Resumo: Diplomacia, de Kissinger — Capítulo 7 — A “Máquina do Juízo Final” política

Em 1994, Henry Kissinger publicou o livro Diplomacia. Ele foi um acadêmico e diplomata renomado, tendo servido como Conselheiro de Segurança Nacional e Secretário de Estado dos Estados Unidos. Seu livro oferece um extenso panorama da história das questões internacionais e da arte da diplomacia, com foco particular no século XX e no mundo ocidental. Kissinger, conhecido por seu alinhamento com a escola realista das Relações Internacionais, trata dos conceitos de equilíbrio de poder, razão de Estado e Realpolitik em diferentes épocas.

Sua obra foi amplamente elogiada pelo seu alcance e pelo seu detalhismo. Todavia, ela também enfrentou críticas por seu foco em indivíduos em detrimento de forças estruturais, e por apresentar uma visão reducionista da história. Além disso, alguns críticos também alegaram que o livro se concentra excessivamente no papel individual de Kissinger nos eventos, potencialmente superestimando sua influência sobre eles. De qualquer forma, as ideias do livro merecem ser consideradas.

Este artigo apresenta um resumo das ideias de Kissinger no sétimo capítulo de seu livro, cujo título é “A “Máquina do Juízo Final” política: A diplomacia europeia e a Primeira Guerra Mundial”.

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No início do século XX, o Concerto Europeu, que anteriormente mantinha a paz, havia efetivamente desintegrado. Essa mudança levou à formação de dois grandes blocos de poder, algo semelhante à posterior Guerra Fria, mas com uma diferença chave: naquela época anterior, as guerras eram iniciadas mais levianamente, às vezes até vistas como benéficas, um equívoco despedaçado pela Primeira Guerra Mundial.

A responsabilidade pelo início da Primeira Guerra Mundial é amplamente debatida entre historiadores, sem um único país completamente culpado. Cada grande potência teve um papel, mostrando falta de previsão e responsabilidade, um comportamento que se tornou impensável após o impacto catastrófico da guerra ser plenamente compreendido.

A transformação da Europa no equilíbrio de poder em uma corrida armamentista, sem reconhecer a grave ameaça representada pela guerra moderna, foi um fator-chave no início da guerra. Alemanha e Rússia, em particular, demonstraram falta de moderação, exacerbando as tensões. Historicamente, a Alemanha frequentemente foi um campo de batalha para guerras europeias, levando a um desejo nacional de prevenir tais tragédias no futuro. Contudo, a abordagem para essa questão, especialmente após a era de Bismarck, foi excessivamente militarista e agressiva, fazendo da Alemanha uma fonte de preocupação para seus vizinhos.

A falta de uma base filosófica unificadora na política externa alemã, ao contrário de outras nações europeias, levou a uma postura desorientada e agressiva. Isso decorreu da criação de uma Alemanha por Bismarck que priorizava o poder sem integrar aspirações nacionais mais amplas. Essa ausência de fundamentação intelectual e a memória de conflitos passados deixaram a Alemanha se sentindo insegura, apesar de ser uma potência dominante. Essa insegurança foi evidente em sua preparação militar e postura agressiva, que ironicamente levou à formação da mesma coalizão de vizinhos que temia.

Uma abordagem mais prudente e contida poderia ter potencialmente evitado a crise iminente. Entretanto, os sucessores de Bismarck abandonaram suas táticas cautelosas, optando pela força bruta. Suas políticas eram impulsionadas pelas emoções do momento e pela falta de compreensão das perspectivas estrangeiras, levando a Alemanha ao isolamento e, eventualmente, à guerra.

A sutileza diplomática de Bismarck, que anteriormente gerenciava as alianças complexas da Europa, não foi continuada por seus sucessores. A mudança de liderança, particularmente com a ascensão de Guilherme II, marcou uma significativa mudança. A necessidade de Guilherme II de se afirmar, em parte devido a inseguranças pessoais, levou a uma política externa mais ostentosa e menos estável. Essa mudança foi um afastamento da diplomacia cuidadosa de Bismarck e teve um papel central no moldar da paz europeia.

Guilherme II buscava reconhecimento internacional do poder da Alemanha, envolvendo-se em uma política global indefinida. Essa abordagem foi caracterizada por declarações ousadas, mas faltava direção clara e resolução. A integração de uma Alemanha poderosa na ordem internacional era uma tarefa desafiadora, tornada ainda mais difícil pela mistura volátil de personalidades e política doméstica na Alemanha. Consequentemente, a política externa alemã frequentemente exacerbava os medos e tensões que procurava aliviar.

