Em 1994, Henry Kissinger publicou o livro Diplomacia. Ele foi um acadêmico e diplomata renomado, tendo servido como Conselheiro de Segurança Nacional e Secretário de Estado dos Estados Unidos. Seu livro oferece um extenso panorama da história das questões internacionais e da arte da diplomacia, com foco particular no século XX e no mundo ocidental. Kissinger, conhecido por seu alinhamento com a escola realista das Relações Internacionais, trata dos conceitos de equilíbrio de poder, razão de Estado e Realpolitik em diferentes épocas.
Sua obra foi amplamente elogiada pelo seu alcance e pelo seu detalhismo. Todavia, ela também enfrentou críticas por seu foco em indivíduos em detrimento de forças estruturais, e por apresentar uma visão reducionista da história. Além disso, alguns críticos também alegaram que o livro se concentra excessivamente no papel individual de Kissinger nos eventos, potencialmente superestimando sua influência sobre eles. De qualquer forma, as ideias do livro merecem ser consideradas.
Este artigo apresenta um resumo das ideias de Kissinger no vigésimo sétimo capítulo de seu livro, cujo título é “Vietnã: a extração: Nixon”.
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O governo Nixon foi encarregado de liderar os Estados Unidos em sua primeira grande retirada militar de um conflito estrangeiro, um processo que expôs divisões profundas entre os ideais norte-americanos e as realidades políticas. Diferente da saída da França da Argélia, que exigiu o abandono de colonos, a saída norte-americana do Vietnã envolveu a quebra de um compromisso de longa data que quatro presidentes dos EUA haviam apresentado publicamente como essencial para a segurança global. Nixon, portanto, enfrentou o desafio de se desengajar do Vietnã, uma causa anteriormente considerada crucial, em meio a um cenário doméstico fortemente polarizado.
O consenso nacional sobre o Vietnã desmoronou rapidamente. Em meados da década de 1960, o apoio público a uma guerra vista como parte de uma posição global contra o comunismo era forte. No entanto, em 1967, o conflito passou a ser cada vez mais encarado como um fracasso e uma empreitada equivocada. As comunidades intelectual e política, que antes elogiavam a visão progressista de John F. Kennedy, voltaram-se contra seu sucessor, Lyndon Johnson, a quem acusavam de perpetuar um conflito desnecessário e brutal. Ao final de seu mandato, Johnson era tão impopular que limitava suas aparições públicas a ambientes protegidos, enfrentando uma reação intensa mesmo dentro de seu próprio partido.
Essa agitação só se intensificou quando Richard Nixon assumiu o cargo. Ele buscou negociar uma retirada “honrosa”, com a intenção de evitar simplesmente abandonar os aliados vietnamitas do sul aos comunistas. No entanto, o crescente Movimento pela Paz via qualquer noção de honra na guerra como absurda. Os manifestantes desejavam uma retirada total, vendo-a como um passo necessário para que os Estados Unidos confrontassem suas próprias falhas, em vez de se imporem a outros. Essa geração de ativistas questionou o papel dos Estados Unidos como um aplicador global e começou a ver o conflito no Vietnã como um reflexo de uma política externa moralmente questionável. Enquanto Nixon via o papel dos Estados Unidos em apoiar aliados como essencial para a estabilidade global, o Movimento pela Paz via isso como uma expressão de arrogância e intervencionismo equivocado.
As atitudes do público norte-americano mudaram do patriotismo da era da Segunda Guerra Mundial para o ceticismo e a desilusão. Uma geração criada com ideais de excepcionalismo americano agora questionava se o papel da nação como “protetora dos povos livres” era justificado ou mesmo alcançável. Para muitos, a brutalidade da Guerra do Vietnã, transmitida pela televisão, destacou ambiguidades morais que os líderes norte-americanos achavam difíceis de abordar. Uma geração mais jovem de norte-americanos, criada no idealismo dos anos 1950 e 1960, exigia um retorno a uma posição moral elevada, considerando as alianças e os métodos dos Estados Unidos no Vietnã cada vez mais indefensáveis. Muitos defensores do movimento anti-guerra exigiam clareza moral absoluta, rejeitando compromissos que Nixon acreditava serem necessários para manter a credibilidade e a honra dos EUA.
