Resumo: Diplomacia, de Kissinger — Capítulo 29 — Détente

Diplomacia por Henry Kissinger. Detalhe da capa do livro.

Em 1994, Henry Kissinger publicou o livro Diplomacia. Ele foi um renomado acadêmico e diplomata que serviu como Conselheiro de Segurança Nacional e Secretário de Estado dos Estados Unidos. Seu livro oferece uma vasta análise da história das relações exteriores e da arte da diplomacia, com foco particular no século XX e no Mundo Ocidental. Kissinger, conhecido por seu alinhamento com a escola realista das relações internacionais, investiga os conceitos de equilíbrio de poder, razão de Estado (raison d’État) e Realpolitik em diferentes eras.

Sua obra foi amplamente elogiada por seu escopo e detalhes intrincados. No entanto, também enfrentou críticas por seu foco em indivíduos em detrimento de forças estruturais e por apresentar uma visão reducionista da história. Além disso, críticos também apontaram que o livro foca excessivamente no papel individual de Kissinger nos eventos, potencialmente exagerando seu impacto. De qualquer forma, suas ideias são dignas de consideração.

Este artigo apresenta um resumo das ideias de Kissinger no vigésimo nono capítulo de seu livro, intitulado “A Détente e Seus Descontentamentos”.

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A Administração Nixon buscou levar os Estados Unidos para além da custosa e desmoralizante Guerra do Vietnã, com o objetivo de estabelecer o que chamou de “estrutura de paz”. Essa estratégia dependia da exploração da relação triangular entre os EUA, a União Soviética e a China. Como resultado, seguiram-se vários avanços diplomáticos: a guerra no Vietnã terminou, um acordo garantiu o acesso a Berlim dividida, a influência soviética no Oriente Médio diminuiu e o processo de paz árabe-israelense começou. Esses eventos estavam interconectados, criando uma situação em que o progresso diplomático em uma área facilitava avanços em outras.

Na Europa, a détente introduziu um novo nível de flexibilidade diplomática após anos de estagnação. Até 1969, a Alemanha Ocidental manteve a Doutrina Hallstein, recusando-se a reconhecer a Alemanha Oriental ou a manter laços com qualquer nação que o fizesse. Após a construção do Muro de Berlim em 1961, a questão da unificação alemã desapareceu das negociações internacionais. Enquanto isso, o presidente francês Charles de Gaulle buscava uma política de détente com Moscou, acreditando que, se a União Soviética visse a Europa como independente em vez de um satélite americano, poderia aliviar seu controle sobre a Europa Oriental. Ele esperava que a Alemanha Ocidental seguisse o exemplo da França e se distanciasse um pouco de Washington.

Embora a avaliação de De Gaulle sobre a situação fosse perspicaz, ele superestimou a capacidade da França de influenciar o cenário geopolítico. A Alemanha Ocidental permaneceu comprometida com sua aliança com os EUA. No entanto, alguns líderes alemães viram potencial na abordagem de De Gaulle, acreditando que a Alemanha tinha uma alavancagem que a França não possuía. Willy Brandt, então Ministro das Relações Exteriores da Alemanha, observou que a visão de De Gaulle acabou lançando as bases para o que mais tarde se tornaria a Ostpolitik. Contudo, a invasão soviética da Tchecoslováquia em 1968 destruiu as aspirações de De Gaulle. Ironicamente, esse evento também criou uma oportunidade para Brandt, que se tornou Chanceler em 1969 e buscou uma abordagem mais pragmática para as relações Leste-Oeste.

Brandt propôs uma mudança de estratégia, argumentando que, em vez de depender exclusivamente do Ocidente, a Alemanha deveria melhorar as relações com o bloco comunista. Ele defendeu o reconhecimento da Alemanha Oriental, a aceitação da fronteira pós-guerra com a Polônia e a construção de laços mais fortes com a União Soviética. O objetivo era aliviar as tensões de uma forma que pudesse, eventualmente, abrir a porta para a unificação alemã ou, no mínimo, melhorar as condições para os alemães orientais.

Inicialmente, a Administração Nixon estava cética em relação à Ostpolitik. Havia preocupações de que a Alemanha Ocidental e Oriental, cada uma tentando influenciar a outra, pudessem eventualmente se alinhar de uma forma que enfraquecesse a aliança ocidental. Embora a Alemanha Ocidental tivesse o sistema político e social mais forte, uma vez que reconhecesse a Alemanha Oriental, essa decisão seria irreversível. Washington também temia que a Alemanha pudesse, eventualmente, adotar uma postura nacionalista ou neutralista, minando a OTAN. A França já havia rompido a unidade ocidental ao se retirar do comando militar da OTAN e buscar sua própria política de détente com Moscou. Se a Alemanha Ocidental agisse de forma independente, poderia enfraquecer ainda mais o bloco ocidental.

No entanto, à medida que a Ostpolitik de Brandt ganhava força, Nixon e seus conselheiros reconheceram que a abordagem existente — apegar-se à Doutrina Hallstein — estava se tornando insustentável. Em meados da década de 1960, até mesmo Bonn havia modificado a doutrina, reconhecendo que os governos comunistas da Europa Oriental não eram livres para tomar suas próprias decisões diplomáticas. Mais importante, não havia caminho realista para a unificação alemã sem a cooperação soviética. Moscou provavelmente não deixaria a Alemanha Oriental entrar em colapso sem desencadear uma grande crise, o que poderia dividir a aliança ocidental. As nações ocidentais há muito tempo apoiavam verbalmente a unidade alemã sem tomar medidas reais para alcançá-la, e essa estratégia havia chegado ao seu limite. A abordagem existente para a política alemã estava desmoronando.

Percebendo que resistir à Ostpolitik poderia afastar a Alemanha Ocidental da OTAN e da Comunidade Europeia, a Administração Nixon decidiu apoiar a iniciativa de Brandt em vez de arriscar perder influência. Ao mesmo tempo, Nixon usou o apoio dos EUA à Ostpolitik como alavanca para resolver a longa crise de Berlim. A administração insistiu que qualquer reconhecimento da Alemanha Oriental deveria estar vinculado a garantias de livre acesso a Berlim e à contenção soviética nos assuntos internacionais. Sem tais garantias, Berlim — cercada pelo território da Alemanha Oriental — se tornaria vulnerável à interferência comunista, uma situação que líderes soviéticos anteriores haviam buscado criar através de bloqueios e ultimatos.