Nas duas décadas seguintes à partida de Bismarck, a abordagem diplomática da Alemanha levou a uma mudança significativa nas alianças europeias. Inicialmente, nações como França e Grã-Bretanha estavam em desacordo, e a rivalidade de longa data da Grã-Bretanha com a Rússia tornava a eventual aliança desses três poderes improvável. Todavia, a diplomacia alemã, percebida como agressiva e ameaçadora, uniu inadvertidamente esses países contra a Alemanha.

Diferente de Bismarck, que operava dentro do tradicional equilíbrio de poder, seus sucessores falharam em compreender esse conceito. Seus esforços para enfatizar a força da Alemanha apenas provocaram outras nações a formar alianças como contrapeso. Líderes alemães acreditavam erroneamente que suas táticas dominadoras convenceriam outras nações dos benefícios de se alinhar com a Alemanha. Em vez disso, sua abordagem provocou temores e levou à formação de coalizões opostas. Esse erro diplomático destacou que a dominação não pode ser alcançada sem recorrer à guerra, uma realização que chegou tarde demais para evitar a catastrófica Primeira Guerra Mundial.

Por grande parte da história do Império Alemão, a Rússia foi vista como a principal ameaça à paz. Líderes britânicos como Palmerston e Disraeli eram particularmente cautelosos com a potencial expansão russa em regiões como Egito e Índia. Em 1913, líderes alemães estavam tão temerosos de uma invasão russa que isso influenciou significativamente sua decisão de se engajar em conflito em 1914.

Apesar desses temores, havia poucas evidências concretas da intenção da Rússia de estabelecer um império europeu. As intensas preparações militares de todas as potências europeias, impulsionadas por novas tecnologias e estratégias de mobilização, eram frequentemente desproporcionais às disputas reais. Essas preparações eram mal interpretadas como indicadores de planos ambiciosos, especialmente pela inteligência alemã. O príncipe von Bülow, chanceler alemão, ecoava a preocupação de Frederico, o Grande, sobre a ameaça russa.

As tendências expansionistas da Rússia eram particularmente perturbadoras na Europa. Enquanto outras nações se engajavam em ameaças e contrameaças por ganhos territoriais, a expansão russa parecia impulsionada por um impulso inerente, muitas vezes preferindo o risco de guerra ao compromisso, como visto na Guerra da Crimeia e nos conflitos balcânicos. Essa atitude em parte derivava da posição única da Rússia, situada entre a Europa e a Ásia. Na Europa, a Rússia fazia parte do equilíbrio de poder, mas frequentemente demonstrava impaciência com suas restrições, recorrendo à guerra quando suas demandas não eram atendidas. Na Ásia, a Rússia enfrentava entidades mais fracas, onde o princípio do equilíbrio de poder era irrelevante, permitindo uma expansão incontestada.

A abordagem unilateral da Rússia em questões como o destino da Turquia e dos Bálcãs, frequentemente recorrendo à força, contrastava com a visão europeia de que tais questões deveriam ser resolvidas coletivamente. Esse padrão se repetiu após a Segunda Guerra Mundial, com Stálin insistindo na dominação soviética sobre a Europa Oriental, particularmente a Polônia, levando à resistência das potências ocidentais. O padrão histórico da assertividade militar russa seguida pela oposição ocidental foi evidente ao longo da história.

A tendência da Rússia de ultrapassar limites e nutrir ressentimentos para retaliações futuras era um tema recorrente. Suas relações com a Grã-Bretanha, Áustria, Alemanha e, mais tarde, com os Estados Unidos, frequentemente envolviam longos períodos de ressentimento e planos de vingança. A resposta da Rússia pós-soviética à desintegração de seu império e Estados-satélites permanecia incerta, levantando questões sobre sua futura direção diplomática.

Na Ásia, a expansão russa foi ainda mais incontida do que na Europa. Ao longo do século XVIII e na maior parte do século XIX, a Rússia foi uma potência europeia pioneira no Extremo Oriente, estabelecendo acordos com o Japão e a China. Essa expansão, alcançada com relativamente poucos colonos e aventureiros militares, não colidiu com outras potências europeias. Os ganhos territoriais da Rússia na Ásia, frequentemente por meio de “tratados desiguais” com a China, não foram contestados pela Europa, embora esses tratados tenham sido denunciados por governos chineses subsequentes.

