Revoluções Liberais na Europa do século XIX: Resumo

"A Liberdade Guiando o Povo", uma pintura de Eugène Delacroix que retrata a Revolução de Julho na França, 1830.
“A Liberdade Guiando o Povo”, uma pintura de Eugène Delacroix que retrata a Revolução de Julho na França, 1830. Imagem de domínio público.

O século XIX na Europa foi uma era de transformação significativa, marcada por uma série de revoluções que remodelaram a paisagem política e social do continente. Embora a Revolução Francesa e a Era Napoleônica tenham sido finalmente derrotadas, o liberalismo por elas defendido perdurou e representou um desafio formidável à ordem autocrática do Concerto Europeu.

Na década de 1820 e na década de 1830, várias populações se levantaram em revolta, uma após a outra, lutando pelo constitucionalismo, pelo republicanismo ou pela independência. Finalmente, em 1848, europeus de diferentes países se rebelaram simultaneamente, no que veio a ser conhecido como a Primavera dos Povos. Cada uma dessas revoluções teve graus variados de sucesso, mas elas desempenharam um papel inegável no enfraquecimento das fundações da Europa restaurada e na promoção do pensamento liberal.

Revoluções da Década de 1820

  • Triênio Liberal na Espanha (1820-1823): Foi uma tentativa de forçar o Rei Fernando VII a reinstalar a Constituição de Cádiz (também chamada de La Pepa), que havia sido redigida em 1812 sob termos liberais. No entanto, tropas francesas intervieram e reinstalaram o monarca com poderes absolutistas.
  • Revolução Liberal de 1820 em Portugal: Foi uma rebelião de portugueses contra a ausência da família real (que havia se mudado para o Brasil em 1807, fugindo das tropas napoleônicas) e a influência britânica nos assuntos do país. Eles exigiram o retorno imediato do Rei João VI, a adoção de uma constituição e a recolonização do Brasil. O monarca retornou, mas uma guerra civil se seguiu sobre a adoção da constituição, e o Brasil afirmou sua independência como um novo país soberano.
  • Guerra da Independência da Grécia (1821-1829): Foi a separação da Grécia do Império Otomano. Graças ao Filhelenismo, uma admiração generalizada pela cultura grega, este movimento obteve um apoio internacional significativo. A Rússia interveio a favor dos gregos, desejando garantir acesso a portos de águas quentes no Mediterrâneo. Contudo, em 1832, a Grã-Bretanha também interveio para assegurar a independência da Grécia, frustrando as ambições russas.

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Revoluções da Década de 1830

  • Revolução de Julho na França: Foi uma revolta contra o absolutismo do Rei Carlos X. Ele foi removido do poder à força pela burguesia nos Três Gloriosos Dias — uma intervenção rápida para impedir que as massas tomassem o poder. Seu substituto foi o Rei Luís Filipe (“o rei burguês”), que governou sob uma constituição que limitava seus poderes.
  • Revolução Belga (1830-1831): Foi o movimento pela independência da Bélgica dos Países Baixos. Os belgas tinham uma herança germânica que contrastava com a cultura e ideologia dos holandeses, e queriam ter um país próprio. Eles declararam independência em 1830, mas os Países Baixos só a reconheceram em 1839.
  • Revoltas fracassadas na década de 1830: Na Península Italiana, na atual Alemanha e na Polônia, as revoluções da década de 1830 falharam, seja por repressão interna ou por intervenção estrangeira.

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Revoluções de 1848: A Primavera dos Povos

Em 1848, populações europeias se levantaram em revolta simultaneamente, em vários lugares, de maneira descentralizada. Por isso, as rebeliões que ocorreram naquele ano ficaram conhecidas como a Primavera dos Povos.

  • Revolução de Fevereiro na França: Os franceses estavam insatisfeitos com o governo do Rei Luís Filipe, marcado por uma crise econômica e pela reduzida participação política das massas. Assim, decidiram depor o monarca e instalar a Segunda República Francesa. O sobrinho de Napoleão Bonaparte, Louis-Napoleon, candidatou-se a presidente e, mais tarde, realizou um autogolpe para permanecer no poder. Em 1852, ele se proclamou Napoleão III, Imperador dos Franceses, encerrando o experimento republicano.
  • Parlamento de Frankfurt na Confederação Alemã: Liberais alemães convocaram um parlamento para todo o país, com o objetivo de unificar as várias políticas que compunham a Confederação Alemã. Eles decidiram oferecer a coroa alemã (sem a Áustria) ao Rei da Prússia, mas ele rejeitou a proposta. Após isso, o Parlamento de Frankfurt se desfez.
  • Levantamentos no Império Austro-Húngaro: Áustria e Hungria faziam parte do mesmo império, governado pela dinastia Habsburgo. Na Áustria, as forças revolucionárias inicialmente conseguiram derrubar os conservadores, mas foram derrotadas mais tarde. Na Hungria, Lajos Kossuth tentou libertar o país da interferência austríaca, mas ele e seus seguidores independentistas também foram derrotados.
  • Guerra do Sonderbund na Suíça: Os cantões católicos (estados) da Confederação Suíça tentaram assegurar sua autonomia em um cenário antirreligioso. Entretanto, a maioria dos cantões protestantes lançou uma guerra civil e acabou prevalecendo. A Suíça tornou-se um Estado federativo, com menos autonomia para seus estados, e os jesuítas foram expulsos do país.
  • Reforma Constitucional nos Países Baixos: Vendo os tumultos que outros países estavam enfrentando, o rei Guilherme II dos Países Baixos decidiu reformar o país para evitar ser forçado a fazê-lo. De forma pacífica, os Países Baixos aprovaram uma reforma constitucional que reduziu os poderes do monarca e aumentou os do povo e de outras autoridades.

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Conclusão

As revoluções das décadas de 1820, 1830 e 1848 desafiaram o cerne da ordem internacional estabelecida no Congresso de Viena. Em vários países, os revolucionários subiram ao poder e promoveram mudanças consideráveis — notadamente, reformas políticas e a expansão dos direitos civis. Em outros casos, forças conservadoras conseguiram impedir o sucesso de certas revoltas, mas foi raro ver o triunfo total do absolutismo. A partir de então, os países europeus começariam a transição cada vez mais na direção de regimes republicanos ou democráticos, provando a relevância dos ideais defendidos pela Revolução Francesa.


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