Como Berlim estava tecnicamente ainda sob o controle das quatro potências vitoriosas da Segunda Guerra Mundial, as negociações tiveram que envolver os EUA, o Reino Unido, a França e a União Soviética. Tanto a liderança soviética quanto o principal negociador de Brandt, Egon Bahr, procuraram Washington para ajudar a romper o impasse. Após um complexo processo de negociação, um acordo quadripartite foi finalizado em 1971. Este acordo garantiu o acesso ocidental a Berlim e protegeu sua liberdade, removendo efetivamente a cidade da lista de pontos de conflito globais. A próxima vez que Berlim ressurgiu nas discussões internacionais foi em 1989, quando o Muro de Berlim caiu e a Alemanha Oriental entrou em colapso.

Além do acordo de Berlim, a Ostpolitik levou a vários tratados importantes: a Alemanha Ocidental assinou acordos com a Polônia, a Alemanha Oriental e a União Soviética. Os soviéticos, apesar de seu status de superpotência nuclear, estavam particularmente ansiosos para que a Alemanha Ocidental reconhecesse as fronteiras estabelecidas por Stalin, sugerindo uma insegurança subjacente. Esses tratados também encorajaram a contenção soviética. Enquanto os tratados estavam sendo debatidos no parlamento da Alemanha Ocidental, Moscou evitou ações que pudessem comprometer sua ratificação. Mesmo após sua aprovação, os soviéticos foram cuidadosos para não empurrar a Alemanha de volta às políticas mais rígidas da era de Adenauer.

Essa dinâmica influenciou a diplomacia mais ampla da Guerra Fria. Quando Nixon escalou a Guerra do Vietnã minando os portos do Vietnã do Norte e retomando o bombardeio de Hanói, a resposta soviética foi comedida. A estrutura da détente havia criado um sistema global de incentivos diplomáticos interligados. Se os soviéticos quisessem se beneficiar da redução das tensões, também teriam que contribuir para a manutenção da estabilidade.

No Oriente Médio, a Administração Nixon utilizou a détente tanto como ferramenta diplomática quanto como meio de reduzir a influência soviética. Ao longo da década de 1960, a União Soviética havia se tornado o principal fornecedor de armas para o Egito e a Síria, ao mesmo tempo em que fornecia apoio técnico e organizacional a grupos árabes radicais. Em fóruns internacionais, Moscou frequentemente atuava como a principal voz dos interesses árabes, às vezes defendendo as posições mais extremas. Essa dinâmica criou uma situação em que qualquer progresso diplomático poderia ser creditado ao apoio soviético, enquanto o impasse contínuo arriscava desencadear crises repetidas. A única maneira de quebrar esse impasse era confrontar todas as partes envolvidas com a realidade geopolítica: Israel era forte demais para ser derrotado militarmente, e os Estados Unidos estavam determinados a impedir a intervenção soviética. Assim, a Administração Nixon insistiu que nenhum progresso real poderia ocorrer a menos que todos os lados — não apenas os aliados da América — estivessem dispostos a fazer concessões.

A União Soviética era adepta de escalar tensões, mas carecia da capacidade de resolver conflitos ou garantir vitórias diplomáticas duradouras para seus aliados. Podia ameaçar intervir, como fez em 1956, mas historicamente, os líderes soviéticos haviam recuado diante da firme oposição dos EUA. Consequentemente, a verdadeira chave para resolver os conflitos do Oriente Médio estava em Washington, não em Moscou. Se os Estados Unidos administrassem sua abordagem com cuidado, poderiam forçar a União Soviética a contribuir para uma solução genuína ou arriscar perder influência entre seus aliados árabes. Essa avaliação estratégica fundamentou a política da Administração Nixon, que buscava expulsar gradualmente os soviéticos do Oriente Médio.

Os líderes soviéticos não conseguiram compreender sua própria vulnerabilidade estratégica e tentaram atrair os Estados Unidos para apoiar resoluções diplomáticas que reforçariam a posição soviética na região. No entanto, enquanto Moscou continuasse armando regimes árabes radicais e alinhando-se com suas posições mais extremas, Washington não via benefício em cooperar. Nixon e seus conselheiros acreditavam que a melhor abordagem era expor a incapacidade dos soviéticos de resolver crises. Ao recompensar líderes árabes moderados com apoio americano quando suas demandas eram razoáveis, os EUA incentivaram o pragmatismo. O objetivo era claro: forçar a União Soviética a participar de um processo de paz significativo ou ser marginalizada.

Para alcançar isso, os Estados Unidos implementaram duas estratégias complementares. Primeiro, bloqueou qualquer iniciativa árabe que dependesse de apoio militar soviético ou intervenção soviética direta. Segundo, assumiu o controle do processo de paz assim que os líderes árabes ficaram frustrados com o impasse e buscaram a mediação dos EUA em vez do apoio soviético. Essa mudança ocorreu após a Guerra do Oriente Médio de 1973.

Antes desse ponto de virada, os esforços americanos encontraram obstáculos significativos. Em 1969, o Secretário de Estado William Rogers introduziu um plano de paz propondo que Israel se retirasse para suas fronteiras de 1967 com pequenos ajustes em troca de um acordo de paz abrangente. A proposta falhou: Israel a rejeitou devido a preocupações com a segurança territorial, enquanto as nações árabes a descartaram porque ainda não estavam preparadas para se comprometer com a paz, mesmo em termos vagos.

Em 1970, conflitos militares desestabilizaram ainda mais a região. Ao longo do Canal de Suez, o Egito lançou uma guerra de atrito contra Israel, provocando ataques aéreos israelenses em território egípcio profundo. Em resposta, a União Soviética implantou um sofisticado sistema de defesa aérea no Egito, operado por 15.000 militares soviéticos. A volatilidade da região não se limitou ao Egito. Naquele mesmo ano, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) havia estabelecido controle quase autônomo na Jordânia. Depois que a OLP sequestrou quatro aviões e os levou para a Jordânia, o Rei Hussein lançou uma ofensiva militar contra a organização. A Síria, apoiando facções palestinas, invadiu a Jordânia, levando Israel a mobilizar suas forças. À medida que as tensões aumentavam, os EUA reforçaram sua presença naval no Mediterrâneo e deixaram claro que a intervenção externa não seria tolerada. A União Soviética, relutante em arriscar um confronto direto com os Estados Unidos, absteve-se de uma escalada maior. A crise revelou aos líderes árabes qual superpotência detinha a influência decisiva sobre os assuntos do Oriente Médio.

O primeiro sinal importante do sucesso da estratégia de Nixon veio em 1972, quando o presidente egípcio Anwar Sadat expulsou todos os conselheiros e técnicos militares soviéticos do Egito. Simultaneamente, contatos diplomáticos secretos entre Sadat e a Casa Branca começaram, embora esses esforços iniciais tenham sido complicados primeiro pela eleição presidencial dos EUA e depois pelo escândalo Watergate.