As ambições territoriais da Rússia na Ásia cresceram com cada aquisição. Serge Witte, o Ministro das Finanças russo, uma vez observou que a absorção da Rússia de uma parte significativa da China era inevitável. Os líderes russos viam o Extremo Oriente como uma preocupação exclusivamente russa, desconsiderando o direito do resto do mundo de intervir. As táticas de expansão da Rússia variavam, avançando às vezes em várias frentes simultaneamente ou concentrando-se nas áreas de menor risco.

A estrutura da formulação de políticas do Império Russo refletia sua natureza dual. O Ministério das Relações Exteriores, inclinado para a orientação ocidental, frequentemente estava em desacordo com o Departamento Asiático, responsável pelas políticas no Império Otomano, nos Bálcãs e no Extremo Oriente. Ao contrário do Ministério das Relações Exteriores, o Departamento Asiático não se via como parte do Concerto Europeu e frequentemente buscava ações unilaterais ou guerras sem consulta europeia.

A abordagem expansionista da Rússia era marcada pela ambiguidade, levando a debates ocidentais sobre suas intenções, uma tendência que continuou durante o período soviético. As estruturas governamentais russas, tanto imperiais quanto comunistas, se assemelhavam mais a uma autocracia do século XVIII do que a uma superpotência do século XX. Os ministros das Relações Exteriores russos careciam de autoridade para moldar políticas de longo prazo, atuando mais como auxiliares do autocrata. Esse sistema dificultava o desenvolvimento de uma política externa coerente.

O sistema autocrático dos czares complicava ainda mais a formulação de políticas. Ministros das Relações Exteriores que ganhavam a confiança do czar serviam por períodos prolongados, muitas vezes até a velhice, e tinham acesso exclusivo ao czar. Esse sistema levava a uma tomada de decisões desarticulada, como visto quando Alexandre III se desengajou dos assuntos de Estado por meses. Figuras militares frequentemente agiam independentemente dos ministros das Relações Exteriores, confundindo ainda mais a política externa russa.

Sob o governo de Nicolau II, as instituições arbitrárias da Rússia levaram a uma guerra custosa com o Japão e um sistema de alianças que tornou o conflito com a Alemanha quase inevitável. A derrota de 1905 no Japão deveria ter sido um sinal de alerta para reformas internas, mas a Rússia, em vez disso, buscou mais empreendimentos estrangeiros, impulsionada pelo panslavismo e aspirações em relação a Constantinopla.

O expansionismo implacável da Rússia, em vez de fortalecer seu poder, levou à sua decadência. Apesar de ser considerada a nação europeia mais forte em 1849, a dinastia russa desmoronou em 1917. Seu envolvimento em inúmeras guerras, mais do que qualquer outra grande potência, drenou seus recursos sem ganhos significativos. Líderes como Serge Witte prometiam a dominação da Rússia, mas o desenvolvimento econômico, social e político teria sido mais benéfico do que a expansão territorial.

Alguns líderes russos perceberam que a expansão territorial enfraquecia a Rússia, mas suas visões foram ofuscadas pela obsessão da nação com a conquista. O colapso subsequente da União Soviética ecoou a queda do regime czarista, sofrendo de uma superexpansão similar. O conflito entre Alemanha e Rússia era quase inevitável, dadas suas respectivas ambições e posições na Europa. A paz da Europa dependia do papel de equilíbrio tradicionalmente desempenhado por outro país, que manteve a moderação ao longo do século XIX.


Em 1890, a política externa britânica era caracterizada pelo “esplêndido isolamento”, uma postura de evitar envolvimento em alianças continentais, muito parecido com o isolacionismo favorecido pelos Estados Unidos. Os cidadãos britânicos orgulhavam-se do papel de sua nação como a “roda de equilíbrio” da Europa, garantindo que nenhuma coalizão única dominasse o continente. No entanto, essa abordagem mudou dramaticamente até 1914, com a Grã-Bretanha se juntando aos sangrentos campos de batalha de Flandres ao lado da França contra a Alemanha.

Essa mudança significativa na política externa britânica foi liderada pelo Marquês de Salisbury, uma figura que incorporava os valores e a herança política tradicionais britânicos. Salisbury, nascido na prestigiosa família Cecil, teve uma ascensão política tranquila, marcada por uma educação em Oxford e viagens pelo Império. Ele se tornou Ministro das Relações Exteriores sob Disraeli e desempenhou um papel chave no Congresso de Berlim. Após a morte de Disraeli, Salisbury liderou o Partido Tory e se tornou a figura central na política britânica no final do século XIX.