Nixon lutou com a pressão para encerrar a guerra de forma decisiva, ao mesmo tempo que lidava com um público cada vez mais crítico do papel dos Estados Unidos no exterior. Ao contrário de Johnson, que tinha pouca experiência em assuntos internacionais, Nixon era bem versado em política externa, mas se via limitado por um ambiente doméstico hostil a qualquer forma de compromisso no Vietnã. Ele reconhecia que uma vitória no Vietnã já não era viável, mas buscava uma forma de sair com o mínimo de dano à reputação dos Estados Unidos. Essa ambição, no entanto, colidiu com as exigências de uma geração mais jovem, que não via valor na versão de uma saída “honrosa” de Nixon, defendendo, em vez disso, uma retirada imediata e incondicional.
Os protestos anti-guerra afetaram profundamente Nixon, que via os manifestantes não apenas como opositores políticos, mas como adversários ideológicos. Ele interpretava essas objeções públicas como parte de uma luta de longa data contra aqueles que ele via como minando os objetivos da nação e, por extensão, a ele próprio. A abordagem de Nixon para a diplomacia era sofisticada, mas sua resposta doméstica era frequentemente combativa. Ele percebia esses protestos como um ataque tanto à sua autoridade quanto à reputação dos Estados Unidos, o que reforçava sua crença de que seus críticos não compreendiam suas intenções.
As tentativas de fechar a divisão fracassaram, e Nixon recebeu apoio mínimo de figuras do establishment, muitos dos quais haviam ajudado a moldar as políticas dos Estados Unidos na Guerra Fria e apoiado inicialmente o envolvimento dos EUA no Vietnã. Figuras-chave de administrações anteriores, como Averell Harriman e Clark Clifford, tinham valores alinhados com os de Nixon, mas retinham o apoio público à sua estratégia para o Vietnã. Essas pessoas haviam inicialmente sido defensores vocais de uma presença global dos Estados Unidos, e a emergência do Movimento pela Paz complicou sua posição, pois os manifestantes incluíam pessoas que eles consideravam aliados em termos ideológicos. Muitas figuras do establishment, relutantes em endossar totalmente os métodos do Movimento pela Paz, encontraram-se, no entanto, em um acordo tácito com seus objetivos. Isso deixou Nixon isolado, com suas tentativas de consenso continuamente minadas por seus críticos e antigos aliados que se alinhavam indiretamente com os protestos.
Nixon buscou o que chamou de “paz honrosa” apesar da falta de apoio do Vietnã do Norte. Antes mesmo de assumir o cargo, Nixon enviou uma mensagem aos líderes norte-vietnamitas sinalizando seu desejo por negociações. No entanto, Hanói rejeitou sua oferta e logo intensificou as hostilidades, lançando uma nova ofensiva que resultou em baixas significativas para os americanos. A esperança de Nixon de encontrar um compromisso que pudesse unir o público norte-americano revelou-se fútil diante das exigências inflexíveis de Hanói, que insistia em uma retirada completa dos Estados Unidos e na deposição do governo sul-vietnamita, essencialmente exigindo uma rendição incondicional.
Nixon, confrontado com a complexidade do conflito, revisou possíveis estratégias. A opção de uma retirada unilateral foi rapidamente descartada, pois não tinha apoio político e poderia levar a consequências militares e diplomáticas desastrosas. Naquela época, nenhuma grande facção política nos Estados Unidos apoiava uma retirada completa e incondicional sem condições para Hanói. A plataforma democrata clamava por uma desescalada condicional, enquanto os republicanos defendiam uma estratégia para reduzir gradualmente o envolvimento americano. Uma retirada imediata teria deixado as forças americanas expostas em território hostil, causando caos e potencialmente colocando em risco aqueles que permaneciam. Nixon e seus conselheiros temiam que isso resultasse em um desastre geopolítico, minando gravemente a credibilidade dos Estados Unidos como um aliado confiável e levando à instabilidade dentro de suas alianças globais.