Em 1973, Egito e Síria lançaram um ataque surpresa a Israel, pegando de surpresa tanto a inteligência israelense quanto a americana. Preconceitos sobre o domínio militar de Israel levaram os analistas americanos a descartar os avisos árabes de guerra. Embora não houvesse evidências de que a União Soviética encorajou o Egito e a Síria a lançar o ataque e, de fato, Moscou pediu um cessar-fogo desde o início, o conflito demonstrou as dinâmicas mutáveis na região. Embora os soviéticos tenham fornecido algum reabastecimento a seus aliados árabes, isso não chegou nem perto da escala do maciço transporte aéreo dos EUA que reabasteceu as forças de Israel.

O resultado da guerra reforçou uma constatação crítica para os líderes árabes. Apesar de terem se saído melhor do que em conflitos anteriores, Egito e Síria foram novamente superados por Israel. As forças israelenses haviam cruzado o Canal de Suez, chegando a 32 quilômetros do Cairo, enquanto também avançavam para os arredores de Damasco. Ficou claro que futuros ganhos árabes exigiriam apoio diplomático americano em vez da dependência contínua da ajuda militar soviética.

Sadat foi o primeiro líder árabe a internalizar essa lição. Ele abandonou sua abordagem de tudo ou nada e mudou seu foco para o progresso incremental, recorrendo a Washington em vez de Moscou para obter assistência. Até mesmo o presidente sírio Hafez al-Assad, tradicionalmente visto como o mais radical dos dois líderes e um aliado soviético mais próximo, procurou os Estados Unidos para ajudar nas negociações sobre as Colinas de Golã. Essa mudança levou a uma série de avanços diplomáticos. Em 1974, Egito e Síria assinaram acordos interinos com Israel, iniciando um processo de retiradas israelenses em fases em troca de garantias de segurança. Em 1975, Egito e Israel concluíram um segundo acordo de desengajamento. Isso preparou o cenário para o histórico tratado de paz de 1979 entre Egito e Israel, mediado pelo presidente Carter. O padrão da diplomacia do Oriente Médio liderada pelos EUA continuou nos anos posteriores, culminando nas negociações diretas árabe-israelenses organizadas pelo Secretário de Estado James Baker em 1991 e nos acordos israelense-palestinos sob o presidente Clinton em 1993. Notavelmente, a União Soviética não desempenhou nenhum papel significativo em nenhum desses marcos diplomáticos.

O objetivo central da política de Nixon para o Oriente Médio não era detalhar todos os aspectos da diplomacia regional, mas demonstrar como os EUA usaram seu relacionamento com Moscou para reduzir a influência soviética sem provocar uma crise maior. Os críticos da abordagem de Nixon frequentemente ridicularizavam sua ênfase na negociação de acordos com a União Soviética, descartando-a como uma busca vazia pela détente. No entanto, a diplomacia de Nixon no Oriente Médio exemplificou sua estratégia mais ampla de estruturar a paz. Não foi impulsionada por uma crença idealista na cooperação por si só, mas por um esforço calculado para moldar a competição geopolítica. A estratégia americana forçou a União Soviética a escolher entre manter laços com clientes árabes radicais ao custo de diminuir a influência ou se adaptar ao cenário político em mudança.

A Administração Nixon seguiu dois cursos paralelos para implementar essa estratégia. Primeiro, manteve comunicação regular com os líderes soviéticos durante a Guerra do Oriente Médio para evitar decisões precipitadas ou mal informadas que pudessem escalar para uma crise maior. Essa abordagem não eliminou todas as tensões, mas reduziu a probabilidade de mal-entendidos que pudessem sair do controle. Segundo, engajou-se em negociações mais amplas em várias frentes, dando à liderança soviética incentivos para evitar comportamentos imprudentes. As negociações de Berlim, por exemplo, contribuíram para a contenção soviética no Oriente Médio até 1973. Mais tarde, a Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa ajudou a moderar as respostas soviéticas aos esforços diplomáticos americanos na região.

Este cuidadoso ato de equilíbrio garantiu que a détente não se tornasse um fim em si mesma, mas permanecesse uma ferramenta para alcançar objetivos estratégicos. O sucesso da política foi evidente: a União Soviética, em vez de ganhar terreno no Oriente Médio, acabou aceitando um recuo geopolítico significativo. Enquanto isso, os Estados Unidos emergiram como o principal mediador e agente de poder na diplomacia do Oriente Médio, um papel que mantêm desde então.

Os sucessos da política externa da Administração Nixon não a protegeram de controvérsias crescentes. Qualquer mudança importante na política encontra resistência, e a abordagem de Nixon — particularmente a estratégia de vinculação (linkage), a abertura para a China e a détente com a União Soviética — desafiou tradições profundamente enraizadas. O establishment da política externa americana há muito favorecia uma abordagem legalista, enquanto muitos formuladores de políticas e comentaristas preferiam ver as nações como aliadas ou adversárias, em vez de atores complexos capazes de cooperação e conflito. A abertura da China irritou o lobby chinês ferrenhamente anticomunista, e o conceito de détente era inquietante para aqueles que acreditavam em um confronto ideológico inflexível com a União Soviética.

Os debates sobre a política externa de Nixon lembravam momentos anteriores na história dos EUA, quando presidentes reorientaram o papel da América nos assuntos globais. Wilson enfrentou oposição feroz ao mover uma América isolacionista em direção ao engajamento internacional durante e após a Primeira Guerra Mundial. Roosevelt encontrou resistência ao direcionar o país para apoiar a Grã-Bretanha antes da entrada da América na Segunda Guerra Mundial. Truman navegou por um período contencioso enquanto lançava as bases para a contenção da Guerra Fria. No entanto, o desafio de Nixon foi ainda maior, pois suas políticas se desenrolaram no contexto da Guerra do Vietnã e, mais tarde, do escândalo Watergate.

No sistema americano, o presidente está em posição única para definir e executar a política externa a longo prazo. O Congresso tende a se concentrar em ações legislativas discretas, enquanto a mídia pode recomendar direções amplas, mas carece da capacidade de gerenciar os detalhes intrincados da diplomacia. Somente o presidente pode integrar esses elementos em uma estratégia coerente. Embora outras instituições possam modificar ou obstruir a política externa presidencial, raramente fornecem uma alternativa unificada. Historicamente, mudanças significativas na política externa vieram de presidentes fortes que moldaram debates e guiaram a direção da nação. Se Watergate não tivesse minado a liderança de Nixon, sua política externa poderia ter sido institucionalizada como uma estrutura duradoura, assim como Roosevelt havia remodelado a política doméstica e Truman havia estabelecido a contenção como a estratégia da América na Guerra Fria.