O mandato de Salisbury refletiu o de George Bush de certa forma. Ambos os líderes operaram em um mundo que estava mudando ao seu redor, embora isso não fosse imediatamente aparente. A carreira de Bush foi moldada pela Guerra Fria, enquanto as experiências de Salisbury foram formadas durante um período de dominação global britânica e rivalidade anglo-russa, ambas em declínio durante sua liderança.

Durante o tempo de Salisbury, a Grã-Bretanha enfrentou desafios ao seu status global, com o crescente poder econômico da Alemanha e esforços imperiais expandidos por Rússia e França. A dominância britânica, tão proeminente em meados do século XIX, estava em declínio. De maneira semelhante à adaptação de Bush a mudanças imprevistas, líderes britânicos nos anos 1890 reconheceram a necessidade de adaptar suas políticas tradicionais às novas realidades globais.

Salisbury, com sua aparência e comportamento conservadores, parecia mais um símbolo da satisfação britânica com o status quo do que um agente de mudança. Ele é creditado com a cunhagem do termo “esplêndido isolamento”. Salisbury acreditava que a posição insular da Grã-Bretanha significava que ela deveria permanecer ativa no mar e evitar as alianças continentais habituais, afirmando famosamente, “Somos peixes”.

Contudo, Salisbury eventualmente percebeu que o vasto império britânico estava sob tensão. A Rússia exercia pressão no Leste, a França na África e até a Alemanha se juntava à corrida colonial. Essas potências, embora frequentemente em conflito entre si na Europa, consistentemente colidiam com a Grã-Bretanha em territórios ultramarinos. A Grã-Bretanha não apenas possuía colônias significativas como Índia, Canadá e partes da África, mas também buscava controlar indiretamente territórios estratégicos para impedi-los de cair em mãos rivais. Essa política incluía áreas como o Golfo Pérsico, China, Turquia e Marrocos, levando a constantes conflitos com Rússia e França em várias regiões.

Para enfrentar esses desafios, a Grã-Bretanha se envolveu nos Acordos do Mediterrâneo de 1887, alinhando-se indiretamente com a Tríplice Aliança da Alemanha, Áustria-Hungria e Itália. Isso foi um movimento estratégico para fortalecer a posição britânica contra a França no Norte da África e a Rússia nos Balcãs, mas foi apenas uma solução temporária.

O novo Império Alemão, após a partida de Bismarck, lutou para utilizar efetivamente sua nova posição no plano geopolítico. Apesar da Grã-Bretanha se afastar gradualmente de sua política de isolamento esplêndido, as táticas diplomáticas da Alemanha estavam longe de ser eficazes. Os formuladores de políticas alemães, acreditando que tanto a Rússia quanto a Grã-Bretanha estavam desesperadamente necessitadas do apoio alemão, tentaram negociar barganhas duras com ambos simultaneamente. Entretanto, sua abordagem agressiva frequentemente resultava em investidas rejeitadas e respostas ressentidas, um contraste acentuado com a estratégia diplomática paciente e incremental da França. Consequentemente, a política externa alemã durante esse período parecia amadora, míope e tímida.

Em 1890, o Kaiser Guilherme II, pouco depois de demitir Bismarck, cometeu um erro diplomático significativo ao rejeitar a oferta da Rússia para renovar o Tratado de Reasseguro. Essa decisão, motivada pelo desejo de simplicidade, priorizando a aliança com a Áustria e aspirações a uma aliança com a Grã-Bretanha, revelou uma falta de percepção geopolítica. O fim do tratado encorajou o aventurismo austríaco e aumentou as ansiedades da Rússia, levando-a a buscar um contrapeso na França.

O acordo colonial germano-britânico que se seguiu alimentou ainda mais o movimento da Rússia em direção à França. Nesse acordo, a Grã-Bretanha e a Alemanha trocaram territórios na África e no Mar do Norte, mas isso levou a interpretações errôneas entre as potências. A Rússia o viu como a Grã-Bretanha se juntando à Tríplice Aliança, enquanto a Alemanha o viu como um prelúdio para uma aliança anglo-germânica.

O medo de Bismarck sobre coalizões tornou-se realidade quando o fim do Tratado de Reasseguro preparou o terreno para uma aliança franco-russa. A Alemanha subestimou a possibilidade de uma aliança franco-russa, falhando em reconhecer que tanto a França quanto a Rússia precisavam uma da outra para contra-atacar a força alemã. Esse erro de cálculo ficou evidente quando a França e a Rússia assinaram a Entente Cordiale, oferecendo suporte diplomático mútuo, seguido por uma convenção militar em 1894, especificamente contra a Alemanha.