Diante desses obstáculos, o governo Nixon focou em uma segunda abordagem: forçar uma resolução por meio de pressão política e militar. Esse plano incluía aprovação do Congresso para sustentar o conflito, extensas negociações de paz que concediam quase tudo exceto capitulação, e uma estratégia militar revisada para proteger áreas povoadas enquanto interrompia as rotas de abastecimento norte-vietnamitas. Com o tempo, o governo implementou gradualmente essas medidas – interceptando a Trilha Ho Chi Minh, atacando bases norte-vietnamitas e minando portos – todas as quais pressionaram Hanói a aceitar termos em 1972 que haviam sido previamente rejeitados. No entanto, Nixon evitou executar essa abordagem agressiva de uma só vez devido a preocupações sobre as relações com a União Soviética e a China, inflamar a oposição doméstica e arriscar seus objetivos de política externa mais amplos.
Em vez disso, Nixon seguiu um terceiro caminho conhecido como “vietnamização”. Essa abordagem visava equilibrar o apoio doméstico norte-americano, fortalecer a capacidade militar do Vietnã do Sul e pressionar Hanói a negociar. Ao transferir gradualmente o fardo do conflito para o Vietnã do Sul, Nixon buscava retirar as forças dos EUA sem aparentar abandonar a causa. Ele se comprometeu a retirar as tropas enquanto fornecia treinamento e apoio contínuos às forças sul-vietnamitas, criando condições para que Saigon pudesse se defender. Simultaneamente, ele pretendia oferecer incentivos diplomáticos para a paz a Hanói, juntamente com ações militares ocasionais como um aviso contra excessos.
Essa estratégia, embora complexa e arriscada, tentava abordar múltiplos desafios. Nixon reconheceu que cada retirada fortalecia a determinação de Hanói e incitava novos protestos domésticos. Qualquer retaliação, por outro lado, intensificava o movimento anti-guerra. A vietnamização era um equilíbrio delicado que exigia sustentar a confiança pública americana, capacitar o Vietnã do Sul e dissuadir o Vietnã do Norte, tudo sem perder a coerência.
Em setembro de 1969, um memorando para Nixon, em grande parte preparado por Anthony Lake, delineava os riscos associados à vietnamização. O documento alertava que uma retirada lenta poderia, na verdade, aumentar a impaciência pública. Comparava as retiradas de tropas a “amendoins salgados” para o público; cada retorno de soldados só impulsionaria demandas por mais, potencialmente pressionando o governo a uma retirada unilateral e não planejada. Esse cenário, segundo o memorando, poderia fortalecer Hanói ao reforçar sua estratégia de resistir ao envolvimento dos EUA. Apesar desses alertas, o memorando carecia de continuidade em Washington, onde estratégias políticas muitas vezes exigem uma defesa vigorosa para provocar ação. Nixon acabou mantendo seu curso na vietnamização, em parte devido à entrada limitada de agências que estavam desmoralizadas pelos protestos domésticos.
A dura realidade era que Nixon enfrentava escolhas igualmente difíceis, cada uma com consequências sérias. A vietnamização, embora complexa, parecia a opção mais viável. Ela permitia que o público dos EUA e o Vietnã do Sul se preparassem gradualmente para a retirada americana, ao mesmo tempo que potencialmente fortalecia a posição do Vietnã do Sul. Caso a retirada unilateral eventualmente se tornasse necessária, essa abordagem gradual minimizaria o caos. Nixon pretendia negociar a paz enquanto se comprometia com essa estratégia, uma tarefa que confiou a seu conselheiro, apesar de saber que as negociações seriam árduas, especialmente considerando a intransigência do principal negociador de Hanói, Le Duc Tho. Le Duc Tho via o conflito como um jogo de soma zero, rejeitando a ideia de compromisso e duvidando da capacidade do Vietnã do Sul de resistir sem apoio significativo dos EUA.
