O século XIX na Europa foi uma era de transformações significativas, marcada por uma série de revoluções que remodelaram a paisagem política e social do continente. Embora a Revolução Francesa e a Era Napoleônica tenham sido ultimamente derrotadas, o liberalismo por elas defendido persistiu e representou um desafio formidável à ordem autocrática do Concerto Europeu.
Na década de 1820, movimentos sociais já haviam trazido mudanças para Espanha, Portugal e Grécia. Durante a década de 1830, a Europa experimentou uma profunda crise socioeconômica enquanto a sociedade mudava rapidamente. Esse contexto preparou o cenário para uma nova onda de sentimento revolucionário, provocando levantes populares em todo o continente.
Estas foram as principais revoluções da década:
Revolução de Julho na França
Na França, houve um movimento contra as políticas absolutistas do rei Carlos X, membro da dinastia Bourbon. A burguesia, que havia ganho poder econômico significativo, procurou afirmar sua influência política e se opôs às tentativas do monarca de fortalecer sua própria autoridade. Essa tensão culminou em julho de 1830, no que ficou conhecido como os Três Dias Gloriosos.
A revolução foi deliberadamente limitada a três dias pela burguesia. Foi uma decisão estratégica, com a intenção de impedir que o levante se transformasse em transformações sociais mais amplas que pudessem ameaçar seus próprios interesses econômicos. Eles buscavam uma mudança política que estabelecesse um sistema mais favorável aos seus interesses, em vez de uma reestruturação radical da sociedade.
A consequência imediata disso foi a queda de Carlos X. Em seu lugar, foi estabelecida uma monarquia constitucional sob o rei Luís Filipe, frequentemente referido como “o rei burguês”. Ele reinou com poderes limitados e reconheceu o papel da burguesia na governança.
De acordo com Eric Hobsbawm, a Revolução de Julho decepcionou muitos radicais europeus. Ao contrário das expectativas de que a França emergiria como um “libertador” no cenário internacional, o país não vivenciou mudanças sociais abrangentes nem inspirou movimentos semelhantes em todo o continente. Em vez disso, insurgências revolucionárias começaram a surgir espontaneamente em diferentes países. Esta mudança representou uma descentralização do fervor revolucionário da França para várias nações europeias, cada uma com seus próprios contextos e objetivos únicos.
Revolução Belga
De 1830 a 1831, as províncias do sul do Reino Unido dos Países Baixos se revoltaram contra o governo central. Suas ações acabariam levando à sua secessão do país e à formação de um novo Estado, o Reino da Bélgica. As sementes da independência belga foram plantadas nas diferenças inerentes entre belgas e holandeses:
- Diferenças religiosas: As províncias do sul, predominantemente católicas, contrastavam com a maioria dos protestantes no resto dos Países Baixos.
- Diferenças econômicas: A Bélgica, com seu setor industrial em expansão, favorecia políticas protecionistas que protegessem suas indústrias nascentes da concorrência estrangeira. Por outro lado, os holandeses, principalmente envolvidos no comércio e na agricultura, defendiam políticas econômicas liberais.
- Diferenças culturais e linguísticas: A Bélgica tinha um crescente senso de identidade nacional. A língua também era uma barreira, pois os belgas falavam principalmente francês e alemão, enquanto os holandeses falavam holandês.
Em agosto de 1830, a Bélgica declarou sua independência como resposta à percebida tirania do rei holandês. Em dezembro do mesmo ano, as grandes potências da Europa se reuniram na Conferência de Londres e expressaram simpatia pela revolução. Áustria, Grã-Bretanha, França, Prússia e Rússia reconheceram a independência da Bélgica e sua formação como uma monarquia constitucional neutra. Todavia, os Países Baixos rejeitaram este acordo e tentaram reunificar o país à força em 1831 — falhando devido a uma intervenção francesa.
Apenas em 1839, após pressão diplomática sustentada pelo Concerto Europeu, os holandeses reconheceriam a independência da Bélgica.
Revoltas fracassadas na década de 1830
A onda revolucionária da década de 1830 foi bem-sucedida em trazer governantes moderados ao poder apenas nas partes ocidentais da Europa. Enquanto isso, nos países localizados mais a leste, todos os movimentos sociais foram suprimidos.
- Na Península Italiana, os austríacos intervieram em favor dos governos depostos e rapidamente os reinstalaram.
- Na atual Alemanha, pequenos reinos e ducados foram forçados a promulgar constituições, mas tanto a Áustria quanto a Prússia foram poupadas desse destino, pois suas populações viviam sob o constante medo da repressão.
- Além disso, os poloneses tentaram libertar-se dos russos, mas acharam impossível, pois Inglaterra e França não lhes deram suporte.
Conclusão
As revoluções da década de 1830 trouxeram a burguesia ao poder, mas, mesmo onde isso aconteceu, um sinal de fracasso foi o fato de que certas tendências autoritárias persistiram. Como disse Eric Hobsbawm, “após um curto intervalo de tolerância e entusiasmo, os liberais tendiam a moderar seu entusiasmo por mais reformas e a suprimir a esquerda radical, e especialmente os revolucionários da classe trabalhadora”. Exemplos disso incluíram a prisão de trabalhadores agrícolas na Inglaterra (os Mártires de Tolpuddle) e a violência política contra republicanos na França.
A década de 1830 vivenciou a segunda onda revolucionária após a queda da França Napoleônica, e essa atmosfera subversiva seria novamente encontrada durante as Revoluções de 1848, ajudando a relegar o absolutismo ao esquecimento da história.
Confira um resumo das revoluções das décadas de 1820, 1830 e 1848 no nosso artigo dedicado a elas.
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