A formação da Tríplice Entente em 1908, com a Grã-Bretanha se juntando à França e à Rússia, marcou o fim do efetivo equilíbrio de poder na Europa. O ambiente diplomático tornou-se rígido, levando a uma corrida armamentista e tensões crescentes. Essa rigidez prenunciou o eventual estopim da Primeira Guerra Mundial.

Enquanto isso, as tentativas da Alemanha de forjar uma aliança com a Grã-Bretanha foram prejudicadas por mal-entendidos e julgamentos errados. A política externa britânica tradicionalmente evitava compromissos militares permanentes, preferindo acordos limitados ou cooperação diplomática por meio de entendimentos. A insistência do Kaiser Guilherme II em uma aliança do tipo “continental” era irrealista e desnecessária, dada a força da Alemanha. A abordagem alemã levou a Grã-Bretanha a ver suas intenções com suspeita, contribuindo para o aprofundamento da divisão entre as duas nações.

Salisbury, o líder britânico, observou a falta de visão estratégica na política externa alemã pós-Bismarck. A pressão da Alemanha por uma aliança formal com a Grã-Bretanha, que a Grã-Bretanha não estava preparada para dar, especialmente para uma nação que rapidamente se tornava a mais forte da Europa, foi um erro diplomático crítico. Os esforços alemães, que poderiam ter se concentrado em garantir a neutralidade britânica em potenciais conflitos continentais, em vez disso, elevaram temores de ambições alemãs pela dominação mundial. Essa crescente desconfiança entre as grandes potências preparou o cenário para a complexa teia de alianças e hostilidades que eventualmente explodiriam na Primeira Guerra Mundial.

Enquanto a Alemanha buscava impetuosamente alianças, havia uma crescente demanda dentro do público alemão por uma política externa mais assertiva. Esse sentimento era generalizado, com até mesmo os Social-Democratas eventualmente apoiando a declaração de guerra da Alemanha em 1914. As classes dominantes alemãs, com pouca experiência em diplomacia europeia e na nova política global que defendiam, estavam impulsionando esse fervor nacionalista. Curiosamente, os Junkers, frequentemente culpados pela política externa agressiva da Alemanha, eram menos inclinados à expansão global, focando mais na Europa continental. Em contraste, as classes industriais e profissionais emergentes eram as principais defensoras do nacionalismo, faltando-lhes os freios e contrapesos parlamentares existentes em democracias ocidentais como a Grã-Bretanha e a França.

A natureza autocrática do governo alemão o tornava altamente suscetível à opinião pública e a grupos de pressão nacionalistas. Esses grupos, vendo as relações internacionais como um esporte competitivo, constantemente pressionavam por uma linha mais dura na política externa, expansão territorial e aprimoramentos militares. Eles viam qualquer compromisso diplomático como uma humilhação, criando um ambiente político carregado que levava a erros diplomáticos.

Um desses erros foi o Telegrama Krüger em 1896, que danificou significativamente as perspectivas da Alemanha para uma aliança com a Grã-Bretanha. A mensagem de felicitações do Kaiser Guilherme II ao presidente da República do Transvaal foi vista como um afronto direto à Grã-Bretanha e mais um gesto de relações públicas do que uma declaração de política séria. Isso sugeriu apoio alemão aos bôeres contra os interesses britânicos na África do Sul, alienando a Grã-Bretanha.

As tentativas da Alemanha de construir uma grande marinha, alimentadas por pressões domésticas de industrialistas e oficiais navais, agravaram ainda mais as relações com a Grã-Bretanha. Essa corrida armamentista foi vista como um desafio direto à supremacia naval britânica e apenas adicionou a Grã-Bretanha à lista de adversários da Alemanha. O Kaiser parecia inconsciente do impacto de suas políticas agressivas, falhando em reconhecer as consequências de desafiar o comando britânico dos mares.

Na Grã-Bretanha, Joseph Chamberlain, o Secretário Colonial, defendia uma aliança com a Alemanha para contrabalançar as ameaças da França e da Rússia. Todavia, a insistência alemã em alianças formais era incompatível com a política externa britânica, que preferia acordos militares limitados ou arranjos do tipo entente. A recusa da Grã-Bretanha em se comprometer com uma aliança formal com a Alemanha era devido ao medo de fortalecer ainda mais uma nação já forte.