A postura rígida dos líderes de Hanói, que percebiam as negociações apenas como oportunidades para impor suas demandas, confundia os diplomatas norte-americanos. Os esforços dos EUA para alcançar um compromisso eram ineficazes, já que Hanói focava exclusivamente na vitória. Embora o Vietnã do Norte ocasionalmente aceitasse conversar, isso só ocorria sob pressão – particularmente durante as campanhas de bombardeio dos Estados Unidos. No entanto, essas táticas de pressão alimentavam ainda mais o sentimento anti-guerra nos Estados Unidos, ampliando as dificuldades do governo.
As negociações com Hanói ocorreram em duas frentes: conversas formais, que incluíam todas as partes em Paris, e discussões secretas, que se limitavam aos representantes dos EUA e do Vietnã do Norte. As reuniões formais no Hotel Majestic muitas vezes empacavam em questões processuais e publicidade, enquanto as negociações secretas com Le Duc Tho, embora privadas, eram dolorosamente lentas. A abordagem de Hanói era calculada para manter uma vantagem psicológica, chegando a organizar para que os EUA iniciassem as conversas para destacar a ansiedade de Washington pela paz. Le Duc Tho e Xuan Thuy, outro representante norte-vietnamita, seguiam meticulosamente as rígidas posições de Hanói, reiterando que o único caminho para a paz era uma retirada completa dos EUA e a desintegração do governo de Saigon.
Em cada rodada de negociações, Le Duc Tho reforçava sua posição ideológica e insistia que Hanói detinha a vantagem estratégica. Ele rejeitava propostas americanas de cessar-fogo ou retiradas graduais, insistindo em termos que representariam uma concessão de derrota por parte dos EUA. Sua postura inflexível frequentemente incluía explicações elaboradas sobre as lutas históricas do Vietnã pela independência, transmitindo uma sensação de superioridade moral. Mesmo quando as negociações eram conduzidas em linguagem marxista para uma compreensão mútua, Le Duc Tho aproveitava cada oportunidade para reiterar seu desprezo ideológico pela posição dos EUA.
A tática de Le Duc Tho era sinalizar que Hanói estava disposto a deixar o tempo trabalhar a seu favor, aproveitando as divisões internas dos Estados Unidos em benefício próprio. Em 1970, ele rejeitou várias propostas de paz, incluindo cessar-fogos e cronogramas de retirada, como impraticáveis, acreditando que a crescente falta de determinação dos Estados Unidos levaria, em última análise, à sua capitulação.
Na próxima rodada de conversações em 1971, Le Duc Tho usou manobras táticas para pressionar o governo Nixon. Enquanto a Frente Nacional de Libertação (FNL) apresentava um plano de paz público em sete pontos, Le Duc Tho oferecia um plano privado de nove pontos nas negociações secretas, afirmando que este era o verdadeiro fundamento para a negociação. Essa tática permitia que Hanói criticasse publicamente os EUA por não responder a um plano que sequer estava disposto a discutir seriamente. Nixon eventualmente expôs essa tática, após o que Hanói a substituiu por uma vaga “elaboração de dois pontos” dos sete pontos originais, que servia apenas para criar mais pressão pública sobre Nixon. Em resposta a perguntas sobre o significado do plano de dois pontos, Le Duc Tho posteriormente admitiu que ele não tinha substância.
Uma quebra significativa ocorreu na fase final das negociações entre 1972 e 1973, quando Le Duc Tho finalmente abandonou sua insistência de que os EUA derrubassem o governo sul-vietnamita, concordando, em vez disso, com um cessar-fogo. Embora Le Duc Tho tenha se tornado mais cooperativo, ele manteve seu estilo de negociação difícil. Em um ponto, ele brincou dizendo que, já que os americanos não haviam correspondido ao “grande esforço” de Hanói nas negociações, agora precisavam fazer um esforço ainda maior.
Para Le Duc Tho, o único objetivo era alcançar uma vitória comunista, enquanto o governo Nixon precisava equilibrar uma série de prioridades, incluindo a reputação dos Estados Unidos e interesses globais de longo prazo. Os EUA tiveram que constantemente defender suas intenções contra acusações domésticas de insinceridade, apesar de terem feito repetidas concessões unilaterais desde que Nixon assumiu o cargo, incluindo retiradas de tropas e compromissos políticos que não trouxeram reciprocidade de Hanói.