Watergate, no entanto, destruiu a capacidade de Nixon de liderar eficazmente. Embora continuasse a agir decisivamente em questões imediatas, ele carecia da autoridade moral para moldar debates de política de longo prazo. Sem uma voz presidencial forte para integrar perspectivas concorrentes, as discussões sobre política externa degeneraram em disputas faccionais. A década de 1970 tornou-se, assim, um período de contenda sobre os temas que Nixon havia introduzido, mas sem a síntese necessária para uma direção estratégica clara.

A abordagem de Nixon desafiou a crença americana profundamente arraigada de que a política externa deveria ser baseada em princípios morais em vez de política de poder. Tradicionalmente, os americanos viam a ordem internacional como fundamentalmente moldada pela boa vontade e pelo compromisso, com a hostilidade vista como uma anomalia. Nixon e seus conselheiros, no entanto, viam um mundo impulsionado por interesses nacionais concorrentes, onde a diplomacia tratava de gerenciar a complexidade em vez de buscar resoluções finais. Nessa perspectiva, nenhuma decisão de política externa seria absoluta ou final; toda solução levaria a novos desafios exigindo adaptação adicional.

Essa visão exigia uma política externa focada na resiliência em vez de aspirações idealistas. Embora os valores americanos tradicionais permanecessem importantes, eles não podiam mais ser traduzidos em objetivos simples e imediatos. Em vez disso, serviriam como a força subjacente que guiaria a América através de incertezas contínuas, sempre buscando um mundo melhor, embora nunca perfeito.

A disposição de Nixon de engajar a União Soviética como adversária e parceira de negociação foi um pilar central de sua estratégia. Ele via o comunismo como um desafio ideológico fundamental, mas acreditava que poderia ser contido através da diplomacia em vez de confronto aberto. No entanto, essa abordagem entrou em conflito com um desejo crescente entre os americanos — particularmente após a desilusão do Vietnã — de reafirmar um compromisso moral em vez de buscar um equilíbrio de poder calculado.

Sem um presidente capaz de articular uma justificativa moral convincente para suas políticas, a oposição cresceu tanto da esquerda quanto da direita. Liberais viam a ênfase de Nixon no interesse nacional como carente de uma bússola moral, enquanto conservadores viam a détente como uma concessão perigosa ao comunismo. A política externa americana há muito era moldada pela tradição Wilsoniana, que enfatizava a segurança coletiva, a arbitragem legal e o desarmamento. Nixon rejeitou essa abordagem, focando em vez disso nas dinâmicas de poder e no equilíbrio estratégico. Isso colocou os liberais em uma posição desconfortável: eles apoiavam resultados como melhores relações EUA-Soviéticas e a abertura para a China, mas estavam inquietos com os princípios pragmáticos e orientados por interesses que sustentavam esses sucessos.

Para os conservadores, a abordagem de Nixon era ainda mais perturbadora. Eles viam a Guerra Fria principalmente como uma batalha ideológica, não uma disputa geopolítica. Muitos já haviam abandonado o Vietnã sob a Administração Johnson, vendo-o como uma distração da luta mais ampla contra o comunismo. Ao contrário de Nixon, que via o Vietnã como uma frente chave em uma luta global, os conservadores preferiam um confronto mais rígido com a União Soviética, rejeitando qualquer forma de compromisso como fraqueza. Embora alguns relutantemente aceitassem a abertura da China como um movimento tático contra Moscou, eles permaneceram profundamente céticos em relação a negociações amplas com a União Soviética.

Um novo grupo — os neoconservadores — emergiu de uma fonte inesperada: democratas liberais e anticomunistas que haviam se desiludido com a guinada à esquerda de seu partido. A candidatura de McGovern em 1972 cimentou sua ruptura com o liberalismo tradicional, e a Guerra do Oriente Médio de 1973 deu a eles sua primeira grande plataforma para articular suas visões de política externa. Embora fossem fervorosos anticomunistas, os neoconservadores não se alinharam com Nixon. Muitos haviam se oposto à Guerra do Vietnã e, apesar de sua postura agressiva (hawkish), não creditavam a Nixon a perseverança no conflito em prol da credibilidade global da América. Eles viam Nixon com suspeita, temendo que ele pudesse sacrificar os interesses dos EUA para salvar sua presidência.

Agravando esses desafios estava a decisão de Nixon de concentrar a tomada de decisões de política externa na Casa Branca, marginalizando os canais burocráticos tradicionais. Durante seu primeiro mandato, ele havia transferido a autoridade diplomática do Departamento de Estado, criando canais secretos diretos com líderes estrangeiros. O mais notável deles foi sua linha direta de comunicação com o embaixador soviético Anatoly Dobrynin, que permitiu que decisões de alto nível fossem tomadas sem interferência de diplomatas de carreira. Essa abordagem, embora eficiente, alienou o establishment burocrático.

Negociações diplomáticas sempre envolvem concessões mútuas, mas aqueles excluídos do processo frequentemente acreditam que um acordo melhor poderia ter sido garantido se apenas sua opinião tivesse sido solicitada. Ao contornar os canais usuais, Nixon e seus conselheiros atraíram ressentimento de funcionários que se sentiram desconsiderados. À medida que a oposição aumentava de conservadores, liberais e neoconservadores, Nixon se viu defendendo uma política externa que, em muitos aspectos, havia sido notavelmente bem-sucedida.

Os críticos instaram a Administração a adotar uma postura mais confrontadora em um momento em que a América estava profundamente dividida. O Movimento pela Paz estava no auge, o Presidente enfrentava impeachment e o Congresso estava ativamente restringindo a autoridade executiva sobre defesa e política externa. Enquanto os críticos exigiam uma linha mais dura contra a União Soviética, Nixon via a détente como uma ferramenta necessária para gerenciar as tensões da Guerra Fria enquanto a América se recuperava do Vietnã. Liberais viam a détente como um fim em si mesma, enquanto conservadores a rejeitavam completamente, preferindo o confronto ideológico.

Ironicamente, em 1973, a política externa de Nixon havia estabilizado as relações Leste-Oeste a ponto de os críticos domésticos se sentirem seguros para desafiá-la. A questão mais profunda no debate era se a diplomacia americana deveria focar na gestão estratégica de longo prazo ou em imperativos morais. Nixon acreditava que a mudança tinha que ser gradual, exigindo paciência — uma qualidade não tradicionalmente associada à política externa americana. Seus críticos, refletindo o excepcionalismo americano, exigiam um desafio imediato e transformador ao comunismo soviético.