O Secretário das Relações Exteriores britânico, Lord Lansdowne, compartilhava da visão de Chamberlain de que a Grã-Bretanha não podia mais confiar no isolacionismo. No entanto, o gabinete britânico só estava disposto a considerar um arranjo do tipo entente com a Alemanha, semelhante ao que mais tarde levaria à Entente Cordiale com a França. A Alemanha, contudo, continuou a exigir uma aliança mais formal, levando a repetidas falhas nas negociações.

A recusa do chanceler alemão Bülow em aceitar algo menos do que uma aliança tríplice formal demonstrou um mal-entendido da política externa britânica e uma falta de perspicácia geopolítica. Esse erro de cálculo levou a Grã-Bretanha a buscar outros parceiros estratégicos, notavelmente o Japão. A Aliança Anglo-Japonesa de 1902 marcou a primeira significativa desvinculação da Grã-Bretanha das alianças europeias, alinhando-se com o Japão para contrabalançar as influências russa e francesa no Extremo Oriente.

Essa aliança demonstrou à Alemanha que a Grã-Bretanha não a via como um parceiro estratégico indispensável. A crescente percepção britânica da Alemanha como uma ameaça geopolítica, combinada com a falha alemã em entender os benefícios da neutralidade britânica, alterou significativamente o equilíbrio de poder na Europa e prenunciou os complexos sistemas de alianças que logo levariam à Primeira Guerra Mundial.

Em 1912, ainda havia uma oportunidade para resolver as tensões entre a Grã-Bretanha e a Alemanha. Lord Haldane, o Primeiro Lorde do Almirantado, foi a Berlim para negociar um acordo naval e discutir a neutralidade britânica em potenciais conflitos envolvendo a Alemanha. Entretanto, a insistência do Kaiser em um compromisso britânico de neutralidade em qualquer guerra em que a Alemanha se envolvesse, mesmo que fosse o agressor, levou a um impasse. Os britânicos viam isso como uma condição inaceitável, pois isso implicava apoio a um possível ataque preventivo alemão contra a Rússia ou a França. Consequentemente, as negociações fracassaram, o projeto da Marinha Alemã avançou, e Haldane retornou a Londres sem um acordo.

O Kaiser falhou em compreender que a Grã-Bretanha estava apenas disposta a oferecer um apoio tácito, que era essencialmente o que a Alemanha precisava. A resposta do Kaiser foi de indignação, interpretando a relutância britânica como um insulto à Alemanha e ao seu imperador. Ele permaneceu convencido de que poderia coagir a Grã-Bretanha a uma aliança formal, subestimando a resolução britânica e mal-interpretando sua postura de política externa.

Essa abordagem apenas aumentou as suspeitas britânicas. A expansão naval da Alemanha e sua postura agressiva durante a Guerra dos Bôeres levaram a Grã-Bretanha a reavaliar suas prioridades de política externa. Historicamente, a Grã-Bretanha via a França como a principal ameaça ao equilíbrio europeu e a Rússia como o perigo principal para seu império. Mas com a aliança japonesa assegurada, a Grã-Bretanha começou a realinhar sua política externa, levando à Entente Cordiale com a França em 1904 e subsequentes discussões com a Rússia.

A Entente Cordiale, embora tecnicamente um acordo colonial, efetivamente significava que a Grã-Bretanha estava se juntando a uma das alianças opostas na Europa, desviando-se de sua posição tradicional como equilibradora. Um representante francês assegurou à Grã-Bretanha que a França poderia influenciar a Rússia, mitigando as preocupações britânicas sobre a agressão russa.

A resposta da Alemanha a essa mudança de alianças foi desafiar a Entente Cordiale, notavelmente no Marrocos, onde as ambições francesas conflitavam com um tratado garantindo a independência marroquina. O Kaiser fez uma declaração ousada em Tânger em 1905, afirmando o compromisso da Alemanha com a independência do Marrocos, na esperança de dividir a Entente. Esse movimento teve o efeito contrário, pois a Grã-Bretanha apoiou fortemente a França, e as suposições da Alemanha sobre o apoio potencial de outras nações se mostraram incorretas.

A crise do Marrocos terminou em uma derrota diplomática para a Alemanha na Conferência de Algeciras em 1906. Os Estados Unidos, Itália, Rússia e Grã-Bretanha se recusaram a apoiar a Alemanha, e em vez de enfraquecer a Entente Cordiale, a crise fortaleceu a cooperação militar franco-britânica e levou à Entente Anglo-Russa de 1907.

Após Algeciras, a Grã-Bretanha começou a cooperação militar com a França, uma mudança significativa de sua política de longa data de evitar envolvimentos militares com potências continentais. Todavia, o gabinete britânico foi cauteloso, mantendo que essas consultas não comprometiam a Grã-Bretanha a uma ação militar. A França aceitou essa ambiguidade, apostando na obrigação moral que ela criava.