Nos Estados Unidos, a crítica de figuras anti-guerra se intensificou. No final de 1969, Nixon enfrentava pressão significativa de figuras como o senador Charles Goodell, que introduziu uma resolução para retirar todas as forças americanas até o final de 1970, e de protestos anti-guerra em massa em todo o país. Essas manifestações, incorporadas pelo Movimento pela Paz, transformaram a Guerra do Vietnã em um conflito moral para muitos americanos, mudando o objetivo de uma paz negociada para uma saída rápida, independentemente das consequências estratégicas. A redução dos níveis de tropas por Nixon de quase 550.000 para 20.000 ao longo de três anos e a diminuição das baixas não suavizaram a oposição doméstica. Enquanto Nixon visava deixar o Vietnã de forma honrosa, o Movimento pela Paz via qualquer resultado que não fosse uma saída total e imediata como desonroso.
Críticos viam o governo de Saigon como um obstáculo à paz, considerando o Vietnã do Sul não como um aliado crucial, mas como um embaraço. Muitos defendiam um governo de coalizão, ignorando que Hanói definia “coalizão” como um meio de controle comunista. Os líderes norte-vietnamitas habilmente usavam uma linguagem vaga para apresentar suas propostas como razoáveis, mas uma análise mais detalhada revelava planos projetados para garantir a dominação comunista no Vietnã do Sul, não um compartilhamento genuíno de poder.
No cenário político americano, algumas vozes mal interpretavam ou minimizavam as intenções de Hanói. O senador Fulbright, por exemplo, descrevia o conflito como uma rivalidade entre poderes totalitários, enquanto o senador McGovern passou de sugerir um “governo misto” no Vietnã do Sul para defender uma retirada total dos EUA e a interrupção da ajuda militar. O governo Nixon estava disposto a apoiar eleições livres no Vietnã do Sul, monitoradas internacionalmente, mas se recusava a minar um aliado em prol de uma saída acelerada.
Para o Movimento pela Paz, a única medida de sucesso era o fim da guerra e, se isso não parecia iminente, assumia-se que a abordagem americana era falha. Essa perspectiva permitia que Hanói mantivesse demandas rígidas sem medo de críticas. Em 1972, apesar da redução das tropas americanas, da oferta de eleições pelo Vietnã do Sul e de um plano para a retirada completa dos EUA dentro de meses após um acordo de paz, o Movimento pela Paz continuava a questionar as motivações de Nixon, considerando qualquer negociação prolongada como injustificável.
À medida que o debate doméstico nos Estados Unidos se intensificava, ativistas anti-guerra passaram a defender cada vez mais um prazo fixo para a retirada, acreditando que isso garantiria uma resolução rápida. Essa ideia se tornou um ponto focal para as resoluções anti-guerra no Congresso, que somaram vinte e duas em 1971 e trinta e cinco em 1972. Muitos no Movimento pela Paz sentiam que um prazo estabelecido levaria a uma resolução rápida das questões pendentes, incluindo a libertação dos prisioneiros. No entanto, Hanói nunca prometeu tais resultados, mantendo sua exigência de um prazo de retirada fixo, juntamente com o compromisso dos Estados Unidos de remover o governo de Saigon. Hanói via o conflito como algo a ser vencido pela força, encarando as ofertas americanas como oportunidades de aprofundar as divisões internas dos Estados Unidos, em vez de passos em direção a uma negociação genuína.
Essa insistência em um prazo fixo marcou um ponto de virada. Nixon manteve-se firme em não se comprometer com uma data, a menos que suas condições fossem atendidas, embora ele finalmente tenha concordado com uma retirada completa ao alcançar esses objetivos. Essa decisão deixou o Vietnã do Sul em uma posição precária, forçado a se defender sozinho contra um inimigo implacável. Diferente de outros aliados americanos, o Vietnã do Sul ficou sem uma presença permanente de tropas dos EUA, o que significava que os Estados Unidos não tinham uma salvaguarda para garantir o cumprimento do acordo de paz. Em dois discursos significativos em 1972, Nixon delineou seus termos: um cessar-fogo supervisionado internacionalmente, a devolução de prisioneiros, a continuidade da ajuda a Saigon e um processo político livre no Vietnã do Sul. Em outubro, Hanói aceitou esses termos, concordando com um cessar-fogo e a libertação de prisioneiros americanos, ao mesmo tempo que permitia a continuidade da ajuda dos EUA sem exigir a derrubada do governo sul-vietnamita.