Este debate nacional era inevitável e necessário. Alguns viam a política externa como uma estratégia disciplinada para gerenciar uma superpotência rival; outros a viam como uma cruzada moral para derrotar o mal. No entanto, Watergate interrompeu essa discussão, deixando-a sem solução e impedindo o desenvolvimento de uma alternativa coerente à abordagem de Nixon.

Cada lado no debate focava em ameaças diferentes. Nixon temia a expansão geopolítica soviética. Conservadores se preocupavam com a fraqueza ideológica e a potencial superioridade militar soviética. Liberais estavam mais preocupados com a militarização excessiva dos EUA. Nixon buscava uma estratégia sustentável de longo prazo, enquanto seus críticos empurravam em direções concorrentes. Como resultado, a administração enfrentou pressões contraditórias: liberais exigiam controle de armas enquanto conservadores atacavam Nixon por ser muito conciliador. Os gastos com defesa passavam com apoio conservador contra a oposição liberal, enquanto os acordos de controle de armas eram aprovados com apoio liberal sobre a resistência conservadora.

Em sua essência, grande parte da crítica — mesmo de liberais — equivalia a um chamado para retornar à estratégia original da Guerra Fria de contenção, esperando pela decadência interna soviética por trás de defesas fortes. Nixon concordava com a necessidade de força militar, mas rejeitava uma postura passiva que permitisse a Moscou ditar a agenda diplomática. Seus críticos temiam que o engajamento ativo com os soviéticos enfraquecesse a determinação americana. Nixon, por outro lado, via a flexibilidade diplomática como essencial para reforçar a resistência dos EUA ao comunismo. No entanto, essa abordagem era frequentemente mal interpretada como a importação da política de poder ao estilo europeu para o que os conservadores viam como uma luta puramente ideológica.

Em 1974, o ceticismo sobre a détente havia se tornado generalizado. O subcomitê do Senador Henry Jackson divulgou um relatório argumentando que a détente era meramente uma estratégia soviética para avançar seus objetivos por meios não militares, incluindo subversão e propaganda. O líder sindical George Meany expressou preocupações semelhantes, alertando que a détente significava expansionismo soviético em vez de paz genuína.

A Administração Nixon entendia que Moscou buscava a détente por suas próprias razões, mas a questão real era se ela também servia aos interesses da América. Nixon acreditava que a paz prolongada exporia as fraquezas do sistema soviético e permitiria que pressões internas corroessem o comunismo ao longo do tempo. Sua abordagem, embora controversa, refletia a crença de que o tempo favorecia as democracias — desde que elas gerenciassem a Guerra Fria com paciência e disciplina.

O debate sobre a détente poderia ter gradualmente desaparecido, superado pelos desenvolvimentos globais, se não fosse pela oposição implacável do Senador Henry Jackson. Um democrata de Washington, Jackson era uma figura imponente na política americana, amplamente respeitado por sua expertise em defesa e seu profundo entendimento da União Soviética. Ele combinava profundidade intelectual com uma aguçada perspicácia política, navegando habilmente pelos ramos legislativo e executivo para mobilizar resistência contra a abordagem de Nixon. Sua equipe, liderada pelo formidável Richard Perle, compartilhava sua visão estratégica e frequentemente superava a administração nas batalhas burocráticas sobre o controle de armas.

Jackson havia sido inicialmente considerado por Nixon para o cargo de Secretário de Defesa e, durante o primeiro mandato de Nixon, havia sido um forte aliado na manutenção da força militar americana. Ele desempenhou um papel crucial na obtenção da aprovação para o sistema de defesa de Mísseis Antibalísticos (ABM) de Nixon e havia sido um apoiador confiável das iniciativas de defesa mais amplas da administração. No entanto, no início dos anos 1970, seus caminhos divergiram acentuadamente. Jackson se opôs ao Tratado ABM, que limitava os sistemas de defesa antimísseis a apenas dois locais por país, e sua oposição logo se expandiu para um desafio em larga escala a toda a abordagem de Nixon às relações EUA-Soviéticas.

Nixon havia originalmente imaginado um sistema de defesa antimísseis mais extenso, com doze locais projetados para combater ameaças de potências nucleares emergentes como a China e para fornecer pelo menos uma defesa limitada contra ataques soviéticos. No entanto, ano após ano, o Congresso cortou o número de locais, reduzindo o programa ao ponto em que tinha pouco valor estratégico além de servir como um experimento. Ao mesmo tempo, o Congresso consistentemente cortava os orçamentos de defesa propostos, forçando a administração a recalibrar sua abordagem. Em resposta a essas pressões, o Departamento de Defesa tornou-se um defensor do controle de armas, argumentando que acordos formais com a União Soviética eram necessários para impedir que o Congresso minasse unilateralmente as capacidades estratégicas americanas.

Em 1970, o Secretário Adjunto de Defesa David Packard alertou Nixon que, sem uma nova iniciativa de controle de armas, o Congresso continuaria cortando o orçamento de defesa, erodindo o poder de barganha da América. Como resultado, Nixon iniciou uma troca diplomática com o Primeiro-Ministro soviético Aleksei Kosygin que lançou as bases para as Conversações sobre Limitação de Armas Estratégicas (SALT). Os soviéticos haviam inicialmente exigido que as negociações se concentrassem apenas em sistemas defensivos — onde os EUA tinham vantagem — enquanto adiavam limites para mísseis ofensivos, que eles estavam expandindo rapidamente. Nixon rejeitou essa proposta unilateral, insistindo que qualquer acordo deveria cobrir tanto armas ofensivas quanto defensivas. Os soviéticos eventualmente cederam, e as negociações avançaram.

O resultado foram dois acordos importantes. O Tratado ABM de 1972 restringiu cada lado a apenas dois locais de defesa antimísseis com 200 lançadores, um número muito pequeno para fornecer proteção significativa contra um ataque nuclear. Nixon aceitou esses limites para preservar pelo menos uma capacidade mínima de defesa, temendo que o Congresso pudesse eliminar o programa inteiramente se nenhum acordo fosse alcançado. Na época, o tratado provocou pouca controvérsia.

Muito mais controverso foi o Acordo Interino sobre armas ofensivas estratégicas, que congelou as forças de mísseis terrestres e marítimas de cada lado nos níveis existentes por cinco anos. Os EUA haviam estabelecido seus níveis de força de mísseis em meados da década de 1960 e não haviam buscado expansão, enquanto a União Soviética vinha construindo rapidamente novos mísseis. Sob o acordo, os soviéticos tiveram que desmantelar 210 mísseis mais antigos para cumprir o teto. Bombardeiros, uma área onde os EUA detinham uma clara vantagem, não foram incluídos nas limitações. Ambas as nações mantiveram a capacidade de melhorar sua tecnologia de mísseis.