Até 1907, a paisagem diplomática europeia havia se polarizado em dois campos: a Tríplice Entente da Grã-Bretanha, França e Rússia, e a aliança entre Alemanha e Áustria. Essa mudança marcou o isolamento diplomático completo da Alemanha. O acordo anglo-russo de 1907, inicialmente um acordo colonial, resolveu disputas coloniais de longa data entre a Grã-Bretanha e a Rússia, indicando a crescente preocupação britânica com a Alemanha.

Sir Eyre Crowe, um analista do Ministério das Relações Exteriores britânico, delineou as razões para se opor a um entendimento com a Alemanha no Memorando Crowe de 1907. Ele argumentou que a busca da Alemanha pela supremacia marítima e sua política externa imprevisível representavam uma ameaça à estabilidade global. A análise de Crowe sugeriu que o crescente poder e aspirações da Alemanha a tornavam uma ameaça formidável, independentemente de suas intenções. Essa perspectiva solidificou a posição britânica contra uma maior expansão alemã, marcando uma mudança definitiva em sua política externa e aprofundando ainda mais a divisão que levou à Primeira Guerra Mundial.

Em 1909, o Secretário das Relações Exteriores Grey rejeitou uma proposta alemã para desacelerar seu aumento naval em troca da neutralidade britânica em uma guerra potencial alemã contra a França e a Rússia. Grey viu isso como uma manobra para estabelecer a hegemonia alemã na Europa, ameaçando a segurança britânica. Esse acontecimento ressaltava o compromisso da Grã-Bretanha em se opor a qualquer aumento adicional do poder alemão, marcando uma mudança definitiva em sua política externa e aprofundando ainda mais a divisão que conduziu à Primeira Guerra Mundial.

Após a formação da Tríplice Entente, as manobras diplomáticas entre a Alemanha e a Grã-Bretanha escalaram para um conflito mais sério e perigoso. Isso foi uma luta entre uma potência buscando manter o status quo (Grã-Bretanha) e outra exigindo mudanças no equilíbrio existente (Alemanha). A flexibilidade diplomática não era mais uma opção viável, restando apenas o aumento de armamentos ou a guerra como meios para alterar o equilíbrio de poder.

As alianças, agora profundamente enraizadas em desconfiança mútua, estavam mais focadas em manter sua unidade do que evitar conflitos. Nesse ambiente tenso, a guerra parecia cada vez mais inevitável, mesmo que poucas questões reais justificassem um passo tão drástico. Uma abordagem mais contida poderia ter atrasado a guerra e levado à dissolução dessas alianças artificiais, particularmente porque a Tríplice Entente foi formada principalmente por medo da Alemanha.

No início do século XX, as potências europeias haviam formado coalizões rígidas, montadas de maneira descuidada e desconsiderando as consequências potenciais. A Rússia estava atrelada a uma Sérvia cheia de facções nacionalistas e terroristas. A França havia dado carta branca à Rússia, e a Alemanha fez o mesmo pela Áustria, que estava tentando suprimir a agitação sérvia. Essas grandes potências haviam se tornado reféns de seus aliados balcânicos menos estáveis, exacerbando a situação e tornando a guerra mais provável.

Em 1908, a crise sobre a Bósnia-Herzegovina exemplificou os padrões recorrentes da história. Bósnia-Herzegovina, uma complexa mistura de religiões e etnias, estava sob a suserania turca e administração austríaca, mas sem soberania clara. A anexação da região pela Áustria foi mais sobre marcar pontos contra a Sérvia e a Rússia do que alcançar qualquer objetivo político real, desequilibrando a região.

Esse movimento da Áustria, respaldado pela Alemanha, alarmou a Rússia, que não tinha capacidade imediata de responder devido à sua recente derrota na Guerra Russo-Japonesa. O apoio da Alemanha à anexação austríaca e sua exigência de reconhecimento formal da Rússia e da Sérvia marcaram uma mudança significativa na política externa alemã e afastaram ainda mais a Rússia.

Em 1911, a Alemanha novamente desafiou a França sobre o Marrocos. O Kaiser enviou o navio de guerra Panther ao porto marroquino de Agadir, escalando as tensões e provocando temores de uma guerra potencial. No entanto, os objetivos da Alemanha permaneceram obscuros e mal definidos. A Grã-Bretanha, agora mais firmemente alinhada com a França, apoiou a França mais fortemente do que antes. Mesmo a Áustria, aliada da Alemanha, hesitou em apoiar uma aventura no Norte da África.