Essa mudança marcou um avanço, alcançado apenas após quatro anos difíceis. A aceitação de Hanói seguiu-se a uma série de ações dos EUA que enfraqueceram sua posição: a mineração de portos, ataques aos santuários cambojanos e laocianos, a derrota da ofensiva de primavera do Vietnã do Norte e o apoio limitado de Moscou e Pequim, especialmente após Nixon retomar os bombardeios no Norte. Hanói provavelmente antecipou que a iminente vitória eleitoral de Nixon fortaleceria sua capacidade de prolongar a guerra, um cálculo equivocado. No entanto, o governo Nixon sabia que o Congresso que estava por vir provavelmente cortaria o financiamento da guerra, tornando essencial um acordo de paz.
À medida que a paz se tornava iminente, Nixon e seus conselheiros esperavam que isso permitisse que os Estados Unidos iniciassem um processo de reconciliação nacional, pois o Movimento pela Paz veria seu objetivo alcançado, enquanto aqueles que buscavam um desfecho digno poderiam se sentir validados. Nos briefings sobre os termos do acordo, os conselheiros de Nixon enfatizaram os sacrifícios compartilhados e as percepções morais de ambos os lados do debate, expressando esperança de que esse momento fomentasse a cura tanto no Vietnã quanto nos Estados Unidos.
As já frágeis perspectivas de unidade nacional em torno do Vietnã se deterioraram ainda mais devido às ações de Nixon no Camboja. Como a decisão de intervir lá não foi herdada de administrações anteriores, isso desencadeou intensos debates partidários e alimentou o movimento anti-guerra. Os críticos acusaram Nixon de expandir desnecessariamente a guerra ao atingir santuários norte-vietnamitas no Camboja, e alguns até responsabilizaram os Estados Unidos pelo genocídio perpetrado pelo Khmer Vermelho que ocorreu no Camboja após 1975. No entanto, o Vietnã do Norte havia construído uma rede de logística no Camboja, usando-a para lançar ataques em grande escala contra forças americanas e sul-vietnamitas. A decisão de Nixon de bombardear e lançar ataques terrestres nessas áreas de santuário visava proteger a retirada gradual das forças americanas, que, de outra forma, seria comprometida pela presença inimiga descontrolada tão próxima à fronteira do Vietnã do Sul. Os próprios líderes cambojanos viam essas ações dos EUA como uma defesa da neutralidade de seu país.
O debate sobre o Camboja rapidamente tornou-se emblemático dos argumentos morais contra a Guerra do Vietnã, ofuscando considerações de estratégia militar. Críticos americanos não conseguiam compreender plenamente o fanatismo ideológico do Khmer Vermelho, cujos líderes estavam determinados a realizar uma revolução social violenta. A noção de que as ações dos EUA transformaram o Khmer Vermelho em assassinos em massa é tão infundada quanto culpar os bombardeios americanos pelas atrocidades nazistas na Segunda Guerra Mundial.
Após a assinatura dos Acordos de Paz de Paris em janeiro de 1973, houve pouca sensação de triunfo ou alívio. Os manifestantes mantiveram-se cínicos, suspeitando que a insistência de Nixon em “paz com honra” pudesse sinalizar um futuro retorno a políticas externas expansivas. Muitos argumentaram que o acordo poderia ter sido alcançado anos antes e criticaram Nixon por não ter assegurado o acordo mais cedo, ignorando o fato de que o Vietnã do Norte havia consistentemente rejeitado os termos dos EUA até aquele momento. Nixon prosseguiu com o acordo não para influenciar a eleição iminente, na qual ele já estava à frente, mas para honrar seu compromisso com uma resolução uma vez que as condições acordadas fossem cumpridas.