Embora o acordo refletisse o planejamento estratégico existente dos EUA, rapidamente se tornou um ponto de inflamação política. Os mísseis americanos eram menores, mas mais precisos, e muitos estavam sendo equipados com múltiplas ogivas. Os mísseis soviéticos eram maiores e mais numerosos, mas tecnologicamente inferiores. O Pentágono havia aceitado esses níveis de força sem problemas antes do SALT, mas assim que o acordo foi assinado, os críticos subitamente viram a disparidade no número de mísseis como uma concessão perigosa. Isso apesar do fato de que, mesmo depois que o acordo foi substituído em 1974 pelo Acordo de Vladivostok, mais equilibrado, o Departamento de Defesa nunca pressionou pelo aumento dos níveis de mísseis além do que havia sido estabelecido em 1967.

A percepção pública do acordo foi moldada pelo argumento simplista, mas politicamente eficaz, de que os EUA haviam concordado com uma desvantagem numérica de mísseis. As tentativas da administração de explicar as vantagens tecnológicas das forças dos EUA, o papel das múltiplas ogivas e o equilíbrio estratégico geral eram complexas demais para combater o apelo visceral da narrativa do “déficit de mísseis” (missile gap). No momento em que a equipe de Nixon detalhou todas as nuances do acordo, muitos americanos já haviam aceitado a ideia de que os EUA haviam cedido sua vantagem estratégica.

A administração viu o SALT como uma forma de proteger programas chave de defesa dos cortes do Congresso. Pressionou o Congresso a tratar os tetos negociados como níveis mínimos de força, em vez de alvos para reduções adicionais. Além disso, a administração combinou o SALT com uma iniciativa de modernização da defesa de US$ 4,5 bilhões que lançou as bases para futuros programas estratégicos. Muitos dos principais sistemas de armas que definiram o poder estratégico dos EUA nas décadas seguintes — incluindo o bombardeiro B-1, a tecnologia stealth, o míssil MX, os mísseis de cruzeiro e o submarino Trident — originaram-se nesse período.

Em sua essência, a disputa sobre o SALT era menos sobre os detalhes da contagem de mísseis do que sobre preocupações mais profundas com a direção da política de defesa dos EUA. Jackson e seus aliados temiam que o foco crescente no controle de armas estivesse minando a prontidão militar da América. Eles se preocupavam que novos programas de armas estivessem sendo desenvolvidos principalmente como moeda de troca em futuras negociações, em vez de ferramentas para manter a dissuasão. Essa mentalidade, argumentavam eles, enfraqueceria a justificativa estratégica da América para a defesa, transformando investimentos militares em alavancagem diplomática em vez de garantir a segurança nacional.

Por baixo dessas discordâncias jazia uma ansiedade mais ampla sobre o fim da superioridade estratégica da América. Por mais de uma década, especialistas em defesa haviam reconhecido que a pura destrutividade das armas nucleares tornava a vitória absoluta impossível. A Administração Kennedy havia respondido abraçando a doutrina da “destruição assegurada”, que assumia que a dissuasão dependia da capacidade de cada lado de infligir retaliação catastrófica. No entanto, esse conceito levantava questões desconfortáveis. Uma estratégia baseada no suicídio mútuo estava fadada a atingir um ponto de ruptura psicológico. Com o SALT tornando explícito o equilíbrio nuclear, o público começou a confrontar uma realidade que os especialistas há muito entendiam: a segurança da América na Guerra Fria agora repousava sobre um equilíbrio precário, não sobre força esmagadora.

Assim, o debate do SALT foi, em sua essência, uma reação a um mundo onde o conflito ideológico coexistia com o impasse estratégico. Nixon e seus conselheiros acreditavam que, nesse ambiente, a ameaça real vinha dos avanços geopolíticos soviéticos, e não dos números militares brutos. Seu foco era impedir a expansão soviética sorrateira em regiões como o Oriente Médio, África e América Latina, onde forças convencionais e influência política poderiam mudar o equilíbrio global. Em contraste, Jackson e seus apoiadores buscavam restaurar a superioridade militar incontestável dos EUA, temendo que qualquer vulnerabilidade percebida encorajasse a agressão soviética.

A facção de Jackson pressionava por políticas que forçariam a União Soviética a reestruturar suas forças armadas de acordo com as preferências americanas, mas Nixon acreditava que a alavancagem dos EUA era muito limitada — especialmente com o Congresso cortando consistentemente os gastos com defesa. Reagan mais tarde demonstrou que um aumento militar determinado poderia mudar o equilíbrio estratégico, mas durante a presidência de Nixon, as restrições eram severas. Os aliados de Jackson eram altamente sensíveis às mudanças nas capacidades nucleares, mas relativamente indiferentes às mudanças geopolíticas. Nixon, por outro lado, priorizava as dinâmicas de poder globais sobre vantagens militares puramente tecnológicas.

À medida que o debate escalava, ele se tornou atolado em disputas técnicas arcanas, desde as capacidades dos bombardeiros soviéticos Backfire até a eficácia comparativa dos mísseis de cruzeiro. Para quem estava de fora, esses argumentos frequentemente se assemelhavam a obscuras disputas teológicas, com especialistas profundamente divididos sobre detalhes altamente especializados. No entanto, por baixo da complexidade, o impasse refletia uma realidade mais profunda: a ausência de forte liderança presidencial. Watergate havia deixado Nixon incapaz de moldar uma resolução coerente e, com a presidência enfraquecida, o debate degenerou em uma batalha ideológica em vez de uma discussão estratégica.

Em retrospecto, a disputa sobre a détente e o SALT refletia perspectivas complementares, em vez de opostas. O comunismo acabou colapsando devido às suas próprias falhas internas, mas também por causa da pressão sustentada do Ocidente. A estratégia de Nixon de conter a expansão soviética e a insistência de Jackson na força militar não eram mutuamente exclusivas — eram dois lados da mesma moeda. Embora os dois campos fossem frequentemente amargamente opostos, a história viria a reconhecer que ambas as abordagens desempenharam um papel na modelagem do resultado final da Guerra Fria.