A Alemanha acabou recuando, aceitando uma troca de terras na África Central, mas esse movimento foi recebido com desapontamento nacionalista na Alemanha. As críticas se concentraram não no território ganho, mas nas ameaças reiteradas de guerra da Alemanha sem um propósito claro, que apenas serviram para aumentar os medos que originalmente levaram à formação das coalizões hostis.

Em 1912, as potências da Entente começaram conversas de Estado-maior militar, simbolizando um aprofundamento de sua cooperação militar. O Tratado Naval Anglo-Francês de 1912 exemplificou essa cooperação, com a França movendo sua frota para o Mediterrâneo e a Grã-Bretanha assumindo a responsabilidade pela costa atlântica francesa. Esse acordo seria posteriormente citado como uma obrigação moral para a Grã-Bretanha entrar na Primeira Guerra Mundial, pois a França teria deixado sua costa do Canal indefesa confiando no apoio britânico. De maneira semelhante, décadas depois, um acordo comparável entre os Estados Unidos e a Grã-Bretanha em 1940 implicaria uma obrigação moral dos EUA de proteger os territórios asiáticos britânicos contra o Japão.

Em 1913, a liderança alemã alienou ainda mais a Rússia com a decisão de reorganizar o exército turco e nomear um general alemão para comandar em Constantinopla. O gesto dramático do Kaiser Guilherme II, na esperança de ver bandeiras alemãs sobre o Bósforo, irritou profundamente a Rússia. Por um século, a Europa havia negado à Rússia o controle dos Estreitos, e a ideia de outra Grande Potência, particularmente a Alemanha, dominando essa região crítica, era inaceitável para a Rússia. O Ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Sazonov, expressou preocupação de que tal movimento impactaria significativamente o desenvolvimento econômico da Rússia no sul.

Embora a Alemanha tenha eventualmente removido o comandante alemão de Constantinopla, o dano já estava feito. A Rússia viu o apoio da Alemanha à Áustria sobre a Bósnia-Herzegovina e agora suas ações em Constantinopla como claros indicativos da política externa agressiva da Alemanha. As próprias palavras do Kaiser confirmaram a deterioração das relações russo-prussianas, preparando o terreno para a Primeira Guerra Mundial.

A ordem internacional antes da Primeira Guerra Mundial era altamente volátil, ao contrário do período posterior da Guerra Fria. Cada membro das principais alianças podia iniciar uma guerra ou pressionar aliados a se juntarem a ela, criando uma dinâmica perigosa. Houve tentativas de conter membros da aliança, mas essas foram cada vez menos bem-sucedidas. Por exemplo, durante a crise da Bósnia de 1908, a França deixou claro que não iria à guerra por uma questão dos Balcãs, e restrições semelhantes foram exercidas em outras crises. Contudo, até a Conferência de Londres de 1913, a eficácia de tais restrições havia diminuído.

Cada grande potência temia parecer fraca e perder o apoio de seus aliados, levando a riscos acentuados e decisões irracionais. O princípio de Richelieu de combinar meios com fins era frequentemente ignorado. A Alemanha estava pronta para arriscar uma guerra mundial por questões nas quais tinha pouco interesse nacional, e a Rússia estava preparada para se envolver em um grande conflito para apoiar a Sérvia. Não havia um conflito direto maior entre a Alemanha e a Rússia; sua confrontação era essencialmente uma batalha por procuração.

O escalonamento de compromissos entre as alianças era evidente. O Presidente francês Raymond Poincaré assegurou à Rússia o apoio da França em caso de guerra, alinhando os interesses franceses com o equilíbrio europeu. Da mesma forma, as preocupações britânicas em manter seu ato de equilíbrio diplomático e os medos de perder o apoio russo se tornaram aparentes. O Kaiser, em uma tentativa de assegurar à Áustria o apoio da Alemanha, prometeu seguir a Áustria em guerra se necessário.

As alianças, inicialmente formadas para aumentar a força em caso de guerra, agora estavam impulsionando as nações para o conflito para preservar as próprias alianças. Os líderes desses países pareciam inconscientes do potencial destrutivo que suas políticas poderiam desencadear. Eles esperavam um conflito rápido e decisivo, sem perceber que seu fracasso em alinhar alianças com objetivos políticos racionais levaria a consequências catastróficas. As Grandes Potências haviam, involuntariamente, criado uma máquina diplomática do juízo final, preparando o cenário para uma guerra que devastaria a civilização que conheciam.


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