimentada por retratos midiáticos otimistas e declarações públicas elogiando a atmosfera diplomática melhorada.

Eisenhower, estabelecendo um tom de objetivos de negociação mais psicológicos do que substantivos, refletiu uma mudança mais ampla para valorizar a atmosfera das conversas em vez de seus resultados concretos. Esse sentimento foi ecoado pelas reações da mídia e por declarações de figuras como Dulles, que após a cúpula falou de uma nova política soviética de tolerância. Harold Macmillan também enfatizou as relações pessoais formadas na cúpula, sugerindo que essas interações em si eram uma conquista significativa, apesar da falta de acordos substantivos.

Essa abordagem mais suave, no entanto, não abordava as causas subjacentes das tensões da Guerra Fria, que continuaram a fermentar. A natureza simbólica da cúpula, embora momentaneamente edificante, não ofereceu incentivos reais para que a União Soviética fizesse concessões substanciais. Como resultado, as realidades geopolíticas permaneceram amplamente inalteradas por mais uma década e meia, com as esferas de influência solidificadas e apenas negociações políticas esporádicas ocorrendo, muitas vezes desencadeadas por crises como os ultimatos de Berlim.

A diplomacia mudou o foco para o controle de armas, que se tornou um novo domínio de negociação. Isso foi visto como uma maneira de gerenciar os perigos da Guerra Fria através de limitações nos armamentos, uma abordagem que visava a manter um equilíbrio de poder em níveis suficientes para a dissuasão, mas não para a resolução genuína de conflitos. No entanto, essa estratégia também não aliviou fundamentalmente as tensões, servindo muitas vezes mais como uma ferramenta de gestão do que uma solução para as divisões políticas mais profundas entre o Leste e o Oeste.

Enquanto o Ocidente celebrava a Cúpula de Genebra de 1955 como um desgelo na Guerra Fria, os líderes soviéticos interpretaram o resultado de maneira bastante diferente, vendo-o como uma validação de sua força e posição ideológica. Na época da cúpula, eles haviam efetivamente reprimido dissidências dentro do Bloco Oriental e perceberam a falta de intervenção do Ocidente como um endosso de suas ações. Essa perspectiva foi fortalecida por suas crescentes capacidades nucleares, levando-os a ver a cúpula como uma demonstração de sua resiliência contra as pressões ocidentais.

Os líderes soviéticos, moldados principalmente por suas experiências duras sob Stálin, abordaram a liderança e as relações internacionais com uma paranoia profundamente enraizada e oportunismo. Suas carreiras, marcadas pela sobrevivência através da lealdade absoluta a Stálin e muitas vezes pela repressão brutal de colegas, influenciaram sua abordagem fria e ambiciosa na era pós-Stálin. Esse histórico fez com que eles vissem as propostas diplomáticas na cúpula não como esforços genuínos de paz, mas como manobras estratégicas a serem exploradas.

Pós-cúpula, Nikita Khrushchev, que emergiu como uma figura chave após navegar pelas águas traiçoeiras das lutas de poder soviéticas, buscou redefinir as interações soviéticas com o Ocidente. Sua denúncia pública de Stálin e ações subsequentes sugeriram um possível afrouxamento da política soviética, mas esses movimentos foram principalmente táticos, objetivando consolidar seu poder e desacreditar rivais. A liderança de Khrushchev marcou o início de mudanças significativas dentro da União Soviética, embora suas intenções não fossem desmantelar o sistema, mas fortalecê-lo.

A política externa de Khrushchev foi caracterizada por sua ousadia, enquanto ele testava os limites da influência soviética instigando crises no Oriente Médio, Berlim e, eventualmente, Cuba. Suas ações muitas vezes levaram a União Soviética a confrontos diretos com o Ocidente, culminando na Crise dos Mísseis de Cuba, que terminou em uma derrota estratégica e de relações públicas para a URSS.

A cúpula acabou por estabelecer as bases para Khrushchev afirmar a soberania da Alemanha Oriental, efetivamente removendo a possibilidade de reunificação alemã de consideração séria e entranhando a divisão da Europa. Esse ato solidificou a estrutura da Guerra Fria, levando a décadas de tensão onde a Europa permaneceu dividida em dois campos hostis, refletindo justamente as esferas de influência que ambos os lados buscavam evitar.

A política externa agressiva de Khrushchev ampliou a influência soviética em novas regiões, movendo a Guerra Fria além da Europa e preparando o terreno para mais conflitos, como a Crise de Suez. Essa mudança demonstrou a disposição soviética de desafiar os interesses ocidentais em todo o mundo, garantindo que a Guerra Fria permanecesse uma disputa global.


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