Como o controle de armas se mostrou complexo demais para sustentar o debate filosófico mais amplo sobre a política externa americana, o foco gradualmente mudou para uma questão mais alinhada com o idealismo americano — os direitos humanos. Essa nova ênfase ressoou fortemente com o público, evoluindo de um apelo para melhorar o tratamento soviético de seus próprios cidadãos para uma estratégia destinada a provocar mudanças internas na União Soviética. Assim como no debate sobre controle de armas, o objetivo central — apoiar os direitos humanos — não estava em disputa. A questão real era se o confronto ideológico deveria se tornar a prioridade dominante na política externa dos EUA.

A questão da emigração judaica da União Soviética, que mais tarde se tornaria uma grande batalha pública, havia sido inicialmente uma iniciativa diplomática silenciosa da Administração Nixon. Antes de 1969, nenhuma administração dos EUA havia desafiado seriamente as políticas soviéticas sobre emigração, considerando-a um assunto interno. Em 1968, apenas 400 judeus foram autorizados a deixar a União Soviética, e nenhum governo ocidental havia levantado a questão. Mas à medida que as relações EUA-Soviéticas melhoraram, Nixon começou a levantar o assunto discretamente através da diplomacia de bastidores, deixando claro que as ações soviéticas não passariam despercebidas nos níveis mais altos do governo americano. Os líderes soviéticos, ansiosos por manter um relacionamento estável com Washington, começaram a permitir mais emigração judaica. Em 1973, o número anual havia subido para 35.000. Além disso, a Casa Branca regularmente apresentava listas de casos individuais — aqueles com vistos de saída negados, separados de membros da família ou presos — e muitos desses indivíduos foram eventualmente autorizados a sair.

Essa abordagem foi um exemplo do que os diplomatas chamam de “negociação tácita”. Não havia demandas formais ou acordos oficiais, apenas um entendimento tácito de que ações soviéticas positivas seriam silenciosamente reconhecidas. A Administração Nixon aderiu estritamente a essa abordagem, nunca assumindo publicamente o crédito pelos números crescentes de emigração, mesmo durante campanhas eleitorais. Essa estratégia discreta foi interrompida quando o Senador Henry Jackson transformou a questão em um confronto público.

No verão de 1972, o governo soviético inesperadamente impôs um “imposto de saída” sobre os emigrantes, supostamente para reembolsar o estado pelo custo de sua educação. O motivo preciso para essa decisão permanece incerto. Alguns especulam que foi uma tentativa de apaziguar o mundo árabe após a expulsão dos militares soviéticos do Egito. Outros acreditam que os soviéticos esperavam que as organizações judaicas americanas cobrissem o imposto, fornecendo à URSS a tão necessária moeda estrangeira. Alarmados com a possibilidade de que esse novo imposto pudesse reduzir drasticamente a emigração, grupos de defesa judaicos buscaram ajuda tanto da Administração Nixon quanto de seu aliado de longa data, o Senador Jackson.

Enquanto a equipe de Nixon trabalhava privadamente com o embaixador soviético Dobrynin para resolver a questão, Jackson elaborou uma estratégia pública altamente eficaz para pressionar Moscou. Ele introduziu uma emenda vinculando o status comercial de “Nação Mais Favorecida” (NMF) da União Soviética às suas políticas de emigração. Embora NMF significasse simplesmente privilégios comerciais normais, o termo tinha peso na percepção pública. A emenda garantiu que as práticas de emigração soviéticas se tornassem não apenas uma questão de diplomacia, mas de lei dos EUA.

A Administração Nixon concordava com Jackson na substância, mas diferia nas táticas. Nixon já havia pressionado os soviéticos em questões de direitos humanos, incluindo a garantia da emigração do escritor dissidente Aleksandr Solzhenitsyn. No entanto, Nixon favorecia a diplomacia silenciosa em vez do confronto público. Jackson, por outro lado, acreditava que o compromisso da América com os direitos humanos tinha que ser demonstrado visivelmente, com sucessos celebrados publicamente e fracassos recebidos com penalidades.

Inicialmente, a pressão do Congresso reforçou os esforços diplomáticos da administração. Mas logo, Jackson e seus aliados buscaram ir além, exigindo a duplicação da emigração judaica e a remoção de restrições a outras nacionalidades soviéticas. Eles também impuseram penalidades financeiras através da Emenda Stevenson, que restringia empréstimos dos EUA à União Soviética. Ironicamente, em vez de se beneficiar da détente, a União Soviética se viu em uma posição comercial pior do que antes da melhoria das relações.

Nixon, liderando um país ainda se recuperando do Vietnã e envolvido em Watergate, não estava disposto a arriscar um confronto em larga escala com a União Soviética por causa dos direitos humanos. Mas seus críticos viram isso como uma oportunidade para pressionar por uma luta ideológica mais ampla. As mesmas figuras políticas e veículos de mídia que antes haviam alertado contra o uso do comércio como ferramenta para pressionar os soviéticos agora reverteram suas posições, insistindo que os direitos humanos deveriam ter precedência sobre a détente.

A estratégia original de Nixon era usar incentivos comerciais para encorajar a contenção soviética na política externa. Seus críticos levaram a vinculação (linkage) ainda mais longe, buscando usar o comércio como meio de provocar agitação doméstica dentro da União Soviética. Apenas alguns anos antes, Nixon havia sido atacado como um Guerreiro Frio; agora, era acusado de ser muito confiante em Moscou. O próprio conceito de melhorar as relações EUA-Soviéticas foi atacado, com alguns argumentando que a détente era impossível a menos que a União Soviética liberalizasse suas políticas internas.

A América estava revertendo à doutrina anterior da Guerra Fria de que mudanças fundamentais no sistema soviético deveriam preceder uma diplomacia significativa. Mas, ao contrário dos primeiros Guerreiros Frios, que dependiam da contenção para alcançar isso ao longo do tempo, os críticos de Nixon agora defendiam a pressão americana direta para acelerar a mudança interna soviética. A administração já havia confrontado a liderança soviética em múltiplas ocasiões e os considerou adversários formidáveis. Engajar-se em uma ofensiva ideológica em larga escala enquanto os EUA ainda se recuperavam do Vietnã e de Watergate era irrealista. No entanto, os críticos de Nixon descartaram essas preocupações, vendo-as como pessimismo em vez de cautela estratégica.

O debate era parte de um conflito americano de longa data sobre se os valores morais deveriam ser defendidos pelo exemplo ou impostos ativamente aos outros. Nixon acreditava em alinhar os ideais americanos com suas capacidades, avançando valores onde possível, mas evitando excessos imprudentes. Seus críticos rejeitaram essa abordagem incremental, argumentando que princípios universais deveriam ser aplicados imediatamente e incondicionalmente. Muitos daqueles que defendiam políticas agressivas de direitos humanos haviam sido opositores vocais da Guerra do Vietnã, mas agora promoviam uma cruzada moral global com pouca consideração de sua viabilidade.