Um equívoco comum é que Nixon prolongou desnecessariamente a guerra por quatro anos, apesar de poder garantir os mesmos termos anteriormente. No entanto, registros históricos mostram que os EUA se comprometeram apenas quando o Vietnã do Norte aceitou termos que antes haviam sido recusados. Embora a guerra tenha terminado oficialmente em 1973, a controvérsia continuou sobre a responsabilidade dos Estados Unidos de garantir a aplicação do acordo de paz. Nixon e seu governo compreendiam a natureza delicada do acordo, sabendo que ele poderia desmoronar sem o apoio dos EUA. Apesar da turbulência política em curso, o governo acreditava que as disposições militares e econômicas do acordo poderiam ajudar a manter a estabilidade do Vietnã do Sul, caso o Norte evitasse incursões adicionais.
Nixon estava aberto a incentivar a integração do Vietnã do Norte na comunidade internacional por meio de assistência econômica, mas também estava preparado para usar o poder aéreo caso o Vietnã do Norte violasse flagrantemente o acordo de paz, uma postura que o governo nunca descartou publicamente ou privadamente.
Após a guerra, o governo Nixon antecipava a necessidade de fazer valer os termos do acordo de paz, vendo isso como seu dever de honrar um pacto pelo qual tantos americanos haviam se sacrificado. Nixon deixou claro que violações significativas provocariam uma resposta dos EUA, mas ele enfrentava desafios crescentes com o escândalo Watergate erodindo sua autoridade. Apesar das evidências de que o Vietnã do Norte infringia o acordo – incluindo o aumento de tropas no Vietnã do Sul e a continuidade das operações de abastecimento pela Trilha Ho Chi Minh – o Congresso rejeitou a capacidade de Nixon de fazer valer o acordo. Em meados de 1973, o Congresso cortou todo o financiamento para operações militares americanas no Sudeste Asiático, efetivamente minando a possibilidade de uma participação sustentada dos EUA na manutenção da paz.
Sem o apoio dos EUA, a posição do Vietnã do Sul enfraqueceu. O Congresso reduziu a ajuda ao Vietnã do Sul a cada ano após o acordo, e em 1975 até mesmo o Camboja foi abandonado, pouco antes de cair nas mãos do Khmer Vermelho. Essas decisões, tomadas por alguns membros do Congresso para evitar novos envolvimentos americanos, ironicamente levaram ao derramamento de sangue que esperavam evitar, com genocídios no Camboja e severa repressão no Vietnã. Esse desfecho trágico refletiu uma falha em equilibrar idealismo com apoio realista, deixando os Estados Unidos moralmente divididos sobre seu envolvimento.
A divisão ideológica entre aqueles que viam o Vietnã como um compromisso moral e aqueles que o viam como um exagero persistiu. A vitória esmagadora de Nixon em 1972 refletia o apoio popular por uma resolução honrosa, mas o Congresso mais tarde desmantelou as bases que permitiriam aos EUA manter os termos de paz na região. Essa divisão, enraizada em imperativos morais contrastantes, continua a moldar o discurso público sobre a Guerra do Vietnã, com um foco maior em atribuir culpa do que em entender os complexos desdobramentos.
As consequências no Sudeste Asiático confirmaram alguns dos sombrios alertas que formuladores de políticas haviam feito sobre os riscos de uma tomada comunista. No Camboja, o Khmer Vermelho cometeu atrocidades em massa, matando uma grande parte da população. No Vietnã, o novo governo enviou centenas de milhares para campos de reeducação e prendeu dissidentes políticos, com a Frente de Libertação Nacional tornando-se, em última análise, pouco mais que um fantoche de Hanói. Qualquer noção de um Vietnã do Sul verdadeiramente independente e liderado por comunistas foi rapidamente abandonada, à medida que Hanói buscava a reunificação sob o domínio do Norte.
A queda do Vietnã do Sul teve consequências globais mais amplas. O colapso percebido dos Estados Unidos encorajou movimentos antiocidentais em todo o mundo, levando a intervenções soviéticas e cubanas em lugares como Angola e Etiópia. A perda do Vietnã também elevou os riscos para aliados regionais, que podem ter se sentido incentivados a resistir à expansão comunista, como foi o caso do sucesso da Indonésia em suprimir um golpe comunista em 1965. Embora o “efeito dominó” tenha sido limitado geograficamente, a perda do Vietnã do Sul reverberou muito além do Sudeste Asiático, influenciando a dinâmica da Guerra Fria por anos a fio.