Como eventos posteriores mostrariam, uma política mais confrontadora em relação à União Soviética tinha seus méritos. A Administração Reagan pressionaria com sucesso a URSS combinando aumento militar com desafio ideológico. No entanto, essa estratégia só teve sucesso depois que a América se recuperou do Vietnã e de Watergate, e após mudanças geracionais na liderança soviética. No início dos anos 1970, o debate sobre a détente carecia de equilíbrio, pois os críticos simplificavam demais seus argumentos enquanto a Administração Nixon respondia com rigidez excessiva. Atacado por ex-aliados, Nixon descartou grande parte das críticas como politicamente motivadas, perdendo a questão mais profunda de por que tantos acharam politicamente conveniente se juntar ao campo de Jackson.

No final da presidência de Nixon, a política americana estava em um impasse. A promessa de aumento do comércio havia sido retirada, mas nenhum aumento correspondente nos gastos com defesa ou disposição para confrontar o aventureirismo soviético havia surgido. O controle de armas estagnou, a emigração judaica diminuiu e os soviéticos retomaram sua ofensiva geopolítica — mais notavelmente quando forças cubanas intervieram em Angola para estabelecer um governo comunista. No entanto, enquanto os conservadores se opunham ao controle de armas, eles também resistiam a uma ação americana decisiva contra o expansionismo soviético.

O resultado foi uma política externa americana dividida e ineficaz. Nixon havia buscado um equilíbrio entre realismo e idealismo, mas sua presidência terminou sem que nenhum prevalecesse. Mesmo suas maiores conquistas diplomáticas, como a transformação da política dos EUA no Oriente Médio, foram inicialmente criticadas antes que seu impacto a longo prazo ficasse claro.

Um dos resultados mais significativos, mas controversos, da détente foi a Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa de 1975, que produziu os Acordos de Helsinque. Os soviéticos há muito buscavam um acordo de segurança europeu para legitimar suas aquisições territoriais pós-guerra. Apesar de seu enorme poder militar, os líderes soviéticos permaneceram obcecados em garantir o reconhecimento internacional de seu império. Moscou esperava que a conferência produzisse um endosso formal do status quo da Guerra Fria.

No entanto, os soviéticos calcularam mal. Os países da OTAN não tinham intenção de substituir sua aliança militar por um acordo diplomático simbólico. Em vez disso, os Acordos de Helsinque acabaram concedendo ao Ocidente uma vantagem inesperada ao fornecer uma estrutura para o engajamento político na Europa Oriental. A própria legitimidade que os soviéticos buscavam se tornaria, com o tempo, uma ferramenta para desafiar seu domínio sobre seus estados satélites. Em sua ânsia por reconhecimento internacional, os líderes soviéticos inadvertidamente abriram a porta para futuras pressões que contribuiriam para a erosão de seu império.

A Administração Nixon inicialmente hesitou sobre a Conferência de Segurança Europeia, mas acabou vendo uma oportunidade de usá-la como alavanca para encorajar a contenção soviética. Os soviéticos buscavam solidificar seus ganhos territoriais na Europa Oriental, mas em 1971, a equipe de Nixon vinculou estrategicamente a participação dos EUA na conferência à cooperação soviética em outras questões. A administração insistiu no progresso nas negociações de Berlim e nas conversações sobre redução mútua de forças na Europa antes de se comprometer com a conferência. Uma vez que essas condições foram atendidas, trinta e cinco nações se reuniram em Genebra, levando aos Acordos de Helsinque de 1975.

Os acordos incluíam disposições que reconheciam formalmente as fronteiras europeias existentes, embora apenas sob a condição de que mudanças ainda pudessem ser feitas pacificamente e de acordo com o direito internacional. Como nenhuma potência ocidental tinha os meios ou a intenção de alterar as fronteiras da Europa Oriental pela força, essa cláusula deu pouca vantagem real à União Soviética. Mais importante, os Acordos de Helsinque incluíam a “Cesta III”, uma seção sobre direitos humanos que acabou tendo consequências de longo alcance. Inicialmente projetada para encorajar a moderação soviética, tornou-se uma ferramenta poderosa para dissidentes na Europa Oriental. Líderes como Vaclav Havel na Tchecoslováquia e Lech Walesa na Polônia usaram suas disposições para desafiar o domínio comunista, transformando o que os soviéticos esperavam ser uma vitória diplomática em uma fonte de instabilidade interna.

Apesar de seu impacto a longo prazo, a Conferência de Helsinque foi recebida com ceticismo no Ocidente. O presidente Ford enfrentou fortes críticas por assinar a Ata Final, com alguns acusando-o de legitimar o domínio soviético na Europa Oriental. O New York Times descartou todo o processo como um exercício diplomático sem sentido. No entanto, a administração defendeu os acordos, argumentando que, pela primeira vez, os direitos humanos haviam se tornado um assunto oficial das negociações Leste-Oeste. Em vez de estar na defensiva, os EUA haviam inserido com sucesso seus valores no diálogo internacional.

O debate mais amplo sobre a détente refletia tensões mais profundas na política externa americana. A visão de Nixon de uma “estrutura de paz” destinava-se a satisfazer o esgotamento público com intervenções militares. No entanto, os americanos historicamente viam a paz como um dado adquirido, em vez de um processo ativamente gerenciado. A abordagem da administração — priorizando o equilíbrio geopolítico sobre o confronto ideológico — representou uma mudança necessária na política externa, mas carecia da estrutura moral familiar que as políticas americanas anteriores haviam enfatizado.

Os críticos, em contraste, tratavam os valores americanos como absolutos e buscavam impô-los no cenário internacional, muitas vezes sem considerar as limitações práticas. A equipe de Nixon inclinou-se demais para o realismo geopolítico, enquanto seus oponentes compensaram excessivamente com exigências ideológicas rígidas. Essa divisão foi agravada pela turbulência política do Vietnã e Watergate, que erodiu a unidade doméstica e tornou os debates sobre política externa mais contenciosos.

Apesar das lutas da era da détente, a América finalmente recuperou o equilíbrio. A Guerra Fria terminou com o colapso da União Soviética, validando elementos tanto da abordagem estratégica de Nixon quanto da postura mais confrontadora adotada posteriormente por seus sucessores. No entanto, o desaparecimento da ameaça soviética deixou os Estados Unidos enfrentando um desafio inesperado na década de 1990: redefinir seu interesse nacional em um mundo não mais moldado pelas rivalidades da Guerra Fria.


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