O envolvimento dos Estados Unidos no Vietnã teve um custo elevado, com perdas que superaram em muito quaisquer ganhos potenciais. Os líderes dos EUA aplicaram políticas em estilo europeu ao Sudeste Asiático, negligenciando as profundas diferenças de cultura, política e estruturas sociais. Guiados pelo idealismo, os Estados Unidos subestimaram os desafios de implementar a democracia no Vietnã, uma sociedade influenciada por tradições confucionistas e engajada em uma luta por autodeterminação em meio à intervenção estrangeira.
A Guerra do Vietnã também fraturou a própria sociedade americana. Inicialmente otimistas quanto à transformação do Vietnã em uma democracia, os oficiais americanos interpretaram erroneamente as realidades políticas no terreno. Quando a realidade ficou aquém desses objetivos idealistas, a desilusão se instalou, aprofundando as divisões internas. Os formuladores de políticas, totalmente comprometidos com decisões que poderiam duvidar em privado, projetaram confiança que muitas vezes mascarava a falta de clareza ou a má compreensão da situação.
A imprensa e o Congresso desempenham papéis cruciais ao escrutinar as ações do governo, especialmente quando ocorrem deturpações. No entanto, as críticas à “lacuna de credibilidade” do governo perderam o ponto principal: o público e o Congresso estavam bem cientes do compromisso dos EUA com o Vietnã e o haviam apoiado por meio de financiamento. Embora ingênua, a intenção de defender uma nação recém-estabelecida de uma tomada comunista não justificava o intenso debate interno que corroeu os valores centrais da América.
Hoje, extrair lições construtivas do Vietnã exige uma reflexão bipartidária. Os Estados Unidos devem garantir que compreendem a natureza de uma ameaça e definir objetivos alcançáveis antes de se comprometerem com um conflito. A ação militar deve visar decisivamente a vitória, já que impasses prolongados exaurem o apoio público. Além disso, a política externa americana precisa de uma frente unificada; lutas internas levam à falta de coesão e minam objetivos de longo prazo. A luta de Nixon para aplicar sua política em meio a um Congresso dividido destacou que os presidentes não podem conduzir a política externa sem o apoio legislativo, especialmente em tempos de guerra.
O Vietnã obrigou os Estados Unidos a confrontarem seus próprios limites. Diferente de conflitos anteriores, em que a clareza moral e a abundância material fortaleceram a confiança americana, a ambiguidade moral do Vietnã e o impacto limitado de seus recursos desafiaram a autoimagem dos Estados Unidos. O legado divisivo da guerra foi um testemunho da capacidade dos americanos para a introspecção, uma disposição para arriscar o colapso social e político em busca de renovação.
No final, a experiência do Vietnã ensinou lições valiosas que moldaram a política futura dos Estados Unidos. Após a guerra, a América recuperou sua confiança, enquanto a União Soviética, que inicialmente viu o fracasso americano no Vietnã como um sinal de fraqueza ocidental, expandiu-se globalmente até colapsar sob o peso de suas ambições.
Essa história levanta questões sobre o impacto potencial da contenção americana. Uma postura passiva dos EUA poderia ter acelerado a autodestruição da União Soviética sem intervenção direta? Embora seja uma ideia intrigante, tal estratégia seria arriscada e moralmente incerta, oferecendo pouco conforto àqueles que sofriam sob regimes opressivos.
A luta da América no Vietnã destacou, em última análise, suas preocupações éticas e senso de responsabilidade. Os Estados Unidos recuperaram sua posição na década de 1980, e, na década de 1990, as nações novamente buscaram orientação americana. Hoje, enquanto as memórias do Vietnã relembram a nação de suas dificuldades, elas também ressaltam a importância da unidade, que continua sendo essencial tanto para a resiliência americana quanto para as esperanças daqueles que veem os EUA como um líder